Capítulo 27

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 " Aqui está o Johny!"

                    O Iluminado.



Resolvi sair para correr no dia seguinte. Era um Domingo e o dia estava claro e fresco. Eu aproveitaria o transe da corrida para colocar meus pensamentos em ordem.

Devido ao caos que havia se instalado em meus pensamentos foram necessários vários quilômetros de reflexão até que a exaustão me venceu.

Lancei-me na grama exaurida, aproveitando a sombra de uma árvore. Quando o vento soprava eu sentia o sol no meu rosto. Fechei meus olhos. Aproveitei o cansaço e a luz intermitente que atravessava minhas pálpebras assim como o farfalhar das folhas.

Em um certo momento a sombra se manteve mesmo com a brisa soprando e eu abri os olhos. Lá estava João parado de pé ao meu lado.

– Isabel.

– Oi, João.

Ele me ofereceu a mão e eu a aceitei para poder me levantar.

Uma das poucas vezes que nos tocamos. Eu lembraria de cada uma delas para sempre.

Sacudi minhas coxas para tirar algumas folhas presas.

– Você me desculpa, Isabel? Eu passei dos limites.

Nada como um dia após o outro. Minha raiva também já tinha se diluído.

– Tudo bem. Eu vacilei também. Devia ter prestado mais atenção.

– Certo. - ele diz um pouco encabulado.

– Como me achou aqui?

– O senhor Bernardes me disse que você tinha saído para correr?

– Quem? Ah, o Zé. Está me saindo um linguarudo esse meu suposto vigia.

– Não se chateie com ele. Eu insisti muito.

– Tudo bem. Estou brincando.

– Você vai voltar para casa?

– Vou.

- Posso te acompanhar? - a pergunta dele ia além de seu real sentido, e eu entendi. A resposta definia se estava tudo bem entre nós.

– Claro que sim.

– Certo.

Caminhamos em silêncio por algum tempo. Minha mente estava lutando para manter minha boca calada.

Não crie mais atrito, Isabel. Esse homem é o seu chefe.

E foi justamente por isso que eu finalmente comecei:

– João, somos amigos certo?

– Eu espero sinceramente que sim.

– Que bom. Amigos brigam, não é?

– Eventualmente, creio que sim. Onde está querendo chegar, senhorita Mendes?

Ele me conhece bem, sabe que não desperdiço palavras ou pensamentos.

– Acho que esse negócio de amigo e chefe não está funcionando.

Torci para que aquilo não se tornasse uma tempestade. Ele suspirou frustrado.

– Eu temia que você dissesse isso.

– O que você acha? Sinceramente.

– Eu concordo. Já vinha pensando sobre isso ha um certo tempo.

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