Alguns pacientes, os mais antigos, costumavam receber um tratamento menos rigoroso que os outros. Ronan era um deles. Já sabiam como era difícil argumentar com ele e não queriam desperdiçar seu tempo tentando lutar contra seus caprichos.
Por isso ninguém se importava mais se Ronan estava presente ou não nas aulas. Era melhor que não estivesse, de qualquer forma, ele sempre dava um jeito de fazer alguém perder a paciência.
Suas pernas doíam um pouco e o machucado em sua palma dificultaria a escalada para o lugar onde gostava no telhado, então resolveu ficar no segundo andar mesmo, sentado na bancada da varanda.
— Posso me juntar a você? – sabia que em algum momento Lukas apareceria para conversar.
— Eu tenho opção? – murmurou.
— Acho que hoje não. – o mais velho se apoiou ao seu lado.
Permaneceram em silêncio por alguns minutos, apenas ouvindo as folhas das árvores roçando umas contra as outras por causa do vento leve e os pássaros cantando. Ronan não pôde evitar pensar que Nico adoraria estar ali naquele horário, quando os pássaros ficavam mais empolgados, assobiando alegremente durante as últimas horas da tarde.
— Quer me contar o que houve com a sua mão? – o loiro pediu em seu tom carinhoso de sempre.
— Eu... – não conseguiu terminar.
Só de lembrar os acontecimentos da noite anterior, os sentimentos, os pensamentos que passaram por sua cabeça, sentia que iria chorar. Um nó se formou em sua garganta, todas as palavras sumiram de sua mente; ele não sabia como se explicar.
— Você teve uma crise? – Lukas ofereceu.
— Os meninos tiveram. – revelou. – Os dois. Noah teve uma, acalmei ele e de repente o Nico surtou e o Noah surtou com ele... Eu me senti inútil. Eu não conseguia ajudar, eu me senti incapaz. Ver os dois tão mal e eu impotente, sem saber o que fazer para ajudar. Meu instinto foi chamar você na hora. Porque eu não sei fazer nada sozinho, eu sou horrível.
— Você não é horrivel, Ronan. – McKenzie o envolveu em seus braços. – Tudo bem não conseguir lidar, ninguém espera isso de você. Você não precisa ser um herói o tempo todo.
— Eu não quero ser um herói. Em momento nenhum. – Lukas não sabia de toda sua história, Ronan não gostava de compartilhar, de pensar no assunto. – Mas a pressão está em mim. Todos os dias, todos os minutos, eu preciso ser bom o suficiente. Eu preciso ser o herói.
— Seus pais? – Lukas adivinhou.
Ronan limitou-se a assentir, sem saber como continuar.
— Noah acalmou Nico. Ele foi o herói da noite. – encostou a cabeça contra o peito do australiano. – Eu me senti um lixo por não poder ajudar. Os dois estavam chorando. A única coisa que eu podia fazer era catar os cacos de vidro do chão. E não foi uma boa ideia, né. Você me conhece. O Noah tirou da minha mão antes que ficasse pior.
— Noah e Nico são dois anjos. – Lukas sorriu. – Você só não é um anjo porque é muito mal-humorado.
Ronan abafou uma risada na blusa que McKenzie usava sob o macacão.
— Eu sei que não devia. Quando não tenho nada perto que possa acabar comigo com facilidade, eu não sinto o impulso, mas... você se lembra do incidente do alvejante, com certeza. Eu não sei o que acontece, só vejo a possibilidade e faço, sem pensar. Não consigo me parar.
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Éden
Fiksi IlmiahO Instituto Psiquiátrico New Eden é um local acolhedor que preza pelo conforto e pela restauração mental de seus jovens pacientes. No entanto, quando monstros se infiltram no local, oito residentes passam a se perguntar se o que vêem é real ou se é...