A descoberta
Na primeira hora da madrugada do dia dezenove de dezembro de 2027 meu pai deu seu último suspiro.
Dramático. Mas sim, eu ouvi seu último suspiro.
Aquele foi um dia cinzento, os jornais anunciavam uma nevasca para a região de Toronto para os próximos dias. A primeira grande nevasca daquele inverno.
Eu estava ao seu lado no momento de sua morte. Sentado em uma poltrona do seu quarto no hospital.
A dias ele vinha respirando com dificuldade e com total falência dos rins. As enfermeiras, na sua maioria, evitavam o quarto dele, meu pai conseguia ser uma pessoa desagradável até mesmo nos seus últimos dias de vida, uma médica em particular insistiu para que ele aceitasse a doação voluntaria de parte do meu rim, mas ele se negava e insistia que eu deveria sair daquele hospital e me preocupar um pouco mais comigo.
Isso me irritava ao ponto de não querer de fato ali, não querer estar perto dele, mesmo sabendo que ele não teria muito mais tempo e eu era a única pessoa que o visitava. E talvez por saber disso eu me mantive ali mesmo ouvindo da boca de meu pai que ele recusava minha doação.
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O seu velório, dois dias depois, ocorreu no cemitério Mount Pleasant Cemetery, compareceram apenas três dos nossos vizinhos. Eu não esperava mesmo que viesse dezenas de pessoas, meu pai nunca foi muito aberto a amizades, tendo por vezes fechado a porta na cara de algum vizinho ou simplesmente os ignorando quando os via pela manhã. O fato de termos nos mudado para Toronto a menos de um ano também contribuiu para o número reduzido de pessoas que queriam se despedir dele.
Apenas dois americanos apareceram, usavam sobretudo preto, e óculos escuros, o que os deixavam com a aparência dos agentes secretos que vemos nos filmes de espionagem. Um deles usava um pequeno broche no peito com a insígnia da força aérea americana, trazia consigo uma coroa de flores e quando me cumprimentou o reconheci como sendo o major Irving do hospital, e disse estar trazendo aquela coroa em nome de toda a corporação.
Agradeci.
O outro homem, vestia-se igualmente com um sobretudo preto, tinha um ar mais militaresco que o primeiro, mas ao me cumprimentar, disse ter estudado com meu pai no MIT e me contou que os dois haviam decidido juntos que seguiriam carreira militar, apesar deste ter ingressado o corpo de fuzileiros navais.
Durante o velório permaneci sentado a primeira fileira de bancos da capela. Os dois homens se sentaram quatro fileiras atrás.
Era um lugar bonito e se não fosse a ocasião teria reparado um pouco mais no quanto aquele lugar era elegante, muito mais elegante do que o que realmente meu pai gostava.
O capelão, um senhor com um sorriso manso e pequenos óculos de leitura apareceu ao pôr-do-sol, de baixo do braço uma bíblia e mesmo usando roupas quentes, tinha as mãos trêmulas, talvez o início de um Parkinson.
— Meus irmãos, todos filhos do mesmo criador. Assim como Columbus. — Começou o capelão. — Estamos aqui reunidos essa tarde para homenagear e lembrar as boas memórias que temos de Columbus Holden Marshall. Um homem de Deus, um homem devoto... — Dizia ele.
Levei a mão a boca para tapar a risada que tentava segurar.
Meu pai nunca foi religioso, na verdade, detestaria saber que em seu enterro estariam dizendo aquilo dele. Mas não quis interromper as palavras daquele homem. Eu não estava realmente prestando atenção.
Logo após o início da cerimônia Brendon, Nicole e Emma. Se sentaram na fileira de bancos logo atrás de mim. Brendon foi a primeira pessoa que conheci logo que cheguei a Toronto e logo se transformou em um ótimo amigo, Nicole nutria uma paixão escondida por ele, mas isso não impediu que saíssemos por algum tempo e Emma, a única que parecia me entender quando a notícia sobre a saúde de meu pai veio à tona na escola.
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ANO 2033
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