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O banho termina rápido demais, sem que eu tenha a chance de aproveitar o corpo perfeito de Gustavo, molhado, do jeito que eu sempre quis, já que sua mãe está esmurrando a porta, com algum sentido aguçado de "algo inapropriado está rolando com meu filho e a indigna". Ela está gritando que os convidados chegaram, e ele sai do banheiro para responde-la.

Eu uso a toalha que ele pega para mim, completamente frustrada e me seco sem prestar atenção ao redor. Coloco a roupa que ele comprou, me sentindo aquecida, e olho para a faixa em cima da pia. Não quero demonstrar fraqueza, mas os pontos são novos, e eu não quero foder com eles.

Pego minha escova de dentes e começo os trabalhos para parecer menos patética do que já me sinto na frente da família dele. Eu queria muito ter aceitado a oferta do piquenique, mas se o fato de eu já estar na mesa sem comer foi uma ofensa para a velha, imagina não aparecer no jantar que o pai da família mandou preparar para mim.

Meu rosto está simplesmente patético. As olheiras em volta dos olhos é de dar pena em qualquer pessoa, e o cansaço está escrito em cada linha de expressão que a idade acabou trazendo. Mas eu não trouxe maquiagem, e é o que eu tenho para hoje.

A calça de sarja verde escuro e a blusa branca de manga comprida me deixa mais confortável, e ainda bem que combinam com a minha bota estilo coturno, senão eu ficaria mais estranha. A mãe dele disse que os convidados chegaram... e eu imagino pessoas tão ricas quanto eles. Prontas para me julgarem.

Saio para o quarto, pronta para descer quando vejo Gustavo vestindo um terno azul claro, a camisa branca impecável, parecendo um modelo pronto para filmar um comercial de perfume importado, enquanto que eu pareço pronta para ir buscar uma pizza na esquina.

— Ei... não vale. Por que não me disse que o jantar seria chique assim? Olha pra mim, to vestida que nem uma adolescente — eu vou até ele, mexendo no seu terno, sentindo-me ainda mais idiota.

— Para com isso... não tem nada a ver. E mesmo se eu tivesse te falado, o que você ia fazer? Não tem nenhuma roupa chique aqui, só as que eu comprei para você, e nem mesmo eu achei que você ia precisar — ele mexe no meu cabelo e vai até o banheiro, não levando a sério a minha crise existencial.

Não quero acreditar nele, então vou até minha mala, revirando tudo, tentando achar algum tesouro escondido, mas não tem nada.

— Não é justo! De onde você tirou esse terno? Se não achou que eu fosse precisar, por que trouxe isso na mala? — grito para ele, que sai do banheiro rindo, as minhas faixas na mão.

— Eu não trouxe esse terno... eu o deixo aqui para ocasiões como essa. Então não precisa se preocupar, você tá vestida como adolescente e eu usando a mesma roupa de todo jantar importante daqui. Agora me dá a sua mão — ele não espera por uma resposta, pegando minha mão com os pontos e começando a enrolar a faixa novamente.

Ele destranca a porta e começa a sair do quarto, e a cada passo que eu dou para segui-lo me sinto mais e mais acuada. Eu consigo ouvir o barulho de conversas vindas do andar de baixo, me deixando ainda mais desesperada para ir embora. Minha Nossa Senhora das Mulheres Despreparadas, me proteja de qualquer merda que eu possa fazer e que ofenda os Webber.

Descemos as escadas e a primeira pessoa que eu vejo é Luíza, linda num vestido azul que combina com seus olhos, e me sinto a coisa mais horrível. Eu estou vestida como uma recruta do exército, e ela como uma princesa.

— Melinda! Que bom que desceu... senti sua falta durante o dia. Papai me disse que você conheceu o Pongo, espero que tenha gostado dele. É o meu cavalo de estimação.

Eu dou um sorriso, esperando que essa seja uma resposta suficiente para o que ela quer. Ainda preciso trabalhar na minha cara de paisagem, para não parecer uma idiota quando alguém me fala que tem um cavalo de estimação.

A Chance do TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora