40. Caos

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     Tudo tornou-se escuro e suas pernas fraquejaram, seu corpo foi segurado por mãos quentes que conhecia tão bem. O zunido em seu ouvido e o som de sua própria respiração irregular tornava a voz de Lukas abafada, como se chamasse seu nome à distância.

     Mas ele estava bem na sua frente, com um sorriso cansado e – ainda assim – maravilhoso. Estava vivo e parecia conter o riso diante do desespero praticamente inútil de Tara. Seu noivo estava ali.

     Beijou-o com força, como se fosse a última vez. Poderia ser, e ela queria fazer cada segundo valer à pena.

     – Nunca mais... – sua voz falhou, embargada, sequer conseguiu terminar a frase.

     – Nunca mais – ele riu, abrigando-a em seus braços e pressionando-a contra seu peito.

    Aquele abraço era tudo o que Tara precisava para se restaurar, para colocar sua mente no lugar. Era como sua âncora, que a trouxera de volta para a terra firme.

     O primeiro detalhe que seus olhos avistaram ao se afastar foi o corpo estirado de Bo, desacordado em sua própria poça de sangue. Não sabia o que estava sentindo; parte de Tara desejava que estivesse morto, a outra parte queria explicações.

     Desviou a atenção para Liz, que chorava desesperadamente enquanto Vincenzo sangrava em seus braços, já pálido e quase sem consciência. Queria dar suporte à amiga, mas Tagore não conseguia se mover, não aguentaria ver mais um cadáver tão de perto, mesmo que de alguém que não tivesse tanta intimidade.

     Lukas também não foi, e a forma como segurou a mão de Tara em busca de conforto dizia o motivo – também não queria ver seu colega de quarto morrendo.

     — Lukas? – uma voz fraca chamou, hesitante, atrás do casal. Era Nico, cujo nariz avermelhado indicava um choro reprimido que escapou com um sorriso.

    Inclinou seu corpo para frente e abraçou o mais velho com tanta força que ambos quase caíram. McKenzie sorriu e retribuiu o gesto, com tanto carinho quanto, os olhos fechados com força.

     — Você está vivo, vivo de verdade! – o mais novo exclamava, abafado pelo corpo do maior – Eu fiquei com muito, muito medo. Tara estava tão triste, todo mundo estva muito triste. Você não pode deixar todo mundo, não pode mesmo. Você é meu irmão mais velho, você cuida de todo mundo. Eu estou tão feliz agora, Lukas, que bom que você está aqui, que bom mesmo!

     Um grito estridente quebrou o clima, interrompendo os abraços e os lamentos. Viera de Kim, que mantinha as mãos na boca enquanto encarava o loiro no chão. Tara direcionou-se novamente a Bo, que permanecia parado.

    — Ele se mexeu! – a asiática gaguejou – Esse merda está vivo!

    — O que houve com ele? – Lukas questionou, aproximando-se do mais novo para checar seu pulso.

— Esse desgraçado virou um monstro e nos perseguiu – Kim explicou, ríspida – Liz, lembra da ideia de atirar na cara desse filho da mãe? É um ótimo momento!

Liz não respondeu, apenas tornou a cabeça para Vincenzo novamente. Nunca havia contado à Tara sobre qualquer que fosse seu relacionamento com o garoto, mas a indiana imaginava que tivesse sido algo profundo. Era a primeira vez que via Mawete tão sensível, fora de sua casca musculosa e impactante.

— Não vamos atirar nele – a indiana anunciou – Vamos interrogá-lo.

— Claro, brilhante! – a mais nova retrucou, sarcástica – E sermos atacados novamente?

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