37. Controle

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     Ronan havia perdido as rédeas de seu corpo e seu cérebro fazia tempo. Ele não sabia para onde suas pernas o guiariam e qual seria sua próxima ação.

     Ele havia desistido de lutar, porque agora não fazia mais diferença.

     Lukas estava morto. Lukas, a única pessoa que o amava e se importava com Ronan. Estava morto. Por causa dele.

     Gostaria de acreditar que não era culpa dele, mas era. Se o loiro não tivesse tentado salvar Ronan de um plano mal-calculado e estúpido, ele ainda estaria ali, Tara não estaria chorando e repetindo o nome de Lukas incessantemente ao lado de seu corpo sem vida, todos estariam bem, Nico não teria visto o que para ele provavelmente era como um irmão mais velho ser assassinado em sua frente, Noah em toda sua inocência e manias não teria que ter passado pelo trauma de ver o cadáver de um conhecido.

     Não havia mais nada em sua mente além de culpa e saudade precoce. Até mesmo Bo era irrelevante no momento. 

     Ronan só queria Lukas de volta.

     Não havia mais ninguém para Ronan como Lukas estivera para ele durante todos esses anos. Ninguém.

     Sua tristeza era convertida para raiva sem que ele tivesse tempo de pensar sobre, sem nenhum esforço.

     Sentia todo o controle esvaindo de seu corpo como ar.

     Abriu a porta de seu quarto com tanta força que ela simplesmente bateu contra a parede e voltou, fechando-se com um estrondo alto.

     A primeira coisa que alcançou com o olhar foi uma cômoda. Ele não sabia se era dele ou não, também não se importava. Haviam várias coisas que Ronan sequer enxergava –tudo um grande borrão– alinhadas na superfície de madeira. 

     Por que tanta ordem se tudo era caos?

     Arrastou o braço pela cômoda, derrubando tudo no chão de linóleo, as grandes peças virando pedaços, destruídas, assim como Ronan.

     Suava, sentia as lágrimas quentes e involuntárias molhando sua bochecha, mesmo tremendo, a força que a raiva lhe trazia era suficiente para levar o móvel ao chão, os puxadores das gavetas quebrando e rolando pelo quarto. 

     Agarrou as laterais do uniforme e puxou, arrebentando os botões e rasgando parte do tecido. O choque térmico foi agradável, o ar gelado do quarto acariciando sua pele ardente. Vestia apenas uma regata branca, quase transparente, sob o macacão branco.

     Queria gritar, queria extravasar, colocar tudo o que sentia para fora e deixar de existir, porque sabia que não o deixaria mais leve, de qualquer forma.

     Chutou outro móvel, sem nem mesmo ver o que era. Não importava. Desde que o quarto estivesse uma zona, como a mente de Ronan.

     Em algum lugar embaixo de seu colchão, havia uma saída para tudo aquilo, lembrava vagamente de ter escondido algo ali anos atrás.

     Seus dedos doíam pelo esforço de mover o colchão e jogá-lo no chão, mas Ronan já estava praticamente indiferente a dor física.

     Vasculhou todos os cantos do estrado, os lençóis; não havia nada ali. Não havia nada em lugar nenhum.

     Talvez tivesse colocado em outra cama? Ele nunca tinha colegas de quarto mesmo, não fazia diferença.

     A segunda cama também não escondia nada, nenhum remédio, nenhuma lâmina.

     A última era a mais arrumada, que dava vontade de remover as fronhas e cobertas de modo agressivo e violento, bagunçar, acabar com a ordem.

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