O guia de viagens
01-08-2033
3° dia fora.
Um trovão me acordou de meu sonho, eu havia cochilado enquanto tomava guarda. E mais uma vez havia sonhado com o acidente em que eu havia perdido minha mãe. Olhei para a total escuridão da casa, acendi minha lanterna para verificar tudo a minha volta, apontei a lanterna em direção a Charles que apertou os olhos tentando se acostumar com a luz, me olhava com os olhos cansados e desacostumados a claridade.
— Foi apenas um trovão. — Disse, para que voltasse a dormir.
Ao seu lado, Sara dormia agarrada ao seu braço e Maisie continuava inconsciente sobre a mesa de centro. Me aproximei e verifiquei sua temperatura, a febre havia diminuído um pouco, mas ainda me preocupava, principalmente sem saber se ela voltaria a acordar. A gaze em seu abdômen mostrava sinais de sangue, era necessário levar alguns pontos para que fechasse aquele buraco. Sua pele era macia e quente e seu rosto parecia bonito mesmo por baixo de toda a sujeira e palidez e penso por um segundo se eu a notaria em outras circunstâncias, se a notaria andando pelas ruas da Yonge Street ou no Shopping de Yorkdale, e um grande "não" salta em minha mente. Não que ela não fosse uma garota bonita, longe disso, Maisie tinha os cabelos ruivos alaranjado e sardas espalhadas pelo seu rosto branco, seu nariz era pequeno e arrebitado, e tudo aquilo me chamava atenção em uma garota, mas era muito mais jovem do que eu e em outras circunstâncias eu não a teria notado. Mas agora, ali estava eu tentando mantê-la viva e pensando no quanto seu rosto era bonito.
O clarão de um raio iluminou por um instante a casa pelo vidro da porta dos fundos. Retirei meus dedos dos cabelos de Maisie e me afastei dela. Aqueles três anos dentro de um Bunker pareciam ter mexido muito mais comigo do que eu esperava. Caminhei até a porta dos fundos, evitando os pedaços de vidro espalhados pelo chão da cozinha. Uma grande janela sobre a pia dava uma visão geral do jardim, o mato alto, uma grande árvore e um escorrega pareciam ser tudo que havia ali. A volta, algumas outras casas, tão escuras e silenciosas quanto aquela.
O som do vento, empurrando a chuva forte era tudo que se ouvia por ali. De tempos em tempos um novo clarão nos céus anunciava um trovão que vinha logo a seguir. Apertei meus dedos contra a lanterna em minha mão pensando no que deveria fazer quando aquela chuva finalmente parasse.
Mas agora estava preso aquela casa.
Mesmo após três anos, com a falta de cientistas e de informação, não sabíamos até que ponto as chuvas ainda estavam carregadas de fuligens tóxicas, ácidos e cinzas vulcânicas. Era algo que os governos esperavam durar por cerca de dois anos, mas mesmo após três anos as chuvas ainda estavam carregas de fuligem tóxica do meteoro, o que nos forçava a permanecer escondidos onde pudéssemos para não entrar em contato com aquela chuva. Poderia não matar, mas a possiblidade de ser contaminado pelas toxinas fazia com que qualquer sobrevivente evitasse ficar exposto aquela chuva por muito tempo.
Quando eu ainda tinha contato pelo rádio dentro do Bunker, notícias de pessoas ficando cegas pelo ácido e fuligens ao contato com a chuva deixou os poucos sobreviventes pelo mundo ainda mais histéricos ao mínimo sinal de uma chuva. Isso era uma faca de dois gumes, como diria meu pai. Mantinha qualquer um longe dali, mas também nos mantinha presos ali.
Era constante aquelas chuvas durarem dias, talvez semanas alagando cidades inteiras, inundando estações de metrô, estacionamentos subterrâneos, shoppings, fabricas e ruindo ainda mais edifícios, os levando a desabar sobre as vias das grandes cidades.
Voltei para perto da poltrona onde antes eu estava sentado, na poltrona do lado estava minha mochila, junto ao kit de primeiros socorros. Aponto a lanterna para Charles que já havia voltado a dormir, apenas cobri a mochila com o cobertor que eu havia usado para me aquecer e caminhei em direção as escadas. Levo a mão a minha cintura e confirmo que minha pistola está ali, apontei a lanterna para frente e subi devagar as escadas procurando não fazer barulho ao pisar nos degraus. Eu já havia feito uma pequena ronda pelos cômodos daquela casa quando entrei, mas resolvi andar por ela novamente já que havia acordado com a chuva e não gostaria de voltar a sonhar com a morte da minha mãe.
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ANO 2033
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