A espera
02-08-2033
4º dia fora.
— Tenha cuidado. — Pediu Charles pela quinta vez em dez minutos.
Lancei um olhar furioso a ele.
— Você tem certeza que não é melhor ela continuar aqui? — Perguntou ele.
— Sim, ela precisa de uma cama, e não de uma mesa de centro. — Respondi enquanto carregava Maisie em meus braços em direção as escadas. Assim que comecei a subir, os degraus rangeram com o peso extra em meus braços, levei-a para o segundo quarto e a coloquei deitada com cuidado sobre a cama e deixei Sara encarregada de tomar conta de Maisie enquanto eu e Charles levávamos novamente o colchão para o andar de cima. Arrastamos o colchão de volta para o quarto, para que eles pudessem ficar próximos de Maisie. No caminho acertamos o aparador encostado a parede o que fez derrubar um abajur que se partiu fazendo ecoar o som de porcelana se partindo no chão e passei alguns minutos preocupado se teria alguém nas proximidades que poderia ter ouvido aquilo, mas Charles tratou de me lembrar que o som da chuva que caia impedia que alguém tivesse escutado alguma coisa.
Era o segundo dia de chuva constante, com trovões e raios cortando o céu negro sobre nossas cabeças e rajadas de vento quebrando vidraças remanescentes e arrastando objetos pelo ar. Em nenhum momento se ouviu o som de carros ou motos por ali.
Durante aquela tarde, Charles me contou da gangue que eu havia encontrado, já os conhecia bem, viviam na região de York em uma casa cercada, disse que eu tive sorte em não ter levado nenhum tiro e que eles tinham uma grande rivalidade com a gangue Davidson, uma gangue ainda maior em que todos eram carecas, que andavam pelas ruas em Harley-Davidson saqueando e intimidando quem quer que eles encontrassem pelo caminho.
— Já foram maiores, — Comentou ele ao falar do tamanho das gangues. — sempre que se encontram morrem alguns homens dos dois lados.
— Já encontrou com alguns deles nesse tempo?
Ele fechou o rosto. — Sim, na maioria das vezes conseguimos correr e nos esconder ou fugir deles, mas por mais de uma vez já fomos encurralados.
— Nunca fizeram nada de mal a vocês? — Perguntei temendo ouvir a resposta dele.
— A mim não. — Respondeu ele abaixando a cabeça, seus punhos estavam cerrados e era nítida a raiva que sentia naquele momento possivelmente com as lembranças que surgiam em sua cabeça.
— Tem mais algum grupo que eu deva saber? — Perguntei.
— Maisie é quem sabe bem todos eles. Sei que tem um grupo formado por militares, mas parece que vivem do lado leste da cidade.
— E próximo ao lado, na região da Yong Ave e do CN Tower?
— Ali também era ou é território de militares, mas não posso te dar certeza.
Eu vivia a menos de uma quadra de um dos maiores shoppings da região de Toronto, o que me colocava em perigo com esses grupos.
Sara não quis conversar naquele dia, passou todo o dia sentada ao lado de Charles, até mesmo quando a ofereci o almoço, uma porção de sopa de carne e batatas ela não pareceu se abrir como na noite anterior.
— Ela teve um sonho ruim, sempre que ela tem algum sonho ruim, ela fica assim. — Explicou Charles.
— Espero que não seja comigo. — Murmurei sorrindo olhando para ela tentando lhe chamar a atenção.
Ela nada disse, me olhou por um segundo e sacudiu a cabeça em negativa.
Novamente a sensação de derrota e raiva percorreu meu corpo em imaginar o que aquela garotinha de menos de dez anos já havia passado durante esse tempo.

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ANO 2033
Science Fiction1° 🥇 Concurso Escritores Lendários 1° 🥇 Concurso Livros de Flores 2° 🥈 Concurso Pandora 2° 🥈 Concurso The Best Um meteoro de 15 km de comprimento se chocou com a terra no oceano Pacífico próximo a Califórnia na madrugada do dia 2 de janeiro d...