O acidente
07-06-2025
— Podemos conversar sobre a mudança? — Perguntou meu pai aparecendo a porta do quarto.
Meu pai usava seu terno preto militar, sua gravata vermelha com listras pretas em diagonal havia sido meu presente para ele de dia dos pais daquele ano. Minha mãe usava um longo vestido vermelho, permanecia sentada em sua penteadeira se maquiando.
Era um processo demorado e que consistia em meu pai se sentar impaciente no sofá da sala olhando constantemente para o relógio em seu pulso enquanto eu me mantinha em meu quarto jogando em meu PlayStation 5. Mas naquele dia eu estava deitado em minha cama lendo The Shining de Stephen King pela quinta vez. Como de costume, já estava pronto aguardando minha mãe se maquiar, colocar os brincos e seu colar e por último os sapatos.
Era um jantar de aposentadoria no salão de festas da base militar Marine Barracks para comemoração da aposentadoria do Coronel Duncan. Um dos superiores do meu pai e que estava agora tendo uma aposentadoria forçada por um erro que ele havia cometido e causado a morte de três militares em uma ação clandestina para sequestrar dois membros das forças especiais da Jordânia. Não que eu soubesse de tudo isso pelas notícias, a CNN, a BBC News e todos os outros canais de TV e jornais haviam noticiado que três soltado haviam sido feridos gravemente durante treinamento de combate no deserto por fragmentos de uma explosão não planejada e que não haviam resistido aos ferimentos. Mas eu havia escutado uma conversa do meu pai a alguns dias no exato momento em que ele estava contando a minha mãe sobre a festa de aposentadoria para seu Coronel. Meu pai conhecia um dos homens que havia morrido naquela operação, o tenente Willian Truman, no dia em que contou a verdade sobre a aposentadoria de Duncan, meu pai socou a parede da cozinha, fazendo um grande buraco na parede de gesso e tapume pela revolta que sentia em ver o responsável pela morte de três homens sair como herói dos seus serviços prestados a nação. Naquele dia uma nova briga se instaurou em minha casa, mas dessa vez causada pelo buraco na cozinha.
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— Columbus, não adianta, eu não vou. — Gritou minha mãe
Não era a primeira vez que eles discutiam. Isso vinha acontecendo com uma frequência muito maior nos últimos três meses. Meu pai havia pedido dispensa do seu trabalho como analista da Força Aérea Americana, o que já deixaria minha mãe arrancando os cabelos de raiva. A três anos meu pai havia realizado seu sonho de trabalhar para NASA, mas que sem aviso, ele simplesmente havia abandonado.
Os dois haviam se conhecido em um bar próximo a Patuxent River a uma hora e meia de Washington. Ela, professora de voo do F-35, enquanto meu pai cursava seu mestrado em engenharia aeroespacial no Florida Institute of Technology. Logo depois os dois serviram na chamada Guerra ao Terror e após se casarem, meu pai foi designado a função de analista da força aérea pela sua formação e alto conhecimento geográfico e aeroespacial. Eu o admirava na minha infância quando me contava histórias sobre os planetas e suas formações, sobre as inúmeras constelações e sois pelo universo.
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— Porque não pode confiar em mim? Você acha que eu não sei o que estou fazendo? — Gritou ele.
— Parece que não. Parece que enlouqueceu. — Retrucou ela gritando de volta.
— Naomi, por favor. — Pediu ele mais uma vez. A quinta naquele mês.
Ela balançava a cabeça incrédula, meu quarto, de frente ao deles, me dava uma visão privilegiada da nova discussão, e era possível ver os dois da minha cama, o rosto abatido de meu pai ao ver que estava perdendo mais uma batalha, e o rosto serio de minha mãe em ter que insistir mais uma vez para que meu pai parasse com aquela ideia estapafúrdia de se mudar para o Canadá.

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ANO 2033
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