Capítulo 36

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 "O silêncio é o grito mais alto."

A Vida é Bela


Uma onda de mau tempo havia chegado à cidade. As chuvas duraram por três dias o que não me permitiu me exercitar. E eu estava precisando disso. 

Minha excitação impossibilitou que eu me concentrasse em qualquer coisa naquele fim de semana. Não pude dormir, trabalhar ou mesmo comer de tanta ansiedade.

No Domingo tentei contato com João mas seu celular estava fora da área. Algo que eu já esperava, visto que ele disse que viajaria.

Porém, na  segunda-feira,  vejo que ele não está no escritório. Decido fazer uma investigação como quem não quer nada.

– O senhor Micelli viajou a trabalho, Angela?

– Não, Isabel. Ele disse que era uma viajem particular.

– Certo.

Aquilo me deixou com a pulga atrás da orelha.

Desde que as crianças tinham passado a morar com os avós, Duda sempre ligava para mim. Eu achava aquilo uma graça. Ela me contava sobre a escola e os jogos de videogame que os avós compravam para o Pedro. Naquela semana, já na quinta-feira, durante o contato da minha mini amiga, decidi ampliar a investigação.

– Você está com saudade do seu pai, Duda?

– Não, Bel! –- gritou a criança. – Ele veio aqui ontem.

Um misto de vergonha e decepção fez meu rosto queimar. Usei uma criança para obter informações e ainda por cima confirmei o que eu vinha me negando há dias: João estava me evitando.

Despedi-me da pequena e desliguei o telefone. Respirei fundo até que meus batimentos cardíacos parassem de estalar em meus ouvidos. Certo. Eu tinha que resolver aquilo.

Disquei o número e, assim que a caixa postal se apresentou mais uma vez, tomei coragem para registrar o recado.

– João, por favor me ligue. Precisamos conversar.

Minha atitude não gerou qualquer resultado.

– João, me ligue. Por favor.

– Por favor, João. Entre em contato.

Inútil. Dias se passaram.

Tentei uma abordagem mais agressiva.

– João, você está sendo infantil. Faça contato.

E, então, semanas.

– Isso é pura palhaçada, João. Responda minhas ligações.

Nada.

O desespero, conforme o tempo se passava, fez com que eu diminuísse muito o tom.

– João, por favor me desculpe. Eu não queria gerar esse desconforto entre nós. Vamos conversar.

– Eu lamento muito pelo que fiz. Por favor. Quero me desculpar.

Sim, diminuir o tom significou na verdade apenas pura humilhação. E uma grande, daquelas que não dá resultado, ou seja, pior ainda.

Eu só conseguia pensar naquilo. Apenas o trabalho e as aulas de canto tiravam aquela situação da minha mente mas por pouco tempo.

Os finais de semana voltaram a ser torturantes. Eu estava indecisa sobre continuar o projeto sozinha. A psicóloga Daniela havia me incentivado a continuar, mas eu não tinha contado a ela sobre o beijo. Apenas mencionei que João havia viajado, porém de algum modo ela parecia saber que ele estava me evitando.

Em um desses Sábados de abandono, enquanto esperava o início da aula de canto – meu professor não era lá dos mais pontuais – fui abordada por Eduardo.

– Oi, Isabel. Tudo bem?

Ele estava saindo de sua aula de piano.

– Tudo.

– Você parece um pouco triste esses dias.

– Eu? Não! Só cansada. Trabalhando muito.

Mentira da mais pura. A ausência de João havia deixado o escritório mais parado que estátua.

Ele suspirou decepcionado.

– Então nem adianta te perguntar de novo se você não quer ser nossa vocalista.

– Eu aceito!

Ah, o impulso do desespero! Fazendo você tomar atitudes equivocadas desde o começo dos tempos.

– Como, quê, é... como... é? - engasgou ele.

– Eu aceito. Como isso funcionaria? Não pode atrapalhar meu emprego.

– Não! De jeito nenhum! Você está livre essa noite?

Infelizmente.

– Sim.

– Temos um ensaio hoje. Aqui no estúdio do conservatório mesmo. Poderia vir? Você conhece a banda e eu te passo os detalhes.

– Perfeito.

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