A busca

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A busca

Levei alguns segundos para encontrar o carro no estacionamento depois que sai da loja de eletrônicos. Maisie estava sentado no banco do condutor e havia manobrado o carro para uma vaga vazia entre duas SUVs. Mantinha suas mãos ao volante e seus olhos presos a porta das lojas.

- Pensei que já estivesse ido. – Comentei ao entrar e me sentar no banco do passageiro.

- Eu não tenho relógio. – Respondeu ela tentando disfarçar o fato de o relógio do painel do carro estar a funcionar.

- Obrigado por isso. – Disse a olhando nos olhos.

- Vai confiar em mim para fazer isso? – Perguntou ela.

- Você já está aí.

- O que é isso? – Perguntou Charles olhando para a caixa dos rádios comunicadores em minha mão.

- Walk-talks. – Respondi. – Sempre que nos separarmos para ver alguma coisa ou precisarmos sair do carro, poderemos nos comunicar. – Disse retirando-os de sua embalagem.

- Não o deixei ligado a menos que seja necessário. Temos apenas algumas pilhas para mantê-lo carregado e sua bateria dura poucas horas e se não conseguirmos voltar para o carro, ficamos sem comunicação.

- Tome. – Disse passando para ele a embalagem com o carregador da Apple. – Agora pode carregar o iPod quando a bateria acabar.

- Obrigado. – Respondeu ele radiante.

Logo estávamos na Dundas St novamente, Maisie guiava bem, desviando de todos os pequenos obstáculos que apareciam a nossa frente. Poucos metros à frente de onde havíamos parado, avistamos em um grande campo aberto, dois tanques Leopard 2 PSO iguais aos que havíamos avistados na Bloor a cerca de duas horas atrás, além deles, alguns carros de patrulha e um caminhão dos bombeiros estavam ali abandonados. Atrás deles, um grande galpão de concreto com cerca de quatro andares se destacava com parte da sua estrutura a desmoronar. Era um hospital de campanha, o maior da região de Toronto. Mas não o único, nem ali, nem no resto do país.

Logo após o anúncio, governos pelo mundo todo começaram a construir grandes bunker e estruturas para acomodar seus cientistas e intelectuais, assim como os homens mais ricos de seus países, aqueles que verdadeiramente haviam bancado a construção daqueles lugares. Além desses lugares, era fácil ver a noticia de hospitais sendo construídos como aquele de concreto, ou como os grandiosos hospitais chineses feitos de blocos pré-fabricados. Marrocos, África do Sul, Austrália, Brasil, França, Espanha, China, Índia. Eram apenas exemplos de países que construíram centenas de hospitais de campanha, além de outras centenas espalhadas pela região central e leste americana e canadense.

Agora, quatro anos após sua construção e seu abandono, era assustador olhar para aquela estrutura. Quantos não morreram tentando chegar ali em busca de ajuda? Quantos não morreram pelo mundo tentando chegar a hospitais como aquele?

- Preciso de um mercado. – Disse Maisie enquanto guiava.

Eu ia no banco do passageiro com o mapa em meu colo e observar tudo à nossa volta. Por algum motivo, tinha uma sensação esquisita dentro de mim desde quando trombamos com aquela mulher no Applewoods.

Queria perguntar a Maisie se ela sabia quem era Carlos que aquela mulher havia dito antes de ter seus miolos estourados sobre meu para-brisa, mas não queria deixá-la transtornada novamente com aquilo e apenas tentei me lembrar onde já havia escutado aquele nome. Não me era estranho e tinha certeza de que havia escutado ele em algum lugar. Carlos... Carlos... Carlos...

Então a lembrança da noite em que os Lobos encontraram os 3 escondidos na casa na região de North Park. Me lembrei do que aqueles dois homens haviam falado enquanto eu me mantive escondido atrás daquela cerca de madeira apodrecida na casa ao lado. Etobicoke!

ANO 2033Onde histórias criam vida. Descubra agora