Gêmeos em apuros

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Espero que gostem :)

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POV Joey

   Nossa viagem até o centro foi tranquila, fomos no Chevy Impala, já que Dean e tio Sam saíram com o carro do tio. Fomos ouvindo Nirvana o caminho todo. O que foi extremamente divertido. Eu sei algumas letras e meu irmão parece ser fã de carteirinha da banda. Por tanto começamos a cantar como dois loucos tentando acompanhar o ritmo da música.
   Me surpreendeu o fato de Ty aceitar desobedecer o pai, ele parece estar sempre tentando fazer o certo para não irritar Dean, e de repente tem a brilhante ideia de pichar alguns muros pela cidade. Me levando com ele, apesar de Dean ter deixado bem claro que não me queria fora do bunker.
  — Ty, posso te fazer uma pergunta? -Questiono saindo do veículo, Tyler disse que precisávamos comprar spray, já que os seus estavam acabando.
  — Claro.
  — Porque você está fazendo isso? Não que eu esteja reclamando, pelo contrário. Estou animado com a ideia de me divertir um pouco... Mas você não parece ser do tipo que desobedece uma ordem direta.
  — Bom, você estava entediado e já faz um tempo que estou com vontade de fazer um grafiti. Papai me proibiu dá última vez, mas eu não consigo evitar... Eu gosto de fazer arte Joey...Deixa tudo mais belo.
   Pela forma como ele explicou, pude sentir que meu irmão realmente gosta do que faz. Ele não está fazendo isso pelo simples prazer de desobedecer, é mas como uma necessidade de voltar a grafitar.
  — Mas ele disse que eu não podia sair do bunker...
  — Eu confio em você. Não acho que vá fugir. -Responde ele dando de ombros enquanto entra em um estabelecimento. O acompanho.
  — E o que te faz pensar isso? -Pergunto surpreso por sua resposta.
  — Estamos aqui e você não deu indicio de fuga...Apesar de já ter tido a chance. Você pode sair por aquela porta agora...Mas ainda não fez isso. E duvido que vá fazer. -Explica com um sorriso nos lábios. Logo se dirige ao vendedor no caixa -Boa tarde George...Eu gostaria de...
   Ty começa a conversar com o atendente, que tem um ar descontraído, como se já conhecesse meu irmão a um tempo. Não presto atenção na conversa deles. Tyler me deu no que pensar. Porque eu não fugi? A ideia não se passou por minha cabeça nem um minuto sequer.
   Eu gosto de viver no bunker, posso ser eu mesmo com Tyler, um adolescente da minha idade, podemos conversar sobre tudo, sobre qualquer coisa... Posso conversar com papai e ser eu mesmo com ele também. Dean me aceita como eu sou. Posso fazer piadas com ele, e até me permito ser um pouco manhoso. Dean é muito carinhoso comigo e isso é algo que eu nunca tive antes.
   Depois da surra que ele me deu semana passada, nosso vínculo evoluiu bastante. Não sei como isso é possível, mais foi exatamente o que aconteceu. Nos tornamos mais próximos e eu posso dizer que até já confio nele. Dean não é mal como Keyzel disse. Ele realmente não sabia sobre mim, por isso não foi me procurar.
   Keyzel.... Estou confuso em relação a ele. As vezes sinto sua falta, nem todo tempo que passávamos juntos era desagradável, me pergunto onde ele está... E se está bem. Não quero que nada de mal aconteça com ele.
   Reparo em algo na prateleira que chama minha atenção... Eu nunca experimentei, mas já vi Jeff usando...Ele dizia que era bom.
  — Joey! -Me giro para encarar Tyler, que me mira de forma impaciente. Algo me diz que não é a primeira vez que ele está me chamando -Estava pensando em que? Eu te chamei cinco vezes!!
   Ele me mostra os cinco dedos da mão, como se quisesse reforçar a fala. Rodo os olhos esbarro propositalmente na prateleira, no processo acabo pegando uma daquelas caixinhas e escondendo no bolso. Sorrio para mostrar que está tudo bem e caminho até eles. Nenhum dos dois perceberam. Sempre fui bom nisso.
  — Estou ouvindo agora. -Digo como se nada tivesse acontecido.
  — Esse é o George, ele quer te conhecer.
   Encaro o homem, ele não tem mais de trinta anos, é moreno e possui o cabelo curto.
  — Olá George. -Digo sem muitos ânimos. Não gosto de estranhos.
  — Ty me contou que você foi criado​ por uma tia em Nevada. Como era a escola de talentos?
  — A escola de talentos? -Digo encarando meu irmão, ele inventou essa história agora? Tyler me cutuca dissimuladamente.
  — Exatamente Joey... Conte para ele como era lá. Ele entrou por causa das música sabe...Sua voz é incrível.
  — A escola era maravilhosa, embora os professores fossem bem exigentes. Fiz bons amigos lá, mas chegou a hora de voltar para casa. -Digo forçando um sorriso.
  — Imagino como deve ter sido difícil, escolher entre sua família e sua carreira. Ty me contou que a única forma de você cursar nessa escola era morando em Nevada, e como era impossível seu pai morar lá naquele momento, ele teve que te deixar com sua tia.
  — Isso...Mas eu era muito pequeno. Não tomei a decisão...Tomaram por mim. -Digo dando de ombros -Mas agora estou de volta.
  — Seu pai deve estar feliz...
  — Ele está... Está muito feliz. -Sorri Tyler -Agora temos que ir... Até mais George. - Meu irmão está com pressa, provavelmente querendo evitar mais perguntas inoportunas.
  — Até mais meninos, foi ótimo te conhecer Joey.
   Assinto com a cabeça sem responder nada. Saímos da loja com Ty segurando uma sacola preta.
  — Comprou o spray? Nem percebi...
  — Claro que não percebeu. Você estava viajando. -Ri Tyler divertido.
  — Engraçado foi a sua história...Escola de talentos Ty? Essa é nova. -Retruco rindo também. Não posso deixar de dizer que adorei, visto que ficou muito bem montada. Qualquer um acreditaria.
  — Foi o que consegui bolar em dois segundos. -Ri ele abrindo a porta do Chevy.
   Tyler dirigi calmamente, passamos por algumas ruas até nos afastarmos um pouco do centro. Meu irmão estacionou em uma rua vazia, onde haviam casas enormes com muros incrivelmente bem cuidados. Será tão divertido dar um pouco de cor a eles!
  — Olha, geralmente as pessoas que vivem nessas casas passam o dia trabalhando, podemos constatar isso pelas ruas vazias. Blaine desativou as câmeras de segurança... Isso não quer dizer que ninguém nos veja. Sempre há a chance de algum vizinho ver, nesse caso temos que correr o mais rápido possível para o Impala, sem olhar para trás entendeu?
  — O que eles poderiam fazer se nos pegassem? -Indago rodando os olhos. Ty se preocupa demais. -Eu fui treinado para combates, não vão ser essas pessoas que me vencerão.
  — Joey eu não quero que...
  — Ty, eles não podem fazer nada com a gente. -O interrompi antes que ele pudesse terminar a frase.
  — Eles não, mas papai sim. Imagina o que ele faria se descobrisse o que andamos fazendo.
  — Okay... Dean não pode descobrir... Então se der merda corremos para o carro e damos o fora daqui! -Repito, não quero irritar Dean Winchester. Nesse período que estou vivendo com ele tirei algumas conclusões, meu pai biológico é muito legal quando quer. Mas pode ser bem severo também. Digamos que só nesse meio tempo ele tenha me castigado algumas vezes. Bom, apenas uma vez foi realmente sério, foi quando bebi escondido. As outras foram apenas algumas palmadinhas por algo leve que fiz, como dar respostas afiadas... A questão é: Papai tem uma mão de ferro, e eu não quero ganhar outra surra na versão completa.
   “Papai”... Já fazem alguns dias que comecei a pensar nele assim. Como o meu pai... Não que eu tenha esquecido de Keyzel. Ele também é o meu pai... Mas Dean é tão bom comigo, tudo bem que ele me trata como uma criança, mas eu não me importo. Me sinto seguro e amado com ele... Ah chega de pensar nisso!
  — Olha só o que eu peguei. -Digo tirando a maço de cigarros do bolso. Tyler arregala os olhos.
  — De onde você tirou isso Joey? Se livra dessa merda vai!
  — Eu não vou jogar fora...Vc já fumou?
  — Não...
  — E não quer experimentar? -Murmuro  abrindo o maço com curiosidade.
  — Papai odeia cigarros... Ele nunca me deixou chegar perto de um.
  — Dean não está aqui agora... -Digo sorrindo.
   Tyler morde os lábios e olha para os lados.
  — Talvez apenas um não faça mal... Só vamos experimentar tudo bem?
  Concordo com a cabeça.
  — Dean tem um isqueiro no porta luvas...
  — Porque ele tem um isqueiro no carro se não fuma? -Pergunto me apressando em abrir o porta luvas e pegar o objeto.
  — Porque ele é um caçador... Caçadores sempre precisam estar preparados.
   Ascendo meu cigarro e entrego o isqueiro para o meu irmão.
  — Vamos Ty...
   Saio do carro levando uma sacola que Tyler me entregou com as latas de spray dentro. Ele ascende seu cigarro e me entrega o maço, que guardo em meu bolso.
   Dou uma tragada e começo a tossir ao mesmo tempo que Ty.
  — Acho que engoli a fumaça. -Murmura com uma careta, sua voz entrecortada.
  — Acontece com todo mundo. -Respondo porque havia acontecido a mesmo coisa comigo. Deve acontecer com todos então... Não é?
  — Ai Joey, isso aqui é horrível!
  — Concordo com você... Não sei como Jeff conseguia fumar uma carteira toda. -Digo contendo uma careta -Vamos tentar terminar esse pelo menos.
  — Mas é ruim...
  — Jogue fora que se você quiser...Eu vou terminar o que comecei.
   E assim faço, alguns minutos depois já me acostumei com a fumaça. Ainda assim é horrível. Tyler também continua com o seu. Puxa e solta a fumaça, tossindo em alguns momentos.
  — Pelo menos podemos dizer que já experimentamos. -Digo dando de ombros.
  — Pelo menos isso. -Murmura ele tossindo e jogando seu cigarro em uma lata de lixo que havia na calçada. Faço o mesmo com o meu.
  — Agora vamos fazer o que viemos fazer Joey. - Ty ainda tem uma careta no rosto.
   Seguimos até uma das casas, depois de se percartar que não havia ninguém nos observando, começamos o trabalho.
   Tyler começou já concentrado, eu demorei alguns segundos para começar. Não sei o que desenhar... Olho para o meu irmão, que parece ter bem claro o que vai fazer.
   Bom, acho que vou escrever algumas frases.
   Balanço um pouco a lata e começo meu trabalho, escrevo em letras grandes, em tinta preta : “ NINGUÉM MORRE VIRGEM, A VIDA NOS FODE A TODOS!” Sorri ao observar meu trabalho, coloco minhas iniciais ao lado “J.W”
  — Ty olha só! -Digo orgulhoso de mim mesmo. A frase é de Kurt Cobain, uma das melhores frases já ditas, em minha opinião.
   Meu irmão desvia a atenção de seu desenho, que agora começa a ganhar forma...Parece que ele está desenhando condôminos...
  — J.W? Joseph Winchester? -Indaga sorrindo. Provavelmente pensando que aceitei o sobrenome da família.
  — Não...Joseph Willian. Meu segundo nome é William.
  — William... Eu gostei. -Sorri ele.
  — É para você prestar atenção na frase Ty, não nas minhas inciais.
  — Joey! Você não pode escrever isso! -Indaga ele visivelmente surpreso ao ler minha frase.
  — Porque não? Não vejo problema nenhum...
  — Bom... É meio pesada.
  — Ah para Tyler! Estou começando a entender o porque de Dean nos tratar como crianças! A culpa é sua, você parece uma agindo assim. -Digo rodando os olhos e voltando a atenção para o muro. Quero escrever mais frases de efeito.
