Na mira

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Na mira

Não tínhamos mais que poucos minutos antes que mais homens surgissem a porta daquela casa procurando pelos homens que estavam mortos no jardim. Empurrei a porta de acesso a cozinha com o cano da escopeta, e sobre a mesa da cozinha havia uma grande lanterna de camping, de modo a clarear todo o cômodo. O líder deles estava caído ao chão da cozinha, uma poça de sangue já se formava em baixo dele, a jaqueta aberta exibia vários pequenos círculos, onde as bolinhas o atingiram, por onde o sangue se espalhava manchando sua camiseta preta.

Em sua mão ainda estava um revólver 38 e em sua cintura uma faca de caça ainda maior do que a do homem no jardim. Me aproximei e vi que ele ainda estava vivo, engasgava em seu próprio sangue sem conseguir se mexer, chutei a arma em sua mão para longe e o deixei ali, ele ainda me fitou com seus olhos arregalados com certeza não esperava morrer aquela noite por alguém tão mais jovem e mais fraco do que ele. Ele moveu a mão em direção a minha perna, ainda queria tentar agarrar a minha perna, mas apenas me afastei o deixando ali para morrer.

— Charles? — Chamei em sussurro.

Um garoto de lágrimas nos olhos e minha CZ75B em mãos apareceu no alto da escada. Apontava a arma para baixo com a mão tremula.

— Tudo bem aí? — Perguntei ainda em sussurro.

Ele apenas balançou a cabeça que sim, levando a mão ao rosto para enxugar as lágrimas que escorriam pelo seu rosto.

Olhei em direção a porta da frente, o sofá ainda estava ali a bloquear a passagem, assim como a madeira compensada a tapar as janelas. A casa ficava bem na curva da Connie St. e de frente ao North Park, o que não era nada favorável para nossa sobrevivência, mas ter suas janelas bem tapadas já era uma vantagem para nós. Empurrei o sofá e dei uma olhada na rua, que naquele momento estava totalmente escura e silenciosa, mas aquilo era algo que não iria permanecer assim por toda a noite.

— Precisamos sair daqui e tem que ser agora. — Comuniquei já subindo as escadas aos pulos. E ao levar a mão ao corrimão, foi o primeiro momento em que senti a dor do tiro que havia levado. – Tem mais homens a caminho. Não temos mais do que dois ou três minutos para sairmos dessa casa e irmos para o mais longe que conseguirmos.

Maisie e Sara estavam sentadas juntas na cama do quarto. Maisie ainda estava pálida pela perda de sangue e era visível que seria difícil para ela andar. As duas olharam para meu braço onde se escorria um filete grosso de sangue, o tiro havia atingido o musculo de meu braço esquerdo me deixando sem muita ação no braço.

Andei até a sala onde eu havia escondido minha mochila com todos os suprimentos e coloquei-a as costas e voltei para o quarto onde elas estavam. Entreguei a AK-47 para Maisie. — Não atire em mim! — Pedi, antes de soltá-lo. — É sério! — Eu tinha os olhos sérios e preocupados, ainda não confiava nela da mesma forma que sabia muito bem que ela não confiava em mim, mas naquele momento, tê-la armada ao meu lado poderia ser a diferença para permanecermos vivos.

Charles me entregou minha pistola, não parecia muito à vontade em segurar uma arma. Eu estava carregado de armas naquele momento, tinha agora uma segunda pistola presa a cintura, minha escopeta que eu havia prendido a mochila junto da MK116, e em minha mão, minha pistola.

— Como eles descobriram que vocês estavam aqui? — Perguntei, retoricamente, enquanto ajudava Maisie a descer os degraus da escada.

— Talvez a lanterna. — Respondeu Maisie.

Sara tinha em mãos uma lanterna, a garotinha se encolheu fazendo um olhar arrependido de quem havia feito algo muito, muito ruim.

— Eles estão em algumas outras casas da Connie St. eles iriam invadir essa casa mais cedo ou mais tarde. — Disse trincando os dentes tentando aliviar a culpa de Sara.

ANO 2033Onde histórias criam vida. Descubra agora