A escola
12-08-2033
14º dia fora.
Era verão no hemisfério norte, o que se fosse um dia normal, eu estaria aproveitando a tarde de sol deitado sobre a grama verde do Budapest Park, as margens do lago Ontario. Mas era mais um dia de céu completamente cinzento e de temperaturas próximas ao negativo, um bom sinal que em breve viria mais uma daquelas rajadas de chuva que duravam dias.
A rua estava completamente vazia e silenciosa, e enquanto caminhava em direção a escola pude ver bem a destruição das casas espalhadas por toda aquela rua. Alguns carros se amontoavam dos dois lados, alguns ainda fechados, outros com as portas completamente abertas, outros ainda parados em suas garagens, era possível ver seus pneus furados, vidros quebrados e pichados. Enquanto andava ainda era possível ver roupas, casacos pesados, cadeirinhas de bebê e documentos junto a caixas de pertences de apenas valor sentimental ainda dentro dos carros.
— São comuns dias assim? — Pergunto a Maisie que caminha ao meu lado.
— Assim como?
— Assim. — Disse fazendo um sinal para o céu cinzento com a cabeça.
— Não — Riu ela. — Estamos nos dias bons.
Naquela manhã Charles insistiu em perguntar a Maisie mais vezes do que ela gostaria de ouvir, se estava recuperada o suficiente para ir até a escola. Eu não quis entrar no meio daquela discussão, deixando aquela decisão para eles, o que por fim, ali estava nós dois em direção a escola a procura de um gerador e gasolinas que provavelmente já não estariam mais ali.
Já havia dois dias que não ouvíamos o barulho das motos, o que aliviava, mas não tirava a preocupação que tínhamos em relação a permanecer ali na região. Deixamos Charles e Sara na garagem, juntos ao carro já totalmente preparado para nossa saída.
Eu e Maisie corremos abaixados ao atravessar a via e todo o estacionamento que tomava a frente daquela escola de ensino infantil. O estacionamento estava abarrotado de carros abandonados e seguimos para a porta principal, não tínhamos nada conosco além das armas que carregávamos em mãos, eu estava com a MK116 e Maisie achou a escopeta muito grande para manusear e decidiu ir com uma das pistolas que havíamos conseguido dos motoqueiros. Estava equipada com mira holográfica e lanterna, o que poderia ser de grande ajuda para os corredores pouco iluminados da escola. Com todas as armas que tínhamos conseguido nesses dias seria possível armar um pequeno grupo de skinheads que encontrássemos pelo caminho.
A maioria dos carros daquele estacionamento estavam com seu para-brisa e retrovisores quebrados, pneus furados e pichados com frases a alusão a estarem vivendo no inferno. Um grande tronco de árvore havia caído e prendia um Subaru antigo, passei ao lado de uma SUV que aparentava ser mais antiga do que eu com os vidros da porta e o banco do passageiro completamente sujos de sangue seco, ao passar ao lado de um Camaro preto já próximo a porta de entrada, me assustei ao perceber que ainda havia um esqueleto no banco do motorista.
Subimos os degraus de cimento que dava acesso a porta principal da escola, a porta de metal e vidro estava totalmente quebrada e três sacos do que parecia ser cimento prendia a porta pelo lado de dentro.
— Alguém colocou isso aqui. — Murmurei.
— Isso está aí a três anos pelo que sei, desde o fechamento das escolas, todas foram bloqueadas, com blocos de concreto, sacos de cimento ou qualquer outra coisa que pudesse impedir os vândalos de invadir o local. — Respondeu ela passando o corpo por um espaço um tanto apertado entre a porta de metal e a parede.
Ao tentar fazer o mesmo, o metal se moveu e as dobradiças ecoaram rangendo por todo o ambiente.
— Já não podemos usar o fator surpresa. — Sussurrei ao terminar de passar meu corpo pelo pequeno espaço que ela havia passado silenciosamente.
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ANO 2033
Science Fiction1° 🥇 Concurso Escritores Lendários 1° 🥇 Concurso Livros de Flores 2° 🥈 Concurso Pandora 2° 🥈 Concurso The Best Um meteoro de 15 km de comprimento se chocou com a terra no oceano Pacífico próximo a Califórnia na madrugada do dia 2 de janeiro d...