Suas mãos tremiam, mas não tanto quanto o garoto que acabara de deixar a sala de exames. Antes do garoto entrar, um médico trouxera uma enfermeira confusa para cuidar dele. Nico Martin não sabia o motivo, esperava por agulhas e remédios, mas nada tão ruim.
As vozes diziam o contrário, mas não costumava escutá-las. Pelo menos era o que tentava. Todas sussurravam quão horrível seria, colocariam-no em cadeiras elétricas e amarrariam-no em camisas de força; seria um ratinho de laboratório ali. Nico sempre gostara de ratos, mas não queria ser um.
Quando seu nome foi chamado, engoliu em seco. O sorriso gentil da enfermeira não lhe acalmara, muito menos quando percebera que os exames não seriam feitos com agulhas. Por um segundo, implorou pela cadeira elétrica.
Aquilo era preciso, não era? Para ficar bem novamente. Apenas pediu que o médico saísse da sala e permitiu que a mulher o examinasse. Quando ela tocou sua pele com cautela, Nico sentiu os dedos dele. Mas estava tudo bem. Tudo muito bem. Era isso que repetia em sua mente, por mais que quisesse gritar e chorar, chamar por uma mãe que nunca estava ali.
Acabou rápido e fora diferente do que costumava acontecer. A enfermeira lhe ofereceu um copo d'água e um lenço para secar as lágrimas que sequer notara que havia derrubado.
— Sinto muito por isso, é parte das normas – ela disse, a voz era doce – Sei que muitos não gostam e respeito, mas sinto muito mesmo.
Ele apenas assentiu com a cabeça e respirou fundo. A mulher o guiou até a porta e deixou que saísse daquele leve pesadelo.
Um rapaz mais velho esperava um pouco mais à frente, os cabelos louros compridos e um sorriso. Quando Nico se aproximou, o rapaz acenou com a cabeça para que o pequeno grupo de novatos o seguisse. Ele não vestia o macacão verde de funcionários, seu traje era branco como o que fora fornecido a Martin.
— Eu sou Lukas, vou guiar vocês até seus colegas de quarto – o rapaz falou e, como se lesse os pensamentos de Nico, continuou: – Estou aqui há três anos, cuido dos novatos em troca de benefícios. Talvez ganhem isso algum dia – Lukas lançou uma piscadela aos novatos, parando de andar.
O guia tirou um papel amassado do bolso do macacão, estreitando os olhos para ler melhor as anotações. Seus olhos circularam pelo grupo, procurando o dono dos nomes que citava, conforme chegavam aos quartos. As sobrancelhas se estreitaram em pena e um sorriso nervoso surgiu em seus lábios enquanto batia na porta de um dos quartos.
A porta se abriu devagar, revelando a imagem de um garoto pequeno, os cabelos castanhos e bagunçados indicavam que acabara de levantar de um cochilo. Arqueou uma sobrancelha, como se apressasse Lukas.
— Nico Martin, Noah Seamus – o guia pigarreou – Este é Ronan Simmons, seu colega de quarto. Ele vai mostrar o instituto para vocês. Acho.
Lukas partiu com os outros garotos apressadamente, deixando para trás Nico e o garoto trêmulo que agora possuía um nome – Noah –. Ambos se entreolharam, enquanto Ronan não se movia ou emitia uma palavra, apenas fitava os dois com seus olhos escuros, como se pudesse enxergar o fundo da alma de cada um.
Não mostrou-lhes o instituto, pelo contrário: empurrou os garotos e sumiu no corredor, deixando para trás apenas o eco de vozes culpando Nico por ter causado uma má impressão. Fechou os olhos com força por alguns segundos e arrastou suas malas para dentro do quarto, sendo imitado discretamente por Noah. Sentou-se em uma das duas camas intactas, os cobertores brancos e limpos cheiravam a produto de limpeza.
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Éden
Science FictionO Instituto Psiquiátrico New Eden é um local acolhedor que preza pelo conforto e pela restauração mental de seus jovens pacientes. No entanto, quando monstros se infiltram no local, oito residentes passam a se perguntar se o que vêem é real ou se é...