Capítulo 47

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" Não dêem atenção ao homem de trás da cortina"

O Magico de Oz


O salão estava lotado. Pessoas em trajes de festa disputavam em elegância com lindas mesas redondas, cobertas de belas toalhas pesadas de linho e adornos de centro floridos. Os garçons mantinham sua postura impecável enquanto equilibravam suas bandejas cheias de taças com espumante e alguns canapés.

O palco tinha um pequeno púlpito e dois apresentadores se intercalavam chamando e homenageando os premiados da noite.

Eu ocupava o lugar designado a mim, assim como meus convidados: os pais de Eric, meus pais e um convidado inesperado. As meninas não aceitaram o convite.

Papai insistiu para que eu convidasse Eduardo e acabei cedendo. Os dois estavam sentados lado a lado e conversavam animadamente.

Minha atenção estava focada nos oradores. Pessoas a quem eu admirava estavam recebendo prêmios naquela sala e eu não queria me distrair com conversas paralelas.

- E agora um dos prêmios mais aguardados da noite. - diz a apresentadora com um excesso de empolgação que soa artificial.

- O prêmio Revelação da Arquitetura deste ano - completa seu colega - Isabel Mendes!

A partir dai eu me sinto como num aquário. As coisas parecem fora de foco e os sons abafados, mas eu continuo com meu disfarce. Como se nada me atingisse.

Todos aplaudem e eu me levanto enquanto manejo a cabeça em agradecimento. Ajeito o vestido cinza, muito colado e austero. O excesso de tecido que sobe justo até meu colo faz o profundo decote em minhas costas seu charme. Por algum motivo decidi usá-lo. Talvez porque é o que João gostaria. Corro novamente os olhos pelo salão antes me dirigir ao palco e imediatamente me arrependo de tê-lo feito.

Parado no fundo da sala, em frente a grande porta branca envernizada, com seu costume azul marinho está o motivo de tudo isso: o senhor Miccelli.

Ele me olha enquanto bate palmas assim como todas as outras pessoas aguardando que eu finalmente caminhe até o palco.

Minha expressão deve ter sido terrível pois meu pai viu que algo estava errado em meus olhos. No mesmo instante empurrou a grande cadeira , levantou-se e me abraçou:

- Vá para o palco, querida. Eu cuido disso. Meus parabéns. - então beijou meu rosto, me tirando do transe, enquanto comecei minha jornada até o palco.

Subi alguns pequenos degraus e sorri falsamente para o apresentador. Tomei uma pequena escultura em mãos que deve supostamente ser um troféu. Observei meu pai caminhar até o fundo da sala e parar ao lado de João. Todos ficaram em silêncio.

Era a hora. Tinha que fazer meu discurso.

- Obrigada! Obrigada á todos.

A maior parte das palavras saiu de minha boca sem que eu ao menos me desse conta. Decoradas mas sem emoção, até que certas coisas que digo chamam minha própria atenção.

- É muito triste quando se estende a mão para alcançar alguém que não está mais lá. Quando se quer sentir um toque que nunca mais será possível. Quando se quer ouvir uma palavra de alguém que se calou para sempre. - eu queria poder ter evitado, mas olhei diretamente para ele quando disse essas palavras.-

Esse prêmio é muito especial. Não porque reconhece meu trabalho, mas porque ele imortaliza um homem espetacular que foi arrancado de nós. Devo tudo a ele. Obrigada, a todos.

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