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Vó Neide anda rápido para alguém da sua idade – um número que Gustavo nunca se atreveu a perguntar qual era. Ele a segue de perto, sem entender porque a velha tratou Melinda tão mal. Ele quer perguntar qual o problema com sua namorada, mas Vó Neide não dá chances, ela está resmungando em alemão e quase correndo pelo gramado dos fundos, em direção à sua casa.

Ela está na família há tanto tempo, que ganhou o direito de ter sua própria propriedade dentro da Fazenda, desde quando o pai de seu pai ainda era o dono das terras. Os empregados mais antigos do lugar dizem que a velha veio da Alemanha a pedido de sua avó, e desde então ganhou a confiança ferrenha dos Webber. Seu nome era outro naquela época, mas ela adotou um novo, que os empregados brasileiros conseguiriam pronunciar. Gustavo não sabia qual era seu nome verdadeiro.

Seu pai não acredita nas coisas que ela fala, mas respeita a autoridade e história da mulher. Sua mãe, entretanto, escuta as coisas que Vó Neide tem a dizer com uma fé maior do que a que deposita na igreja que vai todos os domingos de manhã – apenas por aparência, ele tem certeza.

A casa é simples, mas extremamente confortável, e a velha se senta na cadeira de balanço onde ela costumava fazer Gustavo dormir quando ele tinha dores de barriga. Todo o resto permanece o mesmo, e ele se sente voltando a ser uma criança, enquanto a observa se balançar, esperando que ele sente no lugar que quiser.

— A vida faz bem a você, meu menino. Vejo que está cada dia mais maduro e melhorando o que deve ser melhorado — ela começa assim que ele se senta no sofá ao seu lado — mas você precisa parar, meu filho.

— Parar com o que, Vó? — ele pega em sua mão enrugada, sentindo como ela está tensa.

— Essa menina que você trouxe... você tem que deixa-la ir embora. Não pode ficar com ela...

Não parece que está sendo fácil para ela dizer essas coisas, mas Gustavo não se importa, largando a mão da mulher que confiou mais do que todo o resto, durante sua vida inteira. Ele acabou de descobrir o que essa menina que ela pede que ele deixe ir significa para ele. Não tem chance nenhuma de ele permitir isso.

Ele não consegue mais ficar sem ela.

— Vó... sempre a respeitei, não me faça acreditar no meu pai, de que a senhora perdeu a cabeça! Nem conhece a Melinda e já está dizendo palavras ruins e tratando-a como se ela fosse uma ninguém. Sabe como é difícil trazer uma pessoa para a casa dos meus sem que ela queira sair correndo ou se aproveitar do dinheiro deles? Eu finalmente consegui uma e você quer que...

— Juliana também entrou nessa casa do mesmo jeito, menino.

Gustavo não consegue acreditar no que ela diz. Depois de tudo que descobriu na noite anterior, a última coisa que quer falar a respeito é de como Juliana se sentiu quando viu a fazenda de seus pais pela primeira vez. Ela era uma criança, vinda de uma família abastada, tanto quanto a dele. Não é a mesma coisa.

— Então é isso? A senhora e a Juliana se juntaram para fazer da minha vida um inferno, é isso? — ele não consegue mais ficar sentado, se arrependendo de ter tirado Melinda da segurança de seu apartamento em São Paulo para trazê-la a um julgamento gratuito em Novo Hamburgo. Ele também sentiu como sua mãe foi irônica com ela.

— Se diz que sempre me respeitou, vai sentar nesse sofá e me ouvir. Eu sou velha demais para escutar uma criança mimada como ela chorar por você. Não sou esse tipo de velha. Só posso dizer que essa garota que você trouxe hoje vai ser a sua morte, meu menino. E isso eu nunca vou permitir.

Gustavo está tão assustado com a maneira que a velha fala, que volta a se sentar no sofá, esperando que ela continue.

Luíza disse a ele algo a respeito do que a Vó Neide tinha visto em um sonho. Que ela tinha visto ele se matando. Não é possível que Melinda tenha alguma coisa a ver com este sonho. Ela não estava em sua vida quando a velha sonhou isso.

A Chance do TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora