ANO 2033

O segundo dia

O segundo dia

31-07-2033

2° Dia fora.

Haviam se passado três anos, mais de 1.250 dias em que eu sobrevivi por uma ideia do meu pai de construir um abrigo embaixo de nossa casa.

Eu conhecia meu bairro tão bem quanto a maior parte da cidade de Toronto, mas ela já não era mais a mesma. Estava abandonada, os poucos moradores dela já não eram as boas pessoas que viviam ali antes de tudo acontecer. Eram na sua maioria, criminosos e mercenários, as casas e prédios estavam todos abandonados ou destruídos pelos ventos, incêndios ou pelos próprios sobreviventes.

#

Eu estava ofegante quando cheguei a porta traseira da casa número doze da Connie St. Havia sido uma corrida de dois quilômetros pelas ruas de Yorkdale desde que eu havia avistado alguns homens em uma caminhonete preta na Bentworth Ave, e preferi correr à esperar que me alcançassem, não foi difícil avistar as armas que tinham em mãos e isso só me fez ter certeza que correr seria a melhor hipótese.

Havia feito um pequeno corte no supercilio, além de arranhões pelos braços e uma forte dor na minha perna esquerda devido minha acrobacia não planejada nos trilhos entre Bridgeland Ave e a Floral Pkwy na tentativa de fugir daqueles homens.

Quando cheguei a Connie St. eu sabia que não tinha muito tempo até encontrar um bom local para me esconder, e não demorou para perceber que eu não estava errado sobre aquilo, eu estava nos fundos da casa número doze quando ouvi o motor da caminhonete roncar pela rua a minha procura, fiquei ali ofegante por cerca de dois minutos com os ouvidos atentos ao som da caminhonete que se afastava, enquanto rezava para que ela não voltasse aquela rua. Quando o som da caminhonete sumiu no horizonte das ruas do bairro de Maple Leaf me senti seguro o suficiente para acertar o vidro da porta traseira com a coronha da minha escopeta 870 Tactical. E ao entrar em seu interior, um cheiro de podridão invadiu minhas narinas, aquela era a primeira vez que sentia o cheiro de algo se decompondo apodrecido, e deitado próximo a porta onde eu estava parado, havia o cadáver de um cachorro. Já não sobrava quase nada de carne, apenas ossos e pele, aquele não poderia ser o cachorro dos antigos donos daquele lugar, ele não havia morrido a mais que algumas semanas. Olhei para cima e uma pequena claraboia estava aberta, provavelmente por onde ele havia entrado e não conseguiu encontrar uma saída.

Era meu segundo dia fora do Bunker, no dia anterior eu havia entrado em apenas duas casas da minha rua, além de mais três na rua adjacente, no segundo dia, havia entrado em algumas casas da McAdam Ave e ia em direção as casas da Bentworth Ave quando avistei a caminhonete virando a esquina e vindo em minha direção. Foi quando comecei a correr entre as ruas e casas até os trilhos.

Tudo aquilo me colocava como um novato nessas coisas de invadir casas e andar por ruas abandonadas e fugir de pessoas armadas. Apontava a escopeta para minha frente com a mão ainda um pouco trémula, a cozinha mostrava sinais de sangue a muito seco no chão empoeirado de anos sem uso, sobre a pia da cozinha, ainda havia copos sujos e um pacote vazio de macarrão instantâneo, sobre o fogão estava apenas uma panela com algo a muito tempo apodrecido, talvez o que tivesse chamado a atenção do cachorro faminto que arriscou pular ali atrás de alimento. As portas dos armários da cozinha estavam todos abertos e nada mais havia dentro deles, apesar dos armários parecerem novos, como se tivessem sido reformados um pouco antes de tudo acontecer. A sala era ampla e me dei ao luxo de me sentar por um instante no sofá empoeirado, levei a mão à coxa dolorida e a massageei. Era uma casa térrea e sem nada que me ajudasse ali, ainda verifiquei o banheiro e os dois quartos a procura de alguma coisa que fosse útil, no fim, encontrei um frasco com alguns poucos comprimidos anti-inflamatórios já a muito vencidos, os coloquei em meu bolso e segui para a casa ao lado.