A primeira semana
10-04-2029 a 17-04-2029
Naquele primeiro instante eu não quis descer para o bunker, não queria me confinar naquele espaço logo após o anúncio. Mantive atento a todas as novas informações que eram reportadas pelos sites de notícias e pelo Twitter. Com a cabeça recostada ao puxador da porta do banco traseiro esperei que a noite passasse, agarrado ao meu Surface Neo lia todas as novas noticias que eram postadas sobre a situação de Toronto. Ao alcance de minha mão estava minha pistola CZ 75B, enquanto ouvia repetidamente o som das sirenes dos carros de polícia a passar em alta velocidade pela Dufferin St, sirenes dos caminhões de bombeiro que pareciam ir em direção a Lawrence e das dezenas de ambulâncias que subiam e desciam a Dufferin durante toda a noite.
Assim como o som de tiros sendo disparados.
E a cada som de um novo disparo, minha respiração alterava mantendo meus olhos fechados e a mão direita agarrada a pistola. Apenas desejando que aquela noite acabasse. Eu sabia que aquilo não iria se resumir a uma noite, todo aquele caos que o mundo havia se transformado não seria resolvido em uma noite. Aquilo duraria semanas, meses e se sobrevivêssemos ao impacto, ainda assim, levaria anos para voltarmos a ser civilizados.
Mas sabia que durante a noite era o momento em que nossos demônios surgiam para nos atormentar.
Que fossem nossos demônios internos como fez o senhor Priori na segunda noite após o anúncio. O senhor Priori era um homem reservado que o máximo que os vizinhos sabiam sobre ele, era sobre sua descendência italiana e que sentia falta de sua terra, além do fato de que havia sido casado com a sua primeira namorada, uma mulher bondosa e bastante sorridente até os últimos momentos de sua vida, Claire havia morrido a menos de um ano por um câncer de mama. E naquela segunda noite quando preparou seu jantar, um Gnocchi com molho sugo, o senhor Priori vestiu seu terno, tomou seus comprimidos para pressão e se sentou a cabeceira da mesa, tendo ao seu lado apenas o porta retrato da sua falecida esposa, e ali ele tirou a própria vida com um tiro na cabeça com seu revolver.
Os demônios do senhor Priori não eram os únicos, também surgiram demônios como os de Alastor Forbes, um homem de trinta e seis anos, técnico de informática, com problemas de pele pela falta de melanina em seu corpo e problemas neurológicos pelos abusos sofridos na infância e a falta de amigos na escola que o chamava de 'esquisito' na melhor das hipóteses. Na terceira noite após o anúncio, Alastor Forbes, um homem da cidade de Milton a quarenta e cinco quilômetros de onde eu vivia, pegou seu carro, uma caminhonete da década de 70, e com ela, atropelou dezessete pessoas quando invadiu um supermercado da rede No Frills.
Aqueles que não morreram e não conseguiram fugir, foram assassinados por ele, com golpes de um machado. Alastor foi morto no estacionamento do No Frills, enquanto saia caminhando tranquilo com seu rosto e suas roupas sujas de sangue das pessoas que ele havia acabado de assassinar. Dois policiais que faziam o patrulhamento da região, ouviram quando as pessoas saíram correndo pela rua gritando que um homem estava matando pessoas ali dentro, um dos policiais atirou contra Alastor cinco vezes.
Na quinta noite de todo daquele terror, o mundo parecia estar vivendo no filme Purge, a polícia parecia que havia desistido de controlar os aqueles que estavam ali apenas para o caos. Dezenas de lojas estavam incendiadas, casas eram saqueadas e carros eram destruídos e incendiados no meio da pista enquanto as pessoas apenas assistiam, escondidas em suas casas.
Eu me mantinha toda aquela semana dentro de um saco de dormir em um dos cantos daquela garagem. Continuava a monitorar a situação dos acontecimentos na maior parte do tempo via Twitter, por onde as notícias pareciam circular com maior força do que nos telejornais.

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ANO 2033
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