15. Compreensão

102 33 32
                                        

     Assim que Ronan fechou a porta do quarto atrás deles, Noah se sentou no chão, a cabeça entre os joelhos. Não gostava de sentar no chão, encostar na sujeira, porém no momento estava melhor que seu quarto. Ele estava louco para pegar um esfregão e limpar o chão, abrir as janelas, desinfetar tudo e tirar aquelas pessoas de dentro do dormitório.

     — Quer alguma coisa? – Ronan ofereceu, ajoelhando-se ao seu lado.

     — Um esfregão. – sorriu, levantando a cabeça.

     Noah sempre tivera T.O.C., porém ainda pensava que em algum momento ficaria mais fácil lidar, mas nunca ficava.

     — Isso é um pouco mais difícil de arranjar. – Ronan sorriu de volta.

     Ficaram em silêncio por algum tempo, ouvindo as vozes dentro do quarto falando sobre abrir as janelas e limpar o chão.

     — Te incomoda, não é? – o mais velho disse baixinho.

     — O que? – franziu a testa.

     — Esse monte de gente no quarto, te estressa, não? – a mão direita de Ronan brincava entre o espaço entre as pernas dos dois.

     — Sim, sim. – falou colocando sua mão perto da de Simmons, porém sem encostar. – É difícil, difícil, difícil, dif... – respirou fundo. – O tempo todo, todo, eu quero limpar as coisas, limpar, limpar meu ombro quando encostam, encostam, encostam, em mim, arrumar, checar, checar, checar. – revelou entredentes, tentando conter as repetições. – Apagar e acender as luzes, apagar e acender, apagar e acender, apagar e acender, apagar e acender, apag...

     Foi interrompido pelo dedo de Ronan em seus lábios. Ele provavelmente reparara como Noah ficava agoniado quando começava a repetir as palavras e não conseguia parar mais.

     — Eu não falo sobre isso. – murmurou. – É estressante e cansativo, cansativo, cansativo. E de noite, todos os pensamentos que me incomodaram, incomodaram durante o dia não me deixam dormir, dormir, dormir.

     — Você tem insônia sempre? – Ronan perguntou.

     — Sempre, sempre, sempre, sempre, sem... – fechou os olhos, engolindo em seco. – Na minha primeira noite, noite, noite, aqui eu passei pelo menos duas horas tentando lembrar se eu tinha fechado todas as gavetas da minha cômoda antes de sair. E eu nem vou voltar para lá. Não vou voltar, não vou voltar, não vou...

     A mão tímida de Ronan pousou de modo hesitante sobre a dele.

     Noah tinha obsessão por limpeza, por germes; não sabia se conseguiria voltar para o quarto naquela noite, mesmo se alguém já tivesse limpado o chão. Ele provavelmente limparia de novo. Quatro vezes. Ou mais.

     Mas por algum motivo, ele não se incomodava quando Ronan ou Nico o tocavam. Ele não sentia o impulso de lavar suas mãos por cinco minutos e não via os germes arrastando, penetrando em sua pele.

     Era aquele problema de se apegar muito rápido se manifestando. Mas ele não poderia ligar menos no momento.

     Percebendo que Noah não havia recuado e removido sua mão, Ronan entrelaçou seus dedos nos do mais novo. Era reconfortante de certa forma. A melhor parte era como sua mente ficava quieta quando estava envolvido no abraço de Ronan ou como o barulho das vozes pelo menos diminuía enquanto a voz de Nico soava sem parar.

     Isso nunca acontecia em sua casa.

     Ele nunca tinha paz.

     — Desculpa. – Ronan murmurou de repente.

ÉdenOnde histórias criam vida. Descubra agora