ANO 2033

A procura de um lugar seguro

A procura de um lugar seguro

Maisie apontou a lanterna para o grande hall de entrada daquela casa, fazendo clarear um amplo salão já bastante enlameada, muito por causa da abertura em forma de meia lua existente sobre a grande porta de aço da entrada. Além daquele buraco a três metros de altura, não havia janela direcionada para a rua, o que ajudaria a não sermos vistos por algum tempo. Todo o primeiro andar exibia uma casa muito luxuosa e poderíamos até ficar felizes pela casa não cheirar a urina, fezes e carne em decomposição.

— Posso me sentar? — Pediu Sara com o olhar exausto.

— Sim querida. — Respondeu Maisie acariciando sua bochecha. — Vá com ela Charles.

Sara caminhou até o sofá cor de mostarda e soltou a mochila do Leafs sobre ela, e Charles fez o mesmo, depositando os galões de gasolina ao lado do sofá e se sentando com Sara para descansar do percurso. Ajudei Maisie a se sentar e retirei da mochila que carregava uma garrafa de água, tomei um gole antes de lhes entregar.

O andar térreo parecia ser um espaço único e sem divisórias. A cozinha ficava ao fundo daquele andar, e apenas precisei iluminá-lo para ver suas portas bem abertas e latas vazias de cerveja e garrafões de água vazios sobre a bancada de mármore branco. A sala principal parecia ser onde estávamos e assim como o hall de entrada, também estava cheio de lama e com a luz da lanterna foi possível enxergar várias pegadas já secas que iam e vinham para todos as direções.

Saquei minha pistola, o que fez Maisie me olhar de relance, mas eu não estava afim de discutir sobre confiança naquele momento. — Charles, — Chamei. — Tour.

Ao pé da escada havia uma pequena parede, com duas pequenas portas, a primeira estava trancada pelo lado de fora, ainda com a chave presa a fechadura, e ao abrir me deparei com um corpo em avançado estado de decomposição de uma mulher de aparentemente trinta anos, estava sentada sobre o vaso do lavabo com os braços amarrados sobre a cabeça presos a um cano, tinha as roupas rasgadas, além de uma faixa amarrada a boca. E aquele cheiro de podridão que já estava feliz por não o sentir logo impregnou em nossos narizes.

— Banheiro interditado. — Sussurei.

Charles forçou um sorriso de canto de boca com o meu comentário, mas notei quando fechou a mão.

A porta seguinte, estava bem ao lado do banheiro e pensei por um segundo se a abria ou não. Mas ao abrir, nos deparamos com uma escada de madeira que levava ao porão. Apontei a lanterna para baixo, mas não parecia ser necessário me aventurar por ali, a água da chuva já havia inundado todo o porão, fazendo a água chegar aos degraus mais altos da escada.

Apontei com a cabeça o andar superior. E Charles logo entendeu e me seguiu até as escadas que levavam para cima. Dei uma olhada na direção de Maisie. Ela e Sara permaneciam sentadas no sofá cor de mostarda, Maisie acariciava os cabelos de Sara que já dormia com a cabeça apoiada em sua perna. 

As escadas flutuantes eram revestidas com cimento queimado, o que evitava que fizéssemos barulho e isso nos ajudou a chegar ao andar superior sem chamar atenção. A primeira porta dali estava aberta e exibia o quarto principal, era grande e com uma imensa cama kingsize, e apesar de estar bagunçado, ainda exibia um grosso edredom sobre o colchão. Ao lado, dois criados mudos ainda estavam com seus abajures dourados ainda bem posicionados, do lado esquerdo uns óculos de grau pousado em cima de um empoeirado "Sushi" da Marian Keyes. Os armários embutidos exibiam um número elevado de roupas elegantes, muitas já reviradas e jogadas de qualquer jeito ali pra dentro enquanto outras ainda estavam presas ao cabide juntando pó. Do lado direito da cama, uma grande caixa de sapatos estava aberta ao chão, e vários papeis estavam espalhados pelo chão enquanto muitos outros estavam ainda dentro da caixa, nada ali parecia ser relevante, quem quer que tenha mexido ali devia estar à procura de armas escondidas na casa, mas em seu lugar encontrou formulários e recibos de contas pagas.