25 [Sem casa]

764 74 398
                                    

— Esse foi o último. — disse Percival, referindo-se a um dos bruxos que tinham prendido.

Era o primeiro caso do ano que estavam encerrando, Tina estava orgulhosa por participar de um que teve êxito tão rápido.

Ainda era estranho para ela ter Percival ao lado como auror, invés de um superior.

— É muita coisa. — disse ela, olhando para os mais variados objetos dispostos de forma organizada na sala. — O quanto mais será que passou por aqui?

Tina andou pela sala ampliada magicamente. Havia todo tipo de coisa: castiçais, varinhas, quadros, armários. Uma infinidade. Eles teriam trabalho para catalogar todos os itens.

Ela se aproximou de um espelho. Tinha uma aparência comum, nada de extraordinário, mas ela não podia esperar nada de comum vindo de contrabandistas. Ficou de frente para o espelho, ele refletindo a figura de casaco e calças escuras que era Tina. O reflexo dela ficou turvo, como se uma névoa entrasse no vidro. Tina franziu as sobrancelhas e deu mais um passo.

A imagem mudou. As mãos de Tina tremeram, juntamente com o lábio inferior e peito dela. Os olhos dela encheram-se de lágrimas.

— Afaste-se, Tina. — instruiu Percival.

Tina deixou de olhar a imagem no vidro para encarar Percival ao seu lado, também em frente ao espelho. Ao notar os olhos arregalados dele e a dificuldade de engolir visível na contração da garganta, ficou óbvio para Tina que ela não foi a única que viu algo além do próprio reflexo.

— O que é isso? — ela apertou uma mão na outra, tentando evitar que elas continuassem a tremer.

Percival apontou para a parte superior da moldura de bronze que enquadrava o espelho. Estava escrito Somnum Exterreri, pesadelo.

— Teve um bruxo que foi torturado com ele quando eu estava entrando no departamento. Meu tio cuidou do caso na época. — Percival estendeu a mão para uma manta surrada que estava numa estante próxima e a aumentou de tamanho de modo que pudesse cobrir o espelho. — Dois bruxos foram presos como culpados, mas não falaram onde o espelho estava. — Percival fez uma pausa estudando o rosto da auror. — Você está bem? Viu algo?

— Nada de bom. — uma onda gélida passou pelos ossos dela. — O que você viu?

— Nada de bom, também. — ele deu um sorriso minúsculo de lábios apertados.

Tina passou as duas mãos pelo rosto afim de espantar qualquer vestígio das lágrimas. Deu as costas ao espelho e viu dois aurores conversando em frente a uma estátua de três cobras entrelaçadas, provavelmente comentando a bizarrice de ter uma cabeça canina esculpida no meio delas.

Ela passou no MACUSA para preencher parte do relatório do caso, ficou lá até o departamento esvaziar, e decidiu que era hora de ir embora. Foi para o apartamento, preparou um macarrão e sentiu falta da comida da irmã enquanto terminava a refeição.

Ela dormiu logo, mas não foi o sono tranquilo que esperava para tirar a exaustão. As imagens do espelho repetiram-se em sua mente, ela acordou dando um grito rouco e ofegando. Ela sentou na cama tentando recuperar um ritmo normal na respiração, passou os dedos nas bochechas e encarou com horror as pontas dos dedos molhadas pelas lágrimas. Soltou um suspiro, apoiando-se na parede e fitando as cobertas cor de rosa na cama em frente.

Ela perguntou a si mesma por que continuava em Nova York. A irmã mudou para Londres e construiu uma nova vida e Newt estava no ministério. Ela imaginou que aquela hora Queenie estaria dormindo ao lado de Jacob, o magizoologista estaria debruçado na máquina de escrever ou remexendo o estoque de poções com Pickett acomodado no ombro. Tais pensamentos a fizeram sentir imensamente solitária e, de repente, ela se deu conta de que o emprego no MACUSA não lhe parecia a coisa mais importante.

Como prometi, voltei [Newtina]Onde histórias criam vida. Descubra agora