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Entro em casa quando não consigo mais ver a figura de Gustavo na esquina. Eu estou completamente assustada, sem saber o que pensar. Não adianta ficar plantada na frente de casa e talvez levantar questionamentos dos meus vizinhos e principalmente dos meus irmãos.

Nada no mundo conhecido por mim pode explicar o que eu sinto no meu peito – mesmo que eu não consiga determinar se foi uma experiência boa ou ruim.

Talvez seja um sinal para que eu fique longe dele.

Enquanto eu tranco o portão, reviro em minha mente todas as coisas que eu senti quando estive apaixonada por alguém – não que seja o caso nessa situação específica, eu nem conheço o cara direito – mas nada se assemelha.

Eu só sei que não é normal.

Assim que passo pela sala pequena de casa, dou um oi ausente para o meu pai, que como sempre, está assistindo algum seriado de faroeste antigo na televisão. Eu consigo ouvir minha mãe cozinhando no outro cômodo e não preciso perguntar para saber que meus irmãos saíram e só voltariam no domingo à noite. As coisas na casa Perucci nunca mudam. Eu me trancaria no quarto e só sairia no sábado à tarde, quando fosse hora de almoçar e assistir algum filme velho com o papai – tradição inquebrável da nossa família (que apesar dos meus irmãos ignorarem, eu continuo firme para agradar meu pai).

Subo para o meu quarto e tranco a porta, o coração descompassado. Nunca estive tão assustada na minha vida. Eu fui criada com dois irmãos mais velhos, que me ensinaram que não deveria ter medo de nada, que deveria enfrentar tudo que viesse contra mim. Mas como enfrentar algo que eu nem compreendo?

Jogo minha bolsa na cama, me dando conta de que agora não dá mais para evitar contar o que acontece para minha melhor amiga. Talvez ela saiba o que fazer. Eu estava evitando contar sobre todo o assunto "Gustavo" para ela, porque como sempre, ela tem uma tendência ao exagero.

Pego o meu celular e abro o Whatsapp, mas hesito ao abrir a conversa dela. Larissa saberia o que fazer, saberia como agir. Ou talvez simplesmente risse da minha cara e me mandasse tomar remédio para a cabeça. Nem mesmo eu sei ao certo a reação da minha amiga. Mas eu preciso dela.

Melinda: Lari... você tá ai? Preciso conversar com você...

Não demora nem dois segundos para vir a resposta e eu rio, imaginando a Larissa grudada no celular.

Larissa: Oiiiiii more, o que foi? Odeio quando você fala assim, parece que acabou o mundo.

Melinda: Então, o mundo está meio estranho mesmo viu... promete que não vai me interromper até eu terminar?

Larissa: Ai meu Deus, o negócio é sério né? Conta logo.

Melinda: Se prepara... acho que você vai gostar dessa... Eu voltei de férias essa semana né... e conheci um cara...

Larissa: um cara! Eu sabia que era algo assim.

Melinda: cala a boca Larissa, me deixa terminar droga. Falei para não me interromper.

Larissa: pode falar, sua feia. 

Melinda: Obrigada. Então... eu tive uma impressão muito estranha quando olhei para ele. Lari, eu não tenho o menor controle de mim mesma quando estou perto dele, é bizarro, e hoje quando ele me acompanhou até em casa uma coisa ainda mais estranha aconteceu quando apertamos nossas mãos.

Larissa: PERA UM POUCO AI, VOCÊ TÁ CONTANDO TUDO ERRADO! COMO ASSIM ELE TE LEVOU NA SUA CASA? PODE CONTAR ESSA HISTÓRIA DIREITO SE NÃO VOU ATÉ A SUA CASA TE BATER.

A Chance do TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora