Gustavo volta para casa, incapaz de ir ao trabalho. Incapaz de pensar em qualquer coisa que não seja Melinda. Ela é tão teimosa que ele chega a se sentir frustrado. Como pode querer enfrentar tudo sozinha? Resolver a situação deles sem a sua ajuda?
Mas ele sabe que tudo foi decidido depois que Vó Neide deu seu veredicto final. Ela o ama o bastante para se afastar dele, e morrer sozinha. Pelo menos ele ficou um pouco feliz por saber que ela também está procurando por uma resposta – e não apenas aceitando tudo placidamente.
Apenas por isso a deixou ir com André... mas ele já decidiu que não vai deixar as coisas como estão. Não seria apenas ela que procuraria por uma solução. Ele tem fatos e com isso, acredita que pode salvar os dois.
Ele abre seu celular, mandando uma mensagem para Melinda – era o mais próximo que ele chegava dela, e mesmo sem resposta, não pararia de tentar. Gustavo procura por um amigo em especial, um psiquiatra que conheceu em uma das festas de sua faculdade.
Gustavo ainda se lembra como a conversa dele o fascinou na época – regressão e hipnose. Apesar de fascinado, apenas a teoria parecia interessante a ele na época. Mas agora ele acredita que essa pessoa possa ajuda-la.
Melinda tem acesso por sonhos à sua vida anterior. Talvez se ele conseguisse ver também, pudesse achar alguma coisa que pudesse ajudar. Ele manda uma mensagem a este amigo, pedindo para marcar uma consulta o mais rápido possível. Seu desespero é perceptível na mensagem, e logo ele recebe uma resposta, pedindo para ele ir ao consultório do seu amigo hoje ainda, se for realmente urgente.
Seu telefone toca, e ele atende sem olhar, imaginando ser Melinda, mas ele escuta a voz melosa de Mariana do outro lado, fazendo suspirar aborrecido.
— Fala, Mariana. O que foi?
— Guga, cadê você? Sabe que tá todo mundo irritado com a sua ausência né? Seu trabalho tá sendo acumulado e o Alberto tá tendo que fazer hora extra... pensamos que você finalmente daria as caras hoje.
— Eu tive um problema, e não vou poder ir hoje. Fala para o Alberto relaxar porque eu to fazendo minha parte. Quando ele resolveu viajar sem contar para ninguém, quem que passou os panos para ele? — Gustavo tenta refrear sua raiva, mas é impossível.
Seu amigo de trabalho, aquele que sempre conheceu e o acompanhou onde ele fosse, é o mesmo que atirou na cabeça da cigana, em Ostrava. Gustavo ainda não tinha pensado muito bem nisso, mas a presença de outras pessoas ligadas ao seu passado e ao de Melinda o preocupam – ele não sabe qual pode ser o papel delas agora.
Ele só sabe que Alberto nunca mais colocará os olhos em Melinda.
— Sim... eu já lembrei ele disso! Mas Guga, você não veio a semana passada inteira... só apareceu na sexta para assinar aquele memorando do fim do programa Atendimento Terapêutico. Você precisa de alguma coisa? Eu posso ir na sua casa e conversamos a respeito...
A mera possibilidade de ter Mariana em sua casa parece errada, quando apenas Melinda foi permitida a entrar no seu mundo particular. Todos os anos em que dormiram juntos, Gustavo sempre foi na casa dela, ou a levava para algum hotel. Assim como todas as outras.
— Não. Não quero que você venha. Já conversamos sobre isso, Mariana... não existe mais nada entre nós dois.
— Isso eu já entendi. Não sou burra, tenho um pouco de amor próprio. Estou oferecendo a minha amizade. Você nunca fez nada do tipo, e achei que tinha algo errado. Podemos nos encontrar em algum lugar se você quiser.
Ele pensa na oferta – um amigo para conversar talvez seja o que ele precise. Pensar em tudo sozinho faz sua cabeça doer. Mas mesmo que ele confie em alguém para contar o que há de errado com ele, Mariana seria a última pessoa.
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A Chance do Tempo
ChickLit"Melinda não é feliz. Apesar de ter uma família amorosa, trabalhar com algo que parece fazer a diferença para alguém - mesmo que não para ela - e ter ótimas amigas, falta algo. Mas ela deixa de pensar nisso quando o seu mundo vira de ponta cabeça ap...