Gustavo nunca se sentiu tão claustrofóbico em seu próprio carro. Os outros três não ficam quietos, enquanto ele dirige rapidamente para o endereço que Melinda mandou para seu irmão.
— Eu ainda acho estranho esse endereço, não é o lugar que a avó dele falou! Estamos indo para a Lapa e não para o bairro do Limão. Ninguém mais acha que isso é estranho? E como ela teria conseguido enviar o endereço, pode ser só uma armadilha dele — a voz de Larissa continua histérica, enquanto ela mexe no celular, procurando por imagens do endereço.
— E você acha que devemos ignorar a única pista que temos do local? Mesmo que seja uma armadilha, eles teriam que estar no lugar para enviar a localização. Eu não vou ficar parado, procurando por algo que nem mesmo a Glória tem certeza — André também está um pouco histérico com a possibilidade de encontrar Melinda, a culpa ainda corroendo-o por dentro.
Para completar o circo dentro do carro, Alberto alfineta cada coisa que os outros dois falam, o traço prepotente de sua personalidade tomando conta – porque afinal, ele tem um irmão policial, ele sabe, conhece esse tipo de situação. Mas ele não sabe o que dizer do endereço ao qual estão indo.
O GPS diz que eles estão a poucos minutos do endereço fornecido – eles vão ter que procurar pela casa, já que a localização só deu a rua – e o coração de Gustavo vai se apertando mais, a cada segundo mais próximo de alguma informação sobre ela. Ele não quer deixar suas expectativas muito altas, para não perder as esperanças caso Larissa esteja certa. Ele não espera que Fernando seja burro ou relapso, e a localização enviada pode ser mesmo uma armadilha.
Mas ele acredita que Melinda esteja reagindo ao sequestro de uma maneira diferente da primeira vez. Mariana tinha dito que Fernando a fez desmaiar com um pano em seu rosto, e não com a mesma violência da primeira vez – talvez, com seu corpo intacto de violência, Melinda consiga reagir.
Ele só não quer que ela reaja a um ponto que o irrite demais e o faça acabar com tudo. Loucos são imprevisíveis – ele pode amá-la muito, mas também deve odiá-la para submetê-la a essa situação não uma, mas duas vezes.
— Olha! Estamos chegando, é a próxima rua à esquerda — Alberto pode ser um pé no saco, mas ele é um excelente copiloto, e Gustavo agradece por tê-lo ao seu lado dizendo o caminho, para que possa se preparar para o que está próximo.
Quando eles viram na rua, Gustavo já impaciente, entrando mais rápido do que deveria, a cena confunde toda sua cabeça. As pessoas que estão na rua correm para uma casa do lado esquerdo, algumas com as mãos na cabeça, outras gritando. Ele para o carro e sai correndo para o lugar onde todos olham.
As chamas sobem poderosas pelas paredes, comendo tudo em seu caminho – a fumaça que sai de dentro das janelas é preta e pesada – mas não é isso que chama atenção de Gustavo. O carro parado dentro da garagem é o mesmo que o seguiu da casa dela na semana passada, e o coração de Gustavo dá uma parada.
Esta é a casa certa – e ela está em chamas. Não tem como alguém estar vivo lá dentro.
— MELINDA! — ele tenta correr para dentro da casa, algo dentro dele morrendo com a mesma velocidade das chamas, mas Alberto é rápido também, segurando-o por trás. Ele não pode permitir que ninguém o impeça de busca-la.
Ela não pode estar morta.
Não pode.
De novo, não.
Ele mal nota Larissa e André ao seu lado, tão desesperados quanto ele – mas sem a convicção que ele tem de entrar para procura-la.
As lágrimas começam a descer, e Gustavo se sente impotente, como a criança que levava bronca de Vó Neide por qualquer coisa errada que fizesse. Como pôde deixar que isso acontecesse novamente, mesmo com tudo que soube nesta vida para que pudesse fazer diferente... o desespero e a desolação dentro de si são fortes demais, e ele quer desistir.
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A Chance do Tempo
أدب نسائي"Melinda não é feliz. Apesar de ter uma família amorosa, trabalhar com algo que parece fazer a diferença para alguém - mesmo que não para ela - e ter ótimas amigas, falta algo. Mas ela deixa de pensar nisso quando o seu mundo vira de ponta cabeça ap...