Glen Belle Crescent

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Glen Belle Crescent

Foi possível ver pelo retrovisor do Kia, o rastro vermelho do sinalizador a subir mais e mais pelo céu enquanto eu acelerava o máximo que aquele carro me deixava fazer sem bater nos outros carros abandonados pelo caminho.

Virei a primeira a direita em alta velocidade, fazendo o carro se inclinar alguns milímetros e bater com força a lateral em um Subaru Legacy. O que fez Sara soltar um grito assustada e Charles tentar acalmá-la.

A minha frente algumas dezenas de casas de classe média se deterioravam sem o cuidado dos antigos moradores que por vezes os presenciei a tratar dos seus jardins. Estava em fim na Glen Belle Crescent.

Parei abruptamente em frente uma casa toda em pedra e de grandes janelas já a muito tempo quebradas, e ordenei que saíssem todos e levassem tudo que podiam para dentro daquela casa.

Maisie se assustou com meu pedido.

— E se tiver alguém? — Perguntou Charles.

— É a minha casa, vão. — Respondi. — Não temos muito tempo, quem atirou aquele sinalizador para o céu vai mandar alguém a nossa procura a qualquer momento.

Maisie agarrou a AK47 e o que mais seus braços conseguiam carregar naquele momento, Charles desceu rápido e correu para dentro da casa com os galões de gasolina e logo voltou para perto do carro para pegar o que mais pudesse, Sara arrastou pelo gramado em direção a mochila que a algumas noites atrás ela havia levado as costas.

E assim que Charles e Maisie terminaram de tirar tudo que podiam carregar, os mandei se esconderem e acelerei com o carro alguns metros, abandonando-o de qualquer jeito na garagem quatro casas a frente.

Era a antiga casa do senhor Priori, um homem já de idade avançada e pouca locomoção, que havia cometido suicídio poucos dias depois do anúncio do governo sobre o asteroide que vinha em direção a terra.

Quando desci do carro, havia apenas a minha mochila militar, minha escopeta 870 Tactical, o rifle MK116 e o gerador portátil que havíamos encontrado na escola. Joguei a mochila as costas, as armas de qualquer jeito e o gerador na mão esquerda e corri em direção a casa de pedras. E quase não tive tempo de pôr os pés para dentro antes de ouvir o som de uma caminhonete ranger virando a esquina em direção as casas de classe média da Glen Belle Crescent.

E o som daquela caminhonete só me fez lembrar do irlandês que havia fugido no meu segundo dia e na possibilidade de ser novamente ele a rondar a procura de sobreviventes e o quanto ele ficaria feliz em poder me matar, mas não sem antes matar qualquer um que estivesse comigo e naquele momento foi genuinamente a primeira vez que tive medo de perder Maisie, Charles e Sara.

Ainda não estávamostotalmente seguros, mas havíamos chegado, estava enfim de volta ao lugar que euhavia sobrevivido meus últimos três anos.


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