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Melinda está deitada junto de Gustavo na cama antiga dele, o colchão macio de penas afundando suavemente com seu peso, a respiração pesada. Existe uma paz em seu coração que parece apagar todo o resto. Ela é agora um único ser com seu amor, seu jovem mestre – eles estão unidos pelo sentimento forte e inexplicável que existe.

Ela nunca imaginou que se entregaria daquela maneira a alguém, antes do casamento, antes de contar ao seu papa e sua mama como se sentia. Podem dizer que é imprudente da parte dela se entregar a um senhorio que nunca poderá assumi-la perante a sociedade. Que ela deve procurar por um bom ragazzo de sua própria vila para fazê-la uma mulher honesta. Mas ela não se importa mais, não neste momento. Tudo que aprendeu e cultivou por anos, dentro do que acredita ser seu caráter deixou de fazer sentido no momento que olhou dentro dos profundos olhos azuis de seu mestre pela primeira vez.

Ela quer apenas sentir a pele fria dele contra a sua, tão quente que poderia acreditar que está doente. Mas ela está mesmo doente por se permitir amá-lo dessa maneira... por se permitir estar na cama dele.

Desviando os olhos para sua mão esquerda, Melinda admira mais uma vez a joia que ele deu a ela em segredo, sua pedra verde brilhando mais forte que o sol no céu, talvez o bem mais precioso que algum dia chegaria a ter.

— Gustavo... o que fazemos é perigoso. Vamos fugir das terras de seu pai antes que ele nos encontre... — ela tenta argumentar com seu amado, mas ele apenas sorri em resposta, os olhos fechados, fazendo com que algo dentro de seu estômago se mexa inquieto.

Ela ainda se recorda do momento em que dançaram juntos, como se ela não fosse mais sua criada, mas apenas a mulher que dividiu momentos íntimos com ele neste mesmo quarto. Melinda sorri de volta, sentindo um orgulho desconhecido por acreditar que o homem em seus braços é seu.

Amore mio... se preocupas demais com o que pode acontecer. Feche os olhos e aproveite comigo a visão que eu tenho de nós dois — a voz dele está rouca, arrepiando todos os pelos do corpo dela.

— Conte-me então... — Melinda obedece e fecha os olhos, sentindo-se protegida nos braços dele. Nunca se sentiu assim antes.

— Consigo ver uma cabana pequena... talvez um pouco abaixo do nível de alguém tão bellissima como você... mas estás feliz, sorrindo enquanto olha nosso filho correndo pelos nossos vinhedos. Ele tem os seus olhos.

Melinda se emociona por ver que Gustavo pensa num futuro para os dois – mesmo que ela sinta a realidade fora do quarto pronta para arrebata-los. Sua família, Filomena, sua noiva.

— Eu gostaria que ele tivesse os seus olhos — ela fala baixo e passa os dedos calejados pelo rosto de Gustavo. Ao vê-lo estremecer com seu toque, ela afasta imediatamente sua mão, envergonhada.

Ela pode ter se arrumado como uma princesa para o baile, mas as marcas que carrega no corpo deixam clara sua posição inferior na sociedade.

— Podemos ter outro depois com os meus olhos — ele sorri e pega de volta a mão dela, levando-a aos lábios para um beijo. Melinda se sente um pouco mais tranquila – ele sempre soube quem ela era, de onde veio.

Antes que Melinda possa falar mais alguma coisa, a porta dos aposentos se abre num rompante, entrando o mestre Cesare e sua guarda pessoal, invadindo o recinto com violência. Melinda está pronta para fugir, mas o capitão da guarda – um homem asqueroso que sempre olhou de maneira inapropriada para ela – a puxa para fora da cama, apertando seus braços com violência. A luva de ferro que ele usa corta sua pele, mas ela continua observando a todos, mesmo estando nua, sem vacilar.

— Eu poderia pedir que explique o que acontece aqui, Gustavo. Mas acho que entendemos muito bem. Somos todos homens, não é mesmo rapazes? — Melinda nunca teve muito contato com o grande mestre, mas ele parece estar bravo, e Gustavo volta seu rosto para o pai, deixando Melinda desamparada.

A Chance do TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora