32 - All The Same

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Desliguei o telefone ainda com a boca aberta. O segurança me encarava com um olhar impaciente. Engoli em seco. Olhei para o lado, a procura de Alexa. Ela estava de pé agora, a um metro de mim, me encarando com uma expressão incrédula. Veio até mim e segurou minha mão. Eu sabia que ela iria ficar do meu lado.

— Eu juro que... — tentei falar, mas um dos seguranças acenou com a mão para que eu me calasse. Então, ele pegou o celular e discou um número qualquer.

— Alô? Senhor Dantas, encontramos a carteira da Senhorita Grande. — Ele fez uma pausa. — Sim, estava no quarto da Senhorita Jauregui. — Então, ele fez uma pausa enorme, ouvindo o que o reitor dizia do outro lado. Senti Alexa apertar cada vez mais forte a minha mão. — Ok, Senhor Dantas.

Ele desligou o telefone.

— Senhor... Eu juro que eu não roubei nada! — tentei argumentar, mas eu sabia muito bem que eu não tinha qualquer chance de ele acreditar em mim, assim como o reitor.

O segurança fez o mesmo aceno anterior com a mão, para que eu me calasse. O outro segurança passou por trás dele, saindo pela porta com a carteira de Ariana em mãos.

— Conforme o Senhor Dantas falou e devido aos fatos apresentados aqui, a Senhorita perdeu a sua bolsa de estudos — o segurança que ficou no quarto disse. — A Senhorita tem até o anoitecer de hoje para se retirar do campus.

E então, ele saiu do dormitório.

Alexa estava apertando cada vez mais a minha mão e tenho que admitir que aquilo estava doendo um pouco. Virei-me para ela. Ela tinha os olhos marejados.

— O que vai fazer agora? — ela perguntou. Uma lágrima caiu de seu olho esquerdo. Soltei minha mão da dela e levei até seu rosto, limpando com o dedão a lágrima que escorrera ali. E foi só aí que eu percebi o quanto eu ia sentir falta daquela hippie que tirava foto até do vento batendo na janela. Dois anos e meio morando juntas não era pouca coisa. Tentei respirar fundo e não começar a chorar, ou iríamos chorar as duas ali feito duas crianças.

— Acho que voltar a cantar na Bubu, já que vou precisar ajudar meus pais em casa...

Alexa respirou fundo e me abraçou.

Depois de passar uns bons minutos abraçadas, parti para arrumar as minhas coisas. Com o auxílio de Alexa empacotei tudo o que era meu que estava ali. Meus livros, minhas roupas, meus porta-retratos... Depois de uma hora de empacotamento, terminamos te arrumar tudo, então peguei o meu telefone e disquei o número que eu mais queria discar desde que tudo aquilo começara. No segundo toque ela atendeu.

Alô? — a voz de Camz surgiu do outro lado da linha.

Respirei fundo.

— Camz, pode me levar pra casa? — perguntei, encarando as caixas e sabenndo que eu só conseguiria levar tudo aquilo de ônibus se fizesse umas quatro viagens.

Claro, boo. Mas por que tá indo pra casa? Aconteceu alguma coisa lá com o reitor?

— É... — fiquei sem palavras. — Assim que você chegar aqui eu te conto, ok?

Ok. Chego aí em cinco minutos.

E desligamos.

Não quis ligar para os meus pais, nem para Taylor. Não que eu quisesse olhar a expressão decepcionada do meu pai quando eu contasse pessoalmente, mas eu sabia que esse tipo de notícia se dava por telefone.

Ainda um pouco aérea, eu desci as escadas junto com Alexa, carregando todas as malas que eu tinha. A cada degrau a tristeza me invadia mais ainda. Como Ariana teve a cara de pau de fazer aquilo comigo? Quer dizer, eu entendia que ela tinha raiva por eu ter ficado com Camila quando gostava dela e esteve ali por ela o tempo inteiro, mas a que ponto ela tinha chego? Era absurdo. Fazer-me perder uma bolsa de estudos que era tão competida e que eu tinha ralado para ganhar... Era quase desumano.

Assim que eu e Alexa chegamos na frente do prédio, largamos as malas no chão e sentamos nos degraus da frente. Alexa encostou sua cabeça em meu ombro e mais uma vez segurou minha mão, fazendo carinho nela.

