Capítulo 5

514 38 4
                                    

   Após o verão acabar, Heloise ainda tinha mais dois dias para respirar despreocupada, antes de se ver dentro da faculdade San Geiger. Suas grades curriculares foram entregues pelo correio, assim como os materiais que precisava.

Sabia que não teria muitas aulas lá, somente três aulas na semana e pelo menos em uma ou duas vezes ao mês no sábado ou domingo estariam, como constava em um dos seus horários que pegara para analisar, na...

Heloise quase cuspira sua limonada ao ler.

Sublinhado por uma caneta vermelha estava as siglas I.C.C., que como todos sabiam era as inicias para Indústrias Cosmo Campbell, que por ironia ela odiava e onde por ventura a mãe dela trabalhava. Acompanhado de um pequeno asterisco continha a seguinte informação.

   *Uma ou duas vezes no mês aproveitaremos os recursos de uma das maiores empresas com publicidade e propaganda de nossa cidade, a fim de aprendermos a estabelecer nossa visão e expandirmos nossa criatividade e conhecimento.

Logo abaixo uma observação, que dizia que aquela experiência seria mantida apenas por cinco ou seis meses no máximo. Não agradara Heloise, e não poderia ir questionar isso só por ter cisma com o homem. Ao menos a mãe estaria lá enquanto faziam o tour pela empresa, já arquitetara um plano de fuga para debaixo da asa de Margot caso Campbell surtasse como fazia com frequência nos últimos meses.

Há quatro meses atrás a senhora Campbell, Catherine, que por coincidência também tinha a inicial do nome C, morrera misteriosamente assassinada. Dizem que ela reagira a um assalto e por isso levou um tiro bem em cima do coração, mas essa suposição não fora confirmada pois sua bolsa estava no local com cerca de cinco mil dólares dentro. Cosmo Campbell se encontrou fora de si, desesperado ao saber da morte da sua mulher, gritara com os policiais e ainda acusou um de seus ex-funcionários que tinha sido demitido e ao sair da empresa, ameaçou a família de Campbell.

Cosmo jurara diante rede nacional que, iria atrás do infeliz que matara sua doce esposa e que não sossegarei enquanto a justiça não fosse feita. Isso ainda não acontecera, mas os ataques dele ainda continuam. Ele costuma chorar muito na frente de alguns funcionários e gritar palavras incompreensíveis, mas esse ocorrido da morte de Catherine, não o impede de ser um fanfarrão. Pelo contrário, ele continua o mesmo imbecil, só que fragilizado.

Outra coisa surpreendente em relação à família Campbell é que, há um herdeiro Campbell. Filho de Cosmo e Catherine. Heloise quase caira para trás ao saber disso, que como disse sua mãe, ele fora mandado para morar em outro país com os avós enquanto estudava. Mas com o falecimento da mãe, estava na cidade e Cosmo não o queria longe, o herdeiro do empresário iria ficar na cidade e, aparentemente, seguir os passos do pai. Ótimo, pensara Heloise, mais um babaca pra gente suportar.

Decidiu por não querer contato algum com esse garoto, que torcia secretamente para ser feio, magricela e cheio de acne.

   ~♡~

Heloise já frequentava a faculdade nas primeiras duas semanas desde que iniciara as aulas na San Geiger. Era levada pela mãe em seu Nissan, nas manhãs de segunda, quarta e sexta-feira. Tentara reconhecer alguém da sua antiga escola, mas só encontrara um garoto CDF que ela nem ao menos conversava, chamado Dilan. Ele parecia estar em tecnologia avançada.

Na Academia San Geiger existia um imenso prédio que continha várias aulas aleatórias. Ou seja, vários cursos além de publicidade, onde Heloise estava. Mas, por ser particular, a San Geiger não era como um formigueiro, era tranquilo em número de pessoas. E quando Heloise achara que não podia se surpreender, se enganou ao entrar no refeitório. Seu espaço era gigantesco, com um cordão que organizava a fila e a frente todos os recipientes com diversos tipos de comida, dentre saudáveis e as mais gordurosas.

E foi no refeitório que ela passou por uma situação bastante familiar.

Era sexta-feira, Heloise tinha acabado de sair da aula do seu professor Gordon, que tinha passado um relatório manuscrito para a próxima semana, onde ela já tinha começado e estava na segunda de seis páginas. Heloise foi para o refeitório almoçar antes de ir para casa, e se enfiou na fila.

Quando chegara sua vez de escolher algo para comer, pediu a serviçal uma porção de batata doce frita, com salada e um pedaço de torta de maçã. Saiu da fila e se acomodou em uma das mesas, vazia. Notou que tinha esquecido de algo para beber, então deixou sua bandeja na mesa e com o relatório ainda na mão, pois foi distraída sem se tocar de que estava com os papéis, e pegou um copo de suco de uva.

Ao se virar para voltar a sua mesa, Heloise mal olha para a frente e acaba esbarrando em alguém. Seu suco de uva derrama sobre todo o relatório fazendo uma enorme mancha nas folhas e em sua camiseta, que por sinal era branca. Essa situação a faz lembrar por uns míseros segundos o baile, quando o seu príncipe desconhecido esbarrara nela, derrubando licor em seu busto, lembrança que ela tentara constantemente esquecer.

Surpresa, Heloise nem ao menos levanta seu olhar para cima, ficou ali com a boca entreaberta por ver suas folhas molhadas e sua camiseta branca ficando rosa. O refeitório estava com um número significativamente grande de pessoas, e todas olhavam para ela e para um garoto que com certeza foi a parede que Heloise encontrara no caminho.

  — Isso não pode estar acontecendo. — diz Heloise acrescentando para si um, de novo. — Meus relatórios estão... arruinados. — choraminga.

Até então o garoto nem se mexe. Parece estar esperando a reação dela, de fúria e de total descontrole. Heloise enfim o encara.

  — Não olha por onde anda não? — grita.

  — Você que esbarrou em mim garota. — ele rebate. — Quem deveria olhar por onde anda era você.

Heloise fica horrorizada. Aquele cara não tinha nada de semelhante ao seu príncipe desconhecido, que lhe oferecera desculpas e um sorriso encantador, pelo contrário, este era rude, apesar da semelhança na cor dos olhos, e mal humorado.

  — E agora? O quê que eu faço com essas folhas manchadas? — ela pergunta mais para si do que para ele.

Ele lhe oferece um dar de ombros.

  — Não é problema meu. — então passa por Heloise a deixando de queixo caído e com vontade de voar na garganta daquele pavão de cara fechada.

Após alguns segundos tentando digerir aquela cena constrangedora na frente de muitos jovens com sobrancelhas arqueadas, sorrisos disfarçados e olhares interrogativos, Heloise recolhe a bandeja da mesa e sai do refeitório, não sabe nem para onde vai, mas no refeitório não queria ficar.

Então dá as costas para todos sem saber para onde iria.

Ligados Por Uma Noite Onde histórias criam vida. Descubra agora