26. Mínimo

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Era como nos video-games e filmes que costumava ver: uma equipe formulando planos secretos para salvar a humanidade. O único detalhe era o fato de que todos eram pacientes de um centro psiquiátrico. E que talvez apenas a sanidade da equipe estivesse em perigo. Ainda assim, era uma situação amedrontadora e empolgante ao mesmo tempo.

No entanto, sua mente caótica era um problema; não podia dar opinião ou sequer formular uma, tudo era bagunçado demais, confuso demais. Estava ali e não estava, pensando e não pensando. Como resolver um problema externo quando sequer conseguia entender sua própria mente?

— Tudo bem, revisando o plano – Liz anunciou –: Eu e Bo tentaremos atrair o monstro até nós, vamos levá-lo até o telhado, onde Ronan vai estar pronto com o...

— Cassetete – Bo completou, baixo e sério, enquanto Liz encarava o objeto na mão de Ronan com uma sobrancelha arqueada.

— Tudo bem, não vou perguntar por que raios você carrega um cassetete – murmurou para si mesma antes de pigarrear e prosseguir: – Cassetete. Ronan acerta a cabeça do monstro como fez da última vez e Kim e Lukas amarram ele. Lukas e eu vamos segurar a pessoa, Tara vai extrair as informações e Bo é o nosso torturador, caso for preciso

A garota soltou um longo suspiro, como se estivesse cansada depois de explicar tudo. Nico trocou um rápido olhar com Noah, que parecia não ter notado o fato de que nenhum dos dois estava no plano. Martin queria ajudar, queria proteger Noah e até mesmo Ronan, queria não ser um peso morto.

— Vocês dois – Tara chamou-lhes a atenção, como se lesse a mente do garoto – Vão vigiar a entrada para o telhado.

Seammus assentiu devagar, como de não tivesse entendido exatamente. Nico suspirou, apertando a mão do mais novo numa tentativa de causar-lhe conforto, mas Noah apenas estremeceu, sem tirar os olhos de Ronan.

Martin não tinha ciúmes de Noah – não exatamente –, apenas temia que o ruivo lhe deixasse de lado por ser tagarela demais, irritante demais. Ronan falava e agia quando era preciso, passava segurança para os outros. Nico era apenas um bebezão que sequer conseguia manter uma amizade.

— Eu vou pegar as coisas – Bo anunciou, engatilhando sua arma.

Por algum motivo que ninguém ousou perguntar, o loiro possuía correntes e outras coisas que poderiam ser úteis guardadas em seu quarto. Nenhum dos jovens comentou, mas os olhares que trocaram foram o suficiente para fazer Skoog revirar os olhos e sair irritado da sala.

Assim que o garoto fechou a porta, um ar de tensão dominou o local. Era o começo daquele plano, em poucos minutos aquilo se tornaria real. Real. Pensar nisso deixava o cacheado inquieto demais.

Ronan aproximou-se, segurando a mão livre de Noah discretamente. O ruivo soltou a respiração, apoiando a cabeça no ombro do moreno, como um passarinho escondendo-se sobre a asa da mãe. Martin soltou-o, levando a mão à boca para roer as unhas, ação que fez com que Seammus se encolhesse.

Noah tinha TOC, sabia disso, apesar de nunca ter entendido exatamente como era. Tudo o que conhecia sobre a doença era que a bagunça era um problema. Justamente o que Martin mais fazia – era hiperativo, além de não conseguir organizar nada, desde objetos até sua mente. Nico era um pesadelo para Noah.

Por algum motivo, sentiu vontade de chorar. Desde que saíra com Lukas tinha decidido amadurecer e ser útil, mas tudo o que fazia era se sentir excluído apenas por seu melhor amigo confiar mais em outra pessoa. Por que era tão dramático e paranóico? Por que as vozes não podiam apenas ficarem quietas? Por que precisavam colocá-lo para baixo o tempo todo por acontecimentos mínimos?

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