Capítulo 38

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    Heloise abre os olhos lentamente. Seu corpo estava imóvel, esticado. Ela sente com seus dedos que está sobre grama, então estica seu pescoço e se vê em um imenso jardim. Nunca esteve ali antes, concluiu. Em um movimento, Heloise se apoia nos braços para enfim se levantar.

Como fora parar naquele lugar?, pensou ela um tanto perdida. Seus olhos rodavam ao redor do jardim tão verde, de árvores frutíferas, flores coloridas e logo acima um céu cheio de nuvens. Tudo parecia puro. Estava no paraíso?

Heloise começa a dar passos vacilantes, na tentativa de encontrar alguém ou entender o que estava acontecendo. E é aí que subitamente uma luz, muito forte aliás, inundou o jardim logo a frente dela, que bloqueia o clarão com a mão a frente dos olhos.

A intensidade vai diminuindo e Heloise espreme os olhos enquanto retira a mão da frente do rosto. Sua boca fica entreaberta e a garganta seca. Diante dela estava Margot, em um vestido branco delicado parecido com o que a própria Heloise estava a usar.

Ela não se limitou a ficar no mesmo lugar, então partiu de encontro a mãe para receber um abraço. E foi o que houve. Margot recebeu o abraço da filha carinhosamente e acariciou sua cabeça sentindo-a. Heloise sente o ganido vindo do fundo de si e nota que estava chorando.

  — Você está bem. Eu sabia que nada tinha acontecido. — ela solta com a voz embargada.

Heloise continua abraçando a mãe bem forte, afundada em seu peito, deixando as lágrimas cairem. Fora tudo um pesadelo, afinal. Margot estava viva, nada havia acontecido de ruim a ela.

Parecia tudo tão real. A ambulância, os paramédicos, os policiais, sua mãe na sala de sua casa inconsciente recebendo os primeiros socorros, Colin e ela no hospital. E o médico. A notícia. Heloise se vira para encarar a mãe repentinamente.

  — Mãe, o que houve? — pergunta. Ela parecia um tanto perturbada e segurava os braços de Margot freneticamente. — Como viemos parar aqui? O que estamos fazendo aqui?

Margot sorri. Passa as mãos pelo rosto de Heloise, parecia tão leve, tão serena, tão viva e liberta. Ao olhá-la nos olhos, Heloise sentiu a calma da mãe e relaxou. A paz inundou-a, e Margot levou-a para se sentarem, logo abaixo de uma das imensas árvores que disponibilizava uma refrescante sombra, em um banco que ela não fazia ideia de como tivesse parado ali.

  — O que tá acontecendo? — pergunta Heloise ainda com as mãos protegidas pelas de Margot. — Por que estamos aqui?

  — Filha, eu precisava ter minha última conversa com você... — Margot enfim diz, provocando em Heloise a pior sensação do mundo.

  — Não... C-como as-assim? — ela solta entre gaguejos. A certa paz que inundou-a, esvaia-se aos poucos, sentindo em seu peito o então buraco se abrir. Se aquela fosse a última conversa com a mãe, então Margot... — Não, não, não. Não é verdade. Mãe... não!

Margot não consegue conter Heloise, que debruça-se sobre o colo dela e chora como uma criança. Logo os soluços desesperados e intensos surgem entre o tão vasto silêncio que se forma no esplendoroso jardim que mãe e filha estavam.

  — Não mãe. — ela berra ainda com a voz muito embargada. As lágrimas se tornaram incontroláveis agora. — Por que?

  — Heloise...

  — Eu te amo tanto mãe, e... e... — Heloise ergue o rosto a fim de encarar Margot, com os olhos vermelhos e marejados. — É a coisa mais importante para mim. Eu te amo tanto... Não entendo. Por que?

Tudo que Heloise podia ter feito com a mãe passa pela sua cabeça agora. Sabe-se que em determinado momento da vida de qualquer pessoa, tem-se de perder algo ou alguém que o amor é tão incondicional. É inevitável. Ela sabia que deixou de aproveitar momentos marcantes com a mãe, até vê-la incosciente em sua casa com uma bala alojada no peito. Ao lado do coração. Talvez Margot já estivesse morta naquele momento, mas algo a manteve viva para enfim lembrar-se uma última vez daquela que foi sua única razão de viver tanto.
Heloise.

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