7. Desastre

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     Noah Seamus não sabia como ficar sozinho no Instituto New Eden ainda. O tempo todo ele apenas seguia Nico, principalmente porque não gostava de falar e sabia que o mais velho faria essa parte por ele.

     A diferença de idade entre ele, Nico e Ronan era satisfatória para Noah, era uma escadinha. Nico era o mais velho, com 15 anos, embora parecesse mais novo pelo seu modo de falar. De acordo com Lukas, Ronan fizera 14 naquele ano, então ele era o do meio. E por último vinha Noah, com seus 13 anos.

     Esses assuntos aleatórios eram bons para distrair Noah do mundo real, onde ele era considerado louco e sua vida um desastre.

     Por isso gostava tanto de proporcionalidade e simetria, não existia desastre.

     — Noah? Está tudo bem? – a voz de Ronan se distinguiu dos murmúrios no corredor e em sua cabeça. – Onde está o Nico?

     — Aula de pintura, aula de pintura, pintura, pintura. – falou entredentes, tentando reprimir as repetições, como sempre fazia.

     — E o que você tem agora? – apoiou a mão de modo hesitante no ombro do ruivo.

     — Cerâmica. – respondeu.

     — Eu também. – Ronan deu um meio sorriso. – Vem, eu te levo.

     Noah mordeu a parte interna dos lábios, tentando conter uma resposta e assentiu com a cabeça.

     Ele não era quieto, Noah tinha muito a dizer, mas não queria incomodar os outros repetindo as palavras várias vezes e tinha medo de deixar os pensamentos errados escaparem.

     — Você é muito quieto, achei que fosse por causa do Nico. – o mais velho comentou passando o braço pelos ombros de Noah. – Mas acho que é por isso que prefere andar com ele, não é? Você não tem que falar.

     O irlandês limitou-se a assentir novamente.

     Um cheiro diferente dos que havia se acostumado a sentir pelo Instituto invadiu suas narinas. Era uma mistura de sabonete genérico, o que usavam no Instituto, e talco para bebês.

     Não havia nada de diferente no local onde estavam, Noah inclusive passara pelo mesmo corredor alguns minutos antes e não sentira esse cheiro.

     O que tinha mudado?

     — Você tem jeito com cerâmica? – Ronan interrompeu seus devaneios.

     — Eu nunca tentei. – murmurou.

     — É legal. – virou para Noah enquanto falava. – Adoro fazer alguma coisa bem alta e destruir depois, a sensação é ótima.

     A imagem da destruição fazia Noah tremer. Imaginar a bagunça, a zona, o desastre. Começou a puxar a manga de seu uniforme. Já estava perfeita, idêntica à outra, porém ele tinha que arrumar alguma coisa para tirar a cena horrível da cabeça.

     — Noah? – Ronan chamou num tom doce.

      Dava para perceber que após a noite anterior, o colega de quarto estava fazendo o possível para ajudar Noah. Ele provavelmente tentaria se aproximar de Nico também, mas estava claro que Nico temia Ronan, então demoraria mais.

     Noah confiava mas pessoas com muita facilidade e sempre se decepcionava no final. Ele acreditava que pessoas reais seriam melhores que as vozes em sua cabeça, que repetiam o tempo todo o quão ruim ele era, o quanto ele merecia todo aquele sofrimento.

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