Minha cabeça está rodando, e por mais que eu tente focar minha vista, não consigo enxergar um palmo à minha frente. Talvez seja a escuridão, ou a dor na minha cabeça – ou ainda a ardência no meu nariz.
Minhas mãos estão amarradas nas costas, sinto a corda áspera arranhando minha pele, apertada. Meus pés também estão amarrados, e eu estou sentada num colchão, que está colocado no chão.
Foi assim que eu acordei, há alguns minutos, demorando um pouco para entender o que estava acontecendo. Fernando me pegou de novo, e agora estou num quarto fechado, escuro e bem gelado. O maldito tirou o meu casaco, e mesmo com duas blusas, ainda sinto o vento que entra pela madeira torta da persiana tentando congelar meus ossos.
Meus olhos começam a se acostumar com a escuridão, e vejo que dentro do quarto só tem eu e o colchão – ótimo, sem câmeras para registrar este inferno. Não consigo escutar barulho nenhum, e pela porta consigo ver uma pequena fresta de luz fraca, como se o outro ambiente estivesse iluminado por velas – sim, eu sei como seria isso, com todos os sonhos do castelo na Itália sendo iluminados por apenas castiçais e velas.
Eu estou com vontade de chorar, mas não posso me permitir. Não quero que ele pense que me venceu. Eu ainda estou viva, ainda estou aqui. Ele não pode ver o desespero que eu sinto dentro de mim. Meu coração está acelerado, o terror correndo dentro de mim como se fosse meu sangue, mas respiro fundo, contando de um a cem, até que ele fique estável. Este é o momento em que eu preciso tomar as rédeas da situação.
Se eu estou disposta a vencer uma porcaria de destino, apenas para ficar com Gustavo, não vou morrer nas mãos desse idiota.
Ele não vai vencer. Não a mim.
Talvez se eu fosse a mesma Melinda que ele conheceu, eu já tivesse desistido... mesmo se eu fosse a Melinda de algumas semanas atrás é possível que eu tivesse desistido. Mas eu sou a Melinda que não vai deixar nada me vencer. Absolutamente nada.
Eu estou com raiva de Gustavo nesse momento... mas o amo de verdade, e estou disposta a qualquer coisa para sobreviver e poder viver esse amor em paz com ele.
Continuo tentando escutar para ver se Fernando está por perto, mas o lugar parece silencioso como um cemitério, então tento mexer minhas mãos, para ver se consigo soltar a corda. Não existe uma cama agora – madeira onde ele possa me amarrar, então crio na minha mente um pensamento otimista, de que essa será a minha vantagem. Eu consigo me soltar, se tentar.
Começo a rodar minhas mãos, procurando pelo nó que prende a corda rente nelas, e quando o encontro, faço um contorcionismo digno de Cirque du Soleil para conseguir passar meus dedos por cima. A dor que eu sinto nos dedos e nos ombros não me importa, só preciso continuar puxando a volta mais solta do nó.
Consigo puxar um lado da corda, e com desespero, continuo puxando, até que a corda fique frouxa o suficiente para que eu possa sentir minhas mãos livres. Puxo elas para frente, ignorando as marcas de sangue nos pulsos e vou trabalhar na corda que está enrolada nos meus pés. Se eu continuar calma, eu vou conseguir.
Quando me livro dela, me levanto trôpega, a tontura que eu senti antes me tomando quase por completo. Eu deveria ter comido as coisas que a mãe de André me ofereceu... mas agora só preciso ser forte. Preciso tomar conta da situação. Já tive até um treino de luta corporal mais cedo – não que com Fernando seja tão fácil como foi com Mariana. Mas já é um começo.
Em silêncio eu vou até a janela, tentando abrir as persianas. O primeiro passo é identificar onde eu estou... mas a maldita madeira está empenada, e se eu continuar forçando dessa maneira, vou fazer muito barulho – e caso Fernando esteja aqui, ele vai me escutar.
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A Chance do Tempo
ChickLit"Melinda não é feliz. Apesar de ter uma família amorosa, trabalhar com algo que parece fazer a diferença para alguém - mesmo que não para ela - e ter ótimas amigas, falta algo. Mas ela deixa de pensar nisso quando o seu mundo vira de ponta cabeça ap...