20 [Sombras]

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Um silêncio que sufocava Newt instalou-se na mesa. O magizoologista olhou com um misto de curiosidade e preocupação uma pequena cicatriz na maçã direita do rosto de Leta. Ele tinha certeza que na época da expulsão ela não estava ali.

— Poderia parar de encarar? — questionou ela com o indicador sobre a própria bochecha.

Leta havia ganhado aquela cicatriz numa discussão com o pai e o anel de esmeralda que ele usava fez o favor deixar a marca, mas não havia a necessidade dela humilhar a si própria e contar a história do pequeno risco pálido para ele.

— Você sempre encarou minhas sardas. — respondeu ele.

O silêncio novamente se instalou entre os dois, Leta se inclinou para frente e bufou.

— Fazem anos, Newt. — ela disse quase casualmente. — Desculpe.

— Uma carta. — ele disse. — Nem ao menos uma carta.

— Imagine se eu fosse expulsa por causa de uma confusão daquelas, a reação do meu pai — ela deu o primórdio de um sorriso amargo que logo foi desfeito. — seria o fim do mundo.

— E como você acha que foi a reação do meu pai. — ele indagou.  — Ele considerou um fim de mundo. 

— Mas não foi, você publicou um livro. Ouvi dizer que pensam em adicionar ele a lista de Hogwarts.

Os olhos de Newt se alargaram em curiosidade.

— Onde ouviu isso? — perguntou ele.

Ela deu de ombros.

— Por aí. — ela respondeu com um sorriso divertido. — As notícias se espalham rápido, você sabe.

Ele abaixou o olhar para o copo sem dar qualquer comentário em resposta. Leta fez sinal para um homem e falou algo em francês.

Uma garrafa de vinho foi colocada na mesa junto de duas taças. Ela perguntou algo e o garçom negou com a cabeça. Ela assentiu e agradeceu.

— Quando aprendeu a falar francês? — ele perguntou.

— Quando você se tornou um magizoologista que viajou o mundo? — ela despejou o vinho nas duas taças. — O tempo passou, é normal que tenhamos novidades.

Ele a encarou e ela estendeu a taça. O álcool fazia algumas inibições do magizoologista diminuírem, fazendo com que ele conseguisse olhar alguém nos olhos por mais de dois segundos.

Ela balançou suavemente a taça e o líquido girou num redemoinho. Newt aceitou a bebida.

— Acho que esse reencontro merece um brinde. — ela ergueu a taça. — Ao sucesso do seu livro.

— Às criaturas mágicas. — era uma correção.

A taça dele tintilou com o encontro da outra. 

— Os vinhos franceses são ótimos. Melhor do que esse conhaque que está tomando. — ela tomou um gole do vinho. — O que te trouxe a cidade das luzes?

Ela abriu um sorriso provocador, ele conhecia aquele sorriso bem demais. Em anos nunca o esqueceu, agora podia confirmar que não tinha mudado um único detalhe.

— Vim atrás de uma espécie de lesmalenta. — respondeu.

— Não deveria estar numa floresta então? — a sobrancelha direita dela levantou-se.

— Tem um criador na cidade. — ele explicou a falsa resposta. — E você?

— Digamos que virei uma investidora. Estou aqui para fechar negócios com o dono de uma loja, talvez a possibilidade de abrir uma no beco diagonal.

Como prometi, voltei [Newtina]Onde histórias criam vida. Descubra agora