27. Sobrevivência

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     Ninguém conseguia se mover. Encaravam silenciosamente a beirada do terraço, mas nenhum deles tinha coragem de se aproximar e olhar para baixo, encontrar os corpos provavelmente despedaçados numa poça de sangue. 

     Lukas suspirou pesadamente e deu um passo para frente, atraindo a atenção de todos.

     Era melhor que ele visse primeiro, de qualquer jeito.

     Havia uma enorme poça de sangue no chão, dificilmente de uma pessoa só, então Lukas deduziu (embora fosse óbvio que alguém morreria tombando de uma altura daquelas) que uma parte escorria do corpo destruído de Bo. Ele não estava em pedaços como o monstro, porém dava para perceber os ossos quebrados pela posição dos membros.

     Fechou os olhos, tentando apagar a imagem da cabeça. 

     Ouviu os passos hesitantes do resto do grupo se aproximando lentamente. Não precisava abrir os olhos para saber que a mão roçando contra a sua era a de Tara, procurando conforto. Entrelaçou seus dedos nos da indiana e a puxou para mais perto.

     Os três garotos mais novos estavam um pouco mais para trás, Noah havia agarrado a mão de Nico, que se recusava a olhar para frente e fitava o céu. Do outro lado, Ronan apertava a outra mão do mais novo de todos com força, seus olhos arregalados observando o estrago no mármore do jardim.

     Lukas sabia o que ele estava pensando.

     — Ele...? – Ronan sussurrou. 

     — Eu espero que sim, se não estiver ele deve estar sentindo muita dor. – Kim respondeu.

     Liz foi a primeira a se afastar, passando atrás de todos para pegar a mão de Nico e o arrastar para dentro novamente. Ela parou, fitando Noah e Ronan, esperando que fossem com ela, mas como Ronan não se moveu quando Noah puxou seu braço devagar, ele deu de ombros e ficou ali mesmo, agradecendo a mais velha com um meio sorriso, que aparentemente era o único sorriso que Noah era capaz de produzir.

     — Ronan, por que você não leva Kim e Noah para dentro junto com a Liz? – McKenzie ofereceu com a voz mais doce e gentil que conseguiu.

     Mawete, ao ouvir seu nome ser mencionado, parou na porta e virou em direção aos outros, esperando.

     O silêncio se instalou entre eles. O único ruído era as folhagens das árvores friccionando uma contra as outras por causa do vento.

     — Ron? – chamou, mas o garoto continuava na mesma posição, com o mesmo olhar. 

     Sequer parecia respirar.

     — Ronan, está tudo bem, Liz vai levar vocês até o quarto, ok? – dessa vez foi Tara quem se manifestou, tentando ajudar de alguma forma.

     O tempo que Lukas e Noah levaram para trocar um olhar preocupado, foi o que bastou para Ronan finalmente agir, dando um passo para frente.

     Lukas congelou. Não conseguia esticar os braços para segurar o garoto, não conseguia achar voz para gritar seu nome. 

     O pé do garoto parou no ar.

     Do outro lado, o pequeno ruivo segurava o pulso do colega de quarto com toda a força que conseguia, tentando mantê-lo no lugar e o impedir de cair.

     Ele sabia que Noah não conseguiria segurar se Ronan tomasse impulso, se ele se inclinasse um pouco para frente. Mas não era capaz de fazer nada. 

     — Ronan, Ronan, Ronan, Ronan, Ronan, Ronan, por favor, por favor, por favor, por favor, por favor... – Seamus falava desesperadamente com a voz embargada.

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