1 [América]

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Março de 1928

O navio atracou no porto. Havia uma pequena multidão de pessoas esperando pelos recém chegados, todo tipo de gente que agora pisava em solo americano.

Um homem de cabelos castanhos, que confundiam-se facilmente com ruivo, e casaco azul segurava com firmeza uma maleta de couro e um livro de capa igualmente azul, um exemplar pertencente a primeira edição de "Animais fantásticos e onde habitam".

Não era do costume de Newt procurar pelos olhos de alguém, sempre fora tímido e tinha muito mais jeito com criaturas do que com pessoas, mas procurava por um par em especial. E ele encontrou: Tina Goldstein estava parada com um sorriso discreto e pequeno perto das cargas  que embarcariam no navio assim que reabastecesse o combustível.

Ele andou com passos rápidos até ela, desviando ocasionalmente de uma ou outra pessoa que interrompia o fluxo da passagem para cumprimentar e saudar aqueles que saiam do navio.

— Eu vim. — ele disse o óbvio e estendeu o livro do qual a auror a sua frente tanto aguardou. — Trouxe um para você.

O sorriso de Tina se abriu mais e suas mãos, mais pálidas e lisas que as dele, pegaram o livro. Newt sustentou o olhar, um fenômeno raro para o britânico. Não esperava que sentisse o peito tão acelerado ao encontra-la de novo. Foram inúmeras as cartas trocadas, toda semana, raríssimas foram as exceções, recebia uma carta dela e mandava-lhe uma resposta também, mas aquele formigamento que sentia ao lê-las não se comparava ao estar ali diante dela.

— Está com fome? — ele assentiu em resposta a pergunta dela.

A morena o guiou pelas ruas de Nova York. Trocaram poucas palavras no trajeto, ambos um pouco sem jeito e com diálogos curtos,  ela comentava vagamente de como o trabalho era sempre uma correria e Newt, por sua vez, dizendo quase o mesmo sobre o ministério britânico. Chegaram ao destino: .

Newt sorriu quando chegaram ao destino: Kowalski Bakery. Constatou com felicidade que a padaria era movimentada, o amigo — poderia rotular-se assim — havia se dado bem no novo negócio, e também ao ver que os doces tinham a forma de suas criaturas. Era um bom sinal, ele ainda se lembrava delas.

Adentraram no estabelecimento fazendo o sino da porta tocar e sentiram o cheiro inebriante dos doces.

Haviam pelo menos três pessoas na fila quando Newt foi atendido. O no-maj o encarou por alguns segundos e deu um sorriso de canto.

— O que vai pedir, senhor? — Jacob abriu um sorriso mais caloroso e receptivo.

— Alguma sugestão? — perguntou Newt, olhando os doces em forma de pelúcio.

— Bom... temos muitos, se preferir os doces, acabam de sair uma fornada de bolinhos de baunilha e amoras. — informou Jacob. — Gosta de amoras? — Newt apenas acenou com a cabeça.

— Dois, por favor.

Tina esperou na porta, descruzou os braços quando Newt saiu e ele estendeu um dos pequenos doces para ela.

— Newt... — ela começou de forma paciente. — Queenie veem todos os dias aqui para comprar pães. — A morena apertou os lábios e continuou num tom mais baixo: — Ou melhor, ver Jacob.

— Eu insisto. — Newt sacudiu de leve o bolo. — Pegue.

A auror comprimiu os lábios, enquanto ele escolheu encarar o chão ao invés do rosto dela.

— Só metade. — pegou o bolinho, partiu ao meio e deu um pedaço de volta para ele. — Então, o que fez nesse tempo?

Tina não tinha a mesma facilidade e animação da irmã para puxar assunto, as vezes invejava um pouco isso. Newt terminou de mastigar o que tinha na boca, ela teve vontade de rir vendo que um pouco de creme de amora ficara acima dos lábios dele, formando algo parecido com um bigode.

— Tem um... —  Tina passou os dedos sob o próprio rosto a fim de indicar a lambança embaixo do nariz do bruxo.

