"Oh, mas você deveria. Deveria se importar"
Psicose
– Isabel Mendes, uma arquiteta de sucesso! – esse é Eduardo. Ele vem fazendo chacota, com uma revista nas mãos. – Jovem promissora vai receber o prêmio de arquiteta revelação do ano no próximo mês.
– Pare com isso, Eduardo! – digo tentando tirar-lhe a revista dão mãos.
Ele se desvia. Com um movimento habilidoso me levanta e me põe em suas costas.
Carregando-me como um saco de batatas ao redor do estúdio, continua lendo partes do texto para os outros integrantes da banda que apenas sorriem.
– Me põe no chão, Edu. Por favor.
Ele obedece.
– Por que você não nos disse que ganhou um prêmio, Bel? – pergunta Carlos parecendo realmente interessado.
– Eu achei que vocês não iriam se interessar por isso. Deixa eu ver essa revista, Edu.
Ele me passa o monte de papel brilhante e passo os olhos pelas fotos. Todas elas sou eu e nenhuma delas é. Não me reconheço nelas.
– Nossa, você está lindíssima nessas fotos. – diz Getúlio espiando por cima de meus ombros.
– Nada como uma boa maquiagem e um photoshop, claro. Nem parece comigo.
– Parece sim! – Eduardo toma a revista de minhas mãos. – Isso é meu!
Mostro a língua infantilmente.
– Então você é uma arquiteta talentosa, também. Além de uma estrela do jazz. – galantea Carlos.
– Que tal, para comemorar tudo isso, não deixarmos nossa estrela escolher uma música para o repertório?
Ouço a proposta de Eduardo e não consigo disfarçar minha excitação. Sorrio como uma criança. Eu queria aquilo há algum tempo.
– Que tal? – ele reforça.
– Acho que podemos confiar em nossa garota prodígio. – Carlos dá o voto de confiança.
– Não sendo uma música do Sepultura, eu topo. – diz Getúlio não tão confiante.
– Podem ficar sossegados, rapazes. Tenho a música perfeita. Quero cantá-la faz tanto tempo. Tenho certeza que não vou decepcioná-los.
Os dias estavam passando rápido demais. As coisas aconteciam sucessivamente fazendo tudo parecer um grande bloco no tempo. O sumiço do João, aquilo da Vice-Presidência da empresa, o novo emprego, a banda, o prêmio, cirurgia do PP. Tudo aquilo fazia parecer que o tempo corria acelerado, esvaindo rapidamente minhas chances de recompor-me.
Naquela tarde eu estava acabando o discurso de agradecimento pela premiação. No início parecia uma coisa tão distante, mas, de repente, já aconteceria no dia seguinte.
Eu havia acabado de guardar a folha de papel quando a campainha tocou. Através do olho mágico vi o Zé com flores nas mãos.
– Oi, Zé.
– Oi, Isabel. Entregaram para você.
Ele me passou um lindo buquê de rosas brancas e uma caixa brilhante envolvida com um grande laço prateado. Imediatamente abri o envelope que estava entre as flores.
– Esse seu meu pai é mesmo um cavalheiro. Vamos ver o que ele diz...
Parabéns pelo prêmio.
Você realmente merece.
João
Li em voz alta e fui surpreendida ao descobrir o remetente. O Zé percebeu meu incomodo e educadamente pediu licença.
Fechei a porta e andei pelo apartamento sem motivo ainda segurando as flores. A caixa por sua vez escapou de minhas mãos tocando o chão.
Parabéns pelo prêmio. Você merece, merece... João. Parabéns.... João...
As palavras reverberavam em meus pensamentos, me incomodando até que eu explodi.
Gritei com toda a força de meus pulmões, fazendo minha garganta queimar.
Arremessei as flores contra a parede e pétalas se desprenderam e voaram pela sala.
– Eu estou com medo e ele não está aqui. Estou tão cansada. Nós prometemos cuidar um do outro. Ele prometeu e eu estou sozinha.
Meus ombros começam a subir e descer enquanto choro sem controle. Deito no chão e choro. Antes de perder a consciência uma das conversar com Daniela volta a minha mente.
– O João me disse que você está tendo problemas para dormir.
Ele disse?
– Sim, estou.
– Não consegue dormir regularmente? - insiste a psicologa
– Não consigo.
– Em nenhuma circunstância? - ela me provoca
– Não consigo dormir quando estou sozinha.
A luz que invade a sala me acordou. Levantei do chão dolorida mas determinada. Tudo parece um pouco melhor depois que consigo dormir. Olho para a caixa abandonada no piso.
Estou apavorada. Não mereço o prêmio, mas vou lá recebê-lo com medo mesmo. Eu não mereço escolher o repertório da banda, mas vou lá cantar de qualquer maneira. Eu posso e eu vou.
Aproveitando esse repentino surto de ânimo decido abrir o presente. Seu interior revela um lindo vestido cinza. Sem pensar o experimento e é como se ele tivesse sido feito para mim.
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Os Cem Melhores Filmes
RomantizmIsabel é uma jovem independente e determinada que encontra seu verdadeiro amor. Porém, isso tudo é colocado em xeque quando ela perde Eric e precisa recuperar sua confiança e esperança com a ajuda de alguém que não contava. =========================...