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A criada está correndo com as toalhas e guardanapos para o banquete, que Signora Filomena mandou lavar e passar mais cedo. Como na outra ocasião, esta deverá ser grandiosa e rica, sem chances para erros – principalmente os dela. Sforza é um dos maiores convidados que já pisou naquele castelo, e os Strozzi querem que tudo esteja perfeito.

Ele e sua comitiva já estão no castelo há alguns dias, mas os senhores mais importantes estão na casa de campo da família, caçando. Os mais velhos e as mulheres ficaram no castelo, desfrutando da hospedagem da Signora Strozzi, com seus jantares e jogos. Hoje os homens retornarão, e um grande banquete está sendo feito para comemorar. Maior do que o oferecido à noiva do jovem mestre.

Melinda não entende como que os ricos querem sempre comemorar com jantares e banquetes. A dança e um baile também será oferecido, e Filomena a convocou com algumas outras criadas para sua sala.

— Vocês terão que participar do baile, também. A Signora Strozzi quer que o número de moças disponíveis para as danças seja igual ao de homens. Acredito que todas sabem dançar. Se tem dúvidas, diga-me agora para que possamos ver o que pode ser feito.

Melinda imaginou que o baile fosse um agrado ao seu ilustre convidado – como ela patrulhou o castelo inteiro para que ele e Cecília não se encontrassem escondidos, pelo menos poderão dançar juntos.

Ela não se sentiu confortável com a ordem de Filomena, e estava preparando sua objeção quando Sofia deu um gritinho animado, batendo palmas e fazendo perguntas sobre os trajes que usariam no baile. Filomena explicou para elas que a Signora deu vestidos velhos de suas filhas mais novas para elas, que foram lavados e passados pelas camareiras – que as ajudariam a se arrumarem após o banquete.

Como Sofia e Melinda ainda trabalhariam no jantar, elas seriam as últimas a se juntarem aos convidados no salão. Todas saíram animadas – com a vinda de Sforza, Filomena contratou mais garotas das vilas próximas para ajudar no castelo – mas a governanta pediu para que Melinda esperasse. Seu coração disparou com o medo, ou talvez com a expectativa de que fosse retirada desta obrigação. Ela não queria ficar próxima de Gustavo, não depois do último encontro deles. E no fundo, ela também queria ficar longe de Sforza – todos os avisos do mestre rondaram sua mente como ameaças subentendidas.

— Melinda, saiba que eu não queria que fosse escolhida para esta tarefa. Mas a Signora Strozzi sabe como sua figura embelezaria o salão. Então te aviso apenas esta vez: fique longe do meu menino Gustavo. Dance com os velhos, até com o maldito Sforza, se ele conseguir tirar as mãos de sua amante, mas não se atreva a olhar para Gustavo. Estamos entendidas?

Melinda sustentou o olhar feroz de Filomena, e apenas anuiu com a cabeça, sem forças para responder.

Desde então, está correndo de um lado ao outro para que tudo saia perfeito – porém, sua cabeça está cheia de imagens intrusas dela e Gustavo dançando, as mãos se tocando levemente, enquanto giram ao redor um do outro. Ela deveria ter protestado sobre sua participação, falando que não sabia dançar. Mas aparentemente sua presença é uma exigência da grande Signora da casa, e nada poderia afastá-la do salão.

Ela pensa no vestido estendido em cima de sua cama, a coisa mais bonita que já viu na vida. O tecido rico e brilhante não deixava ninguém imaginar que era antigo e descartado pela jovem Strozzi que o doou. A cor preta combina com seu humor, tão diferente do que Sofia irá usar – um exemplar vermelho vivo, para combinar com seus cabelos em chamas. Uma caixa de madeira foi deixada ao lado do vestido – joias para que elas não pareçam reles empregadas. Sofia se maravilhou com as gargantilhas e brincos, mas Melinda não se sentiu confortável em ver o que a Signora tinha emprestado para ela.

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