Ficamos ali por, no máximo, um minuto. Até que eu vi um rosto conhecido passar próximo à nós, indo na direção do prédio de pedagogia.

Levantei-me de imediato e andei na direção dela. Ela estava de costas para mim, o que eu agradeci, pois assim ela não fugiria. Pensei em enforcá-la, esfaqueá-la pelas costas, ou quem sabe lhe aplicar um golpe de Judô... Mas minha tristeza ainda ultrapassava a minha raiva, então, tudo o que eu fiz foi bater nas suas costas com certa força.

Ariana cambaleou para frente e quase caiu no chão. Logo, se virou para mim, e assim que viu meu rosto, me encarou com uma expressão assustada. Deu três passos para trás. Eu fui para cima dela, e ela se encolheu.

— Por quê? — perguntei, e meu tom estava estranhamente calmo.

— Por que o que? — ela devolveu a pergunta, sínica que só ela.

— Por que você fez isso comigo? Que tipo de monstro é você?

— É... Você... Você roubou a minha carteira!

— Não, não roubei — exclamei. — E você sabe muito bem disso!

— Seu... Seu anel... — ela gaguejou. — Ele tava no meu quarto.

— MAS VOCÊ SABE MUITO BEM QUE EU NÃO FIZ PORRA NENHUMA, NÃO SABE? — gritei, a raiva já começava a beirar a minha tristeza, e aí eu percebi que eu estava olhando para a responsável por eu ter perdido a bolsa que eu trabalhara tanto para sustentar. Ariana se encolheu mais ainda. Sua expressão estava aterrorizada. Ela parecia estar com medo de levar uma surra ali mesmo.

— Eu não tenho nada a ver com isso — ela disse e se virou. Mas, eu peguei seu braço e a puxei de volta. Ela me encarou nos olhos, depois desceu o olhar para o chão. Claramente estava escondendo alguma coisa.

— Muito conveniente, não é? — falei, segurando o braço dela com mais força. — Eu saio em um dia com Camila e no outro, de repente eu roubei a porcaria da sua carteira. — Fiz uma pausa. Levei minha outra mão até seu queixo e a obriguei a me olhar. — Fale a verdade! — disse entre os dentes. Ariana engoliu seco, negando com a cabeça. — FALA A PORRA DA VERDADE, SUA VADIA!

Eu já estava preparada para quebrar o braço daquela garota, quando senti meu braço ser puxado por alguém atrás de mim.

— Lauren, tá louca garota? — ouvi a voz conhecida de Camila surgir.

— Camz — foi só o que consegui murmurar antes de me jogar nos braços dela. Ela me abraçou de volta.

— O que tá acontecendo? — ela perguntou, alto o suficiente pra Ariana também ouvir.

— Ela roubou a minha carteira, Mila! — Ariana exclamou atrás de mim, e eu tive vontade de lhe meter a mão na cara.

Separei-me do abraço e olhei no fundo dos olhos de Camz.

— Olha pra mim... — falei. — Você acha mesmo que eu roubaria alguém?

Camila ficou em silêncio. Seu olhar alternava entre Ariana e eu. Ela engoliu em seco.

— Eu juro pra você, eu estou falando a verdade — Ariana falou mais uma vez. — Encontraram a minha carteira no quarto dela. E o anel dela estava no meu quarto.

Camila se soltou do meu abraço e me encarou.

— Camz — chamei pelo apelido, e ela me olhou. — Você acredita mesmo nela?

— Nana nunca mentiu pra mim — Camila falou e encarou Ariana por cima dos meus ombros.

Balancei a cabeça negativamente e me afastei do contato dela.

— Você está duvidando? — perguntei, sentindo toda a mágoa chegando. Ela estava mesmo duvidando de mim? Ela achava mesmo que eu tinha roubado algo?

É claro que acha, Lauren. Você esqueceu de quem ela é?

— Laur... — Ela tentou se aproximar e tocar em mim, mas eu me esquivei. Talvez só Keaton superasse o asco que eu estava sentindo de Camila naquele momento.

— A todos — falei, em um sussurro. — Você é igual a todos dessa faculdade.

Virei as costas e saí de perto de Camila e de toda aquela confusão.

All or NothingOnde histórias criam vida. Descubra agora