Capítulo 8

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   O bar onde Heloise fora com Ed e Broo, era bem longe do seu bairro. Tiveram de dar quase uma volta na cidade para chegar, e quando finalmente chegaram no estabelecimento não havia lugares disponíveis.

A única opção dos três foram se sentar no balcão, que era atendido por um barman gato. Ele era loiro, musculoso e bem bonito. Heloise o encara por alguns instantes mas ele estava ocupado demais atendendo aos pedidos de outras pessoas.

O local era agradável para um bar. Heloise vira que havia uma porta onde parecia dar a uma espécie de boate. Os refletores coloridos e muita fumaça saia de lá quando alguém abria a porta. Ela imagina como poderia estar lá dentro, e estremece. Se sentiria como uma sardinha na lata entrando ali.

Ed segue o olhar dela.

  — Gostou? — pergunta. Heloise levanta as sobrancelhas. — Do bar. Gostou do bar?

Ela dá de ombros. Na verdade não tinha como não gostar. Parecia que aquele lugar era muito bem frequentado. Heloise vira várias pessoas da San Geiger, especialmente da Imperal, que era a faculdade concorrente da San Geiger. Os alunos da Imperial eram mais pretensiosos e sempre queriam se sobressair a frente da faculdade de Heloise. Não conhecia ninguém que frequentava aquela faculdade.

  — Querem beber alguma coisa? — Ed pergunta a Broo e Heloise.

  — Será que não há nada para comer? — Heloise pergunta, fazendo Broo arquear uma sobrancelha. — O que é?

Brooke parecia estar de mal humor naquela noite. Quando estavam no caminho para chegar ao bar, ela nem falara, de cara fechada o tempo todo. Parecia ter acontecido algo a ela antes de passarem na casa de Heloise.

  — Prefiro comer. — Heloise decidi. — Não quero beber nada.

Ed concorda. Broo revira os olhos. Então ela chama a atenção do barman e ele se aproxima com um pano no ombro e um copo na mão.

  — O que vão querer? — pergunta.

  — Tem como preparar algo para aquela criança ali comer e trazer dois martini com dose extra de vodca? — Broo solta. Heloise contorce seu rosto numa careta, enquanto o barman bonitão esconde um riso.

Ed e Heloise levantam as sobrancelhas para Broo que ignora os dois.

  — O que foi?

  — Acabou de me chamar de criança? — Heloise solta. — Na frente daquele cara?

  — Martini com dose extra de vodca? — Ed pergunta ao mesmo tempo que Heloise. — Tá maluca?

Brooke dá de ombros. Seu humor estava semelhante aos demônios. Como Heloise gostaria de pegar a cara dela e desferir alguns tapas para que deixasse de tanto rancor. Mas apenas desviou os olhos dela e encarou suas unhas.

Depois de tempos os pedidos chegam e Heloise recebe um lanche que não reconhecera, pois era enorme. Parecia haver muitas calorias ali, mas mesmo assim ela abocanha o pão com gergelim com seus ingredientes diversos. E estava delicioso.

Broo agarra sua taça de martini e bebe em um gole. Heloise ainda comendo arregala seus olhos. Ed encosta sua boca na taça e beberica um pouco, terminando por fazer uma careta. Parecia não gostar muito de bebidas alcoólicas, mas Brooke o intimidava.

Enquanto mais pessoas iam chegando, diversas iam saindo da área interna da boate do bar. Algumas passavam por Heloise com um cheiro perceptível de cigarro. Sabe-se lá que tipo de cigarro. Ela acaba seu lanche e entrega uma nota para o barman, agradecendo-o. Finalmente o fizera olhar para ela, com límpidos olhos azuis.

Ed ainda bebericava seu drink, e Brooke o encarava um tanto incomodada.

  — Nathaniel é sério isso? — ela pergunta. — Bebe de uma vez logo.

  — Eu não pedi algo tão forte assim. — diz ele na defensiva.

  — Que seja! — Broo solta.

Heloise desvia os olhos deles. Não podia acreditar que iriam iniciar uma discussão. Broo e Ed pareciam brigar muito por causa disso, porque ela parecia querer estar em todos os lugares e se divertir, enquanto ele preferia mesmo era ficar em um lugar mais calmo. Só que sempre a acompanhava, Ed parecia gostar muito de Broo. Mais do que ela a ele.

Heloise pega seu celular e confere as horas. Não eram nem nove horas direito e lá estava, sentada em um bar com os amigos, que pareciam estar entrando em uma dessas DRs e lembrando a si mesma de que iriam embora no máximo às dez, segundo Margot. Logicamente não estava falando sério, mas não iria testar a mãe.

Broo pede mais uma bebida com mais dose extra e Ed tenta impedi-la, mas acaba desistindo. Heloise apenas sorri para ele quando seus olhares se encontram.

   — Quer saber, vou dançar. — Ed solta.

Broo o agarra pelo braço.

  — Também quero ir.

  — Vão me deixar aqui? — Heloise arregala os olhos. — Sozinha?

  — É só por alguns minutinhos. — Ed a tranquiliza.

  — Mas... — Heloise solta mas Broo já havia arrastado Ed em direção a porta de onde se transformara uma boate.

Heloise fica incrédula. Estava em um bar que nem conhecia, do outro lado da cidade, com algumas pessoas um pouco mal encaradas, e seus amigos que a arrastaram ali, deixaram-na sozinha.

Que ironia para ela. Isso a fez voltar no ensino fundamental, quando seus antigos amigos saíam com ela mas sumiam em pares a deixando chupando o dedo. Mas ela poderia ir até lá em Ed e Broo, só que detestava imaginar o abafo que lá estava.

Heloise suspira. Ela roda o olhar sobre o ambiente e vê em algumas mesas rostos conhecidos da San Geiger. Inclusive avista um garoto da sua antiga escola, no ensino médio, o Dilan. Ele era esguio, usava óculos, aparelho e era pálido. Por incrível que poderia parecer, era ainda mais velho que Heloise.

Com a cabeça baixa no balcão Heloise suspira. Nem mesmo o barman notara ela quando seus amigos sairam de perto. Com certeza o comentário infeliz de Brooke não ajudara nada em relação à ele.

Então surpreendentemente para Heloise, o atendente gato se aproxima dela.

  — Quer alguma outra coisa para comer? — ele pergunta.

  — N-não. — Heloise gagueja. — Só estou esperando meus amigos.

  — Onde eles foram?

  — Dançar. — ela suspira.

  — E por que está aqui enquanto eles se divertem garota? — seu tom sai indignado.

Heloise dá de ombros. Na verdade não sabia a resposta para aquela pergunta muito instigante.

  — Talvez eu vá embora. — ela enfim diz. E não era verdade. Não poderia ir embora sem Brooke e Nathaniel.

Ele sorri. Heloise se derrete pelo quanto ele faz aquilo tão naturalmente. Então ela nota algo diferente quando ele se afasta. Então se vê decepcionada.

No avental dele estava escrito "Sou gay, e daí?", e com certeza não era blefe, porque um cara se aproxima dele e suas mãos se tocam carinhosamente. Heloise suspira mais uma vez. E agaradece ao destino baixinho, ironicamente.

   — Oi. — alguém diz para Heloise.

Ela conhecia aquela voz.

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