O tempo passado no avião é torturante, e Gustavo não consegue disfarçar como está ansioso. Nunca foi uma pessoa mesquinha, mas todas as pessoas inocentes ao seu lado estão sofrendo com seu mal humor.
E tudo porque Melinda foi embora sem dizer uma palavra para ele.
No início, ele pensou que ela foi por vontade própria – talvez algo tivesse acontecido com seus pais, ou alguma notícia do psicopata atrás dela. Mas enquanto arrumava sua mala para voltar, lembrou-se de tudo que foi dito por Vó Neide. Todas as conclusões dela de que Melinda seria a causadora de sua morte, e que ele deveria deixa-la ir.
Não deveria ser mera coincidência que logo após leva-la à casa da idosa, Melinda teria simplesmente desaparecido. Como foi tolo por deixa-la sozinha. Sua preocupação era muito maior que o seu bom senso no momento em que Melinda gritava de dor.
Ele confrontou a avó logo depois de sua mãe contar a notícia de que a garota tinha ido embora, toda feliz.
— Ah filho... ela pegou as coisas dela e foi embora! Pediu para um dos ajudantes leva-la até a cidade — sua mãe parecia que estava dando a notícia banal de que um dos cachorros fugiu. Ela deveria estar adorando a ideia de que Melinda não estava mais por perto.
Ele entendia os motivos de Vó Neide – entender não é bem a palavra. Ele respeitava sua decisão de não querer Melinda perto dele, mostrando tudo o que ele viu na Tchecoslováquia. Mas sua mãe? Que motivo teria ela para humilhar e tratar como lixo uma pessoa que ela nem conhecia, pela qual Gustavo demonstrava gostar e querer por perto?
Ela nunca fez esse tipo de coisa com Juliana. E sua suspeita dos motivos de sua mãe o deixavam mais que irritado. Fez perceber que sua ida para São Paulo e a negação ao dinheiro e legado da família foi a melhor coisa que já fez.
— Me diz uma coisa, mãe. A senhora vai fazer a comemoração agora ou vai esperar, para parecer que se importou um pouco?
Olívia Webber não é uma mulher que entregava fácil o que pensava, sempre com um sorriso gentil, mesmo quando brigava com os filhos. E o olhar que ela lançou ao filho poderia ser de complacência ou de irritação, ele não tinha como saber.
— Não entendi o que quis dizer, Gustavo. Não estou triste porque ela foi embora, mas não precisa tratar sua própria mãe dessa forma. Só me faz ter a certeza de que ela não era a garota certa para você. Foi a única coisa boa que ela fez desde que botou os pés em Novo Hamburgo, ir embora.
— E o que exatamente ela fez pra merecer esse tipo de comportamento? Qual foi a ofensa tão grande que ela representou? Tem a ver com dinheiro? Não acredito que possa ser tão mesquinha assim...
— CALA A BOCA, GUSTAVO! Não se atreva a falar com a sua mãe dessa forma. Eu não ia deixar que aquela umazinha entrasse na minha família, apenas para destroça-la. Você entendeu? Esta família é tudo para mim. E nunca, ninguém, seja sua namorada ou qualquer pessoa que traga para dentro desta casa, vai conseguir nos destruir.
Gustavo se lembra de ter ficado perplexo, sem entender como Melinda poderia fazer qualquer mal a algum dos Webber – até que ligou todos os pontos. Vó Neide deveria tê-la envenenado com as suas palavras, com sua obstinação em dizer que Melinda o faria morrer.
— Então é isso... vocês duas preferiram se juntar e mandar Melinda embora pelas minhas costas. Obrigada, senhora minha mãe, por ter feito com que a mulher que eu amo fosse embora, quando sua vida já está correndo perigo.
Ele pegou suas coisas e estava prestes a sair, quando sua mãe o chamou, pedindo que explicasse. Diferente de Vó Neide, a mãe dele era uma pessoa menos obstinada, passível de sentimentos causados por seus atos.
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A Chance do Tempo
ChickLit"Melinda não é feliz. Apesar de ter uma família amorosa, trabalhar com algo que parece fazer a diferença para alguém - mesmo que não para ela - e ter ótimas amigas, falta algo. Mas ela deixa de pensar nisso quando o seu mundo vira de ponta cabeça ap...