  — Hey, a culpa não é minha! E eu não estou agindo como uma criança!
  — Claro que está. Adolescentes de dezesseis anos não reclamam de frases como essa... Eles admiram. -Murmuro retocando as letras, as deixando mas escuras e aperfeiçoando o acabamento.
  — Okay, escreva o que você quiser. Eu vou tentar terminar meu grafiti.
  — O que você está desenhando afinal? -Pergunto curioso.
  — A ideia é colocar vários condomínios dentro de um globo terrestre... Ficará incrível! -Responde sorrindo e sem tirar os olhos do muro.
   Devo admitir que a ideia realmente é boa, percebo como Ty desenha bem. Ele parece ter um dom especial para isso... Fica tudo tão natural... Nunca vi um desenho tão bom como o dele antes.
   Escrevo mais algumas frases, enquanto​ converso distraidamente com Tyler. Ele está terminando de contornar o globo quando ouvimos uma voz, alta e clara:
  — Mãos na cabeça, larguem o que estiverem segurando! -Me giro bruscamente para ver de quem se trata.
   Vejo um policial, alto e aparentemente forte, cabelos castanhos e pele clara, ele está apontando uma arma em nossa direção.
  — Não... Não é o que parece. -Sussurra meu irmão deixando a lata de spray cair no chão.
  — Eu acho que é sim garoto. Parece que os dois engraçadinhos gostam de vandalizar a propriedade alheia. -Ele está bravo e sua frase fez meu irmão se calar.
   Tyler está assustado, nervoso. Posso deduzir pela postura que adquiriu.
  — Porque ainda está com esse spray na mão? Por acaso é surdo?
  — Você está falando comigo imbecil? Eu vou te mostrar quem é o surdo aqui! -Respondo soltando a lata de spray e fazendo menção de ir em sua direção. Tanto o homem como meu irmão, me encaram com a surpresa estampada no olhar.
  — Joey! Você não pode falar assim com o policial! -Sussurra Ty me agarrando pelo braço e evitando que eu pule no idiota a nossa frente.
  — Eu vou fazer mais do que falar Tyler. Ele me chamou de surdo!
  — Apenas ignore isso... Só vamos nos ferrar mais se respondermos ele de forma agressiva. Se controle meu irmão.
   Respiro fundo, Tyler tem razão. Já estamos ferrados o suficiente para que eu piore nossa situação.
  — Você ia pular em mim? Além de ter me insultado?
  — Ele não fez por mal... Não leve nada disso em conta... Por favor. -Pede Ty, e posso jurar que sua voz saiu chorosa. Porque raios ele está assim?
  — Ty...Vamos dar o fora daqui... Esse era o plano lembra? -Sussurro, para que somente ele pudesse me ouvir.
   Meu gêmeo nega com a cabeça.
  — Não funciona assim quando se trata de um policial Joey...Apenas obedeça...
   Não consigo entender, mas decido confiar no meu irmão.
   O policial se aproxima e nos revista. Fecho os olhos ao lembrar de uma coisa: O maço de cigarros ainda está em meu bolso. E o idiota não demora para encontra-lo... Quanta burrice da minha parte tê-lo trazido comigo.
  — Muito bem.... Quantos anos vocês tem? -Pergunta o homem com um suspiro, desviando a atenção do maço em sua mão para nós.
  — Dezoito! -Minto, falando o mais rápido possível.
  — Vocês não tem dezoito anos. Tentem novamente.
   Solto um suspiro e tenho vontade de socar a parede.
  — Dezesseis -Respondemos em uníssono. Encaro Ty, é a primeira vez que falamos ao mesmo tempo. Exatamente ao mesmo tempo... Quanta sincronia.
   Meu irmão está com os olhos marejados, ele morde os lábios sem tirar os olhos do maço de cigarros na mão do homem. Provavelmente pensando que aquilo dali acabou de nos ferrar de vez.
  — Então não posso resolver nada sem a presença do responsável legal de vocês. Vamos todos para a delegacia!
   Sinto um frio percorrer minha espinha. Agora sim o circo vai pegar fogo.

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