16. Distração

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Era cerca de uma da manhã, mas seus olhos recusavam-se a fechar. Liz já estava adormecida na cama ao lado, parecia exausta. Tara também estava, mas a tensão escondia o cansaço e parecia nunca querer partir.

Precisava de algo que distraísse sua mente e sabia onde encontrar.

Levantou-se cautelosamente da cama e caminhou até a porta, Liz sequer moveu-se. O corredor escuro causava-lhe arrepios, nunca tivera medo do escuro – na verdade, eram poucas as coisas que temia –, mas todos os monstros deixavam-lhe apreensiva.

Apesar de todo monocromia do local, já conhecia-o tão bem quanto conhecia a si mesma e não era preciso muito mais do que a luz da lua iluminando para que soubesse aonde estava indo.

Parou em frente à porta do quarto e bateu sem hesitar. Cinco segundos depois e a figura de um rapaz de pele escura e grande demais para um adolescente abriu a porta, os olhos caídos de sono.

— Acordei você, Bert? – indagou, baixo. O garoto negou com a cabeça.

— N-N-N-Não est-ta-ta... – Bert fechou os olhos e respirou fundo. Abriu a boca para tentar novamente, mas fora levemente empurrado para trás pelo louro esguio com expressão vazia.

Tara sentia pena de Bert por dividir o quarto com Bo. Apesar do tamanho do garoto, era extremamente doce. Não sabia exatamente seu problema, apenas sua gagueira clara, mas isso não era motivo para ser internado em um instituto psiquiátrico. De qualquer forma, não se importava muito desde que estivesse bem.

— Você quer ficar chapada? – o louro perguntou. Tagore arqueou uma sobrancelha diante da forma direta do garoto, que não dava a mínima para a presença de seu colega de quarto.

— V-v-v-vou ver D-D-Dia-an – Bert tentava falar, cerrando os dentes com o esforço. Bo revirou os olhos e o interrompeu:

— Tudo bem, nós entendemos. Pode ir, Bert – disse, ríspido. Ambos observaram enquanto o grande afastava-se, sussurrando coisas para si mesmo. Skoog arqueou uma sobrancelha – Consegue imaginar quão irritante deve ser ficar no mesmo cômodo que Bert e Diane, a garota que repete coisas?

— Você é um bosta – a garota murmurou, passando pelo rapaz, que fechou a porta sem demonstrar qualquer reação diante do comentário. Ela parou no meio do quarto, olhando em volta – Onde estão as coisas?

Bo caminhou até seu armário, revirando algumas gavetas. Tara cruzou os braços e apenas observou enquanto ele procurava por qualquer droga que estivesse com vontade de usar. Qualquer uma seria boa para Tagore, qualquer coisa que tirasse toda a carnificina de sua mente e o aperto de seu peito.

O garoto apanhou um saco plástico e sentou-se no chão, sem esperar pela aprovação de Tara sobre sua escolha de droga. Puxou um livro qualquer jogado embaixo de sua cama, tirou-lhe o marcador e despejou um pouco do conteúdo do plástico em sua capa, ajeitando o pó branco com o marcador do livro em fileiras.

— Primeiro as damas – falou.

A garota não hesitou; abaixou a cabeça e inalou uma das fileiras. Encostou-se na cama de Skoog, fechando os olhos enquanto suas narinas e garganta queimavam. O quarto fora tomado pela calada, era como uma bigorna para Tara; pesava, massacrava-a. Não queria o silêncio, não queria continuar remoendo todo aquele dia.

— Eu matei duas pessoas – falou, finalmente, enquanto fitava as esculturas abstratas de Bert.

— Não eram pessoas, Tara, eram monstros – Bo respondeu, calmo – Além do mais, você salvou todos nós.

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