Newt olhou para uma vitrine tentando ver o próprio reflexo e limpou, um tanto constrangido, o creme de amora.

— Minha última viagem teve um atraso para acontecer, mas deu certo nos final. Contornei boa parte do mediterrâneo.

— Teve problemas em usar rede de flu? — ela indagou, apesar de saber que o homem utilizava outros meios em suas viagens.

— Foi no embarque do navio mesmo, nada de mais. — ele deu de ombros. — Eu resgatei um filhote de unicórnio depois que voltei, estava muito debilitado, mas agora está tendo um recuperação rápida.

— Dizem que eles são os mais bonitos animais. — Tina deu um risinho lembrando da época de escola, quando a loira falava todo santo dia que amava unicórnios e que amaria ainda mais ter um. — Queenie iria pirar se visse um.

— Ele ainda está na minha maleta. Vocês podem ver, essa noite assim que eu tiver alimentado todos os animais. — Newt arregalou um pouco os olhos e se apressou para continuar: — Se não quiserem tudo bem.

— Acho que Queenie adoraria. — Tina deu um sorriso pequeno.

Ficaram em silêncio por alguns instantes, continuando as passadas num ritmo sem pressa.

— Vai ficar em um hotel? — indagou ela.

— Sobre isso, gostaria de pedir um favor. — ele começou, não encarando a morena e perguntando para si se não estaria sendo invasivo demais na vida das Goldstein, como se já não tivesse feito tal questão dezenas de vezes no navio.

A auror virou a cabeça, demonstrando que estava prestando atenção ao que ele falava.

— Será que posso deixar minha mala no seu apartamento? — Newt coçou a nuca. — Não vai incomodar, só basta deixar ela no chão.

— Por Mercy Lewis, Newt. — ela soltou um suspiro no final da frase, pensando que era algo mais grave. — Claro que pode, tenho certeza que Queenie vai aceitar te receber lá em casa.

— Obrigado. — ele trocou a maleta de mão e deu um sorriso diminuto.

— Tenho que voltar ao trabalho, não pude tirar o dia todo de folga. — ela conferiu as horas no relógio de pulso.

Ele foi puxado por ela até um beco e aparataram após ela certificar que não havia ninguém olhando.

O apartamento das Goldsteins estava igual ao que Newt tinha nas memórias. Tina recolheu uma blusa do sofá e tacou a peça para dentro do quarto, fazendo Newt lembrar-se de uma atitude parecida um ano antes, quando ele ainda era apenas um estranho — e criminoso no ponto de vista dela — sendo obrigado a entrar ali.

— Sobrou um pouco de algumas tortinhas que Queenie comprou hoje, sirva-se. — Tina indicou a mesa. — Tenho que ir.

Ela deixou o livro dado por ele em cima da mesa, pretendia iniciar a leitura assim que acabasse o expediente, abriu os braços e Newt no mesma hora estendeu a mão, enquanto Tina estendia a mão para aceitar o aperto dele, o britânico abriu os braços.

Os dois trocaram um sorriso envergonhado.

— Te vejo mais tarde? — as sardas de Newt ficaram mais aparentes com o rosto corado.

Tina concordou e virou de costas, tirou a varinha de dentro das vestes e, com ela apertada entre os dedos, aparatou.

Caminhou com passos apressados. Avistou Queenie no hall do MACUSA, mas passou direto por ela, não querendo dar tempo para a loira ler sua mente. Viu a expressão boquiaberta dela, mas não cessou as passadas largas. Foi até o departamento de investigações, enfiou o rosto em uma pasta qualquer para que pudesse dar a desculpa de estar organizando ou fazendo relatórios.

A única coisa que ocupava a mente bagunçada de Tina era o britânico que estava em seu apartamento e quantas horas faltavam para que reencontrasse ele.

O pensamento de que Newt Scamander finalmente estava em Nova York era suficiente para faze-la sorrir  abertamente.

Como prometi, voltei [Newtina]Onde histórias criam vida. Descubra agora