Bo estava sentado em sua cama há cerca de dez minutos, com uma garrafa de vodca pela metade em suas mãos, perguntando-se se deveria procurar pelos outros ou apenas fumar um baseado e cair no sono.
Não estava cansado e as dores em seu corpo haviam melhorado o suficiente para que conseguisse sair dali sem precisar se arrastar, mas não sabia se realmente queria. Na verdade, estava incrivelmente bem, nem mesmo seu pulmão perfurado parecia um problema.
Com a mão boa, levantou a camiseta escura que usava por baixo do macacão aberto, encontrando sua pele pálida completamente limpa, sem nenhum dos hematomas gigantescos ou arranhões ensanguentados marcando-a.
Sua primeira reação foi tentar levantar o braço cuja clavícula estava quebrada, mas apenas recebeu uma dor intensa que forçou um grunhido para fora de sua garganta. Talvez não estivesse tão bem assim ainda.
Levantou-se, caminhando até a cômoda onde guardava suas drogas. Ainda era inútil contra monstros, mesmo com alguns ferimentos milagrosamente curados, não haviam motivos para procurar pelos outros. Além do mais, não estava com vontade de encontrar Nico e Noah novamente e muito menos Ronan.
Pressupunha que o garoto já soubesse do que fizera com seu atual namorado. Não era como se sentisse ciúme de Ronan, mas o fato do moreno tê-lo trocado por alguém tão inferior o incomodava. Bo fora o primeiro de Simmons, o primeiro em todos os sentidos.
O mais novo era seu, assim como Tara deveria ter sido. Skoog marcava território, acumulava poder sobre as pessoas e se recusava a aceitar a perda disso. Pensar em Ronan e Noah causava-lhe refluxo. Era ridículo.
Tirou da gaveta um ziplock repleto de pílulas coloridas de diversas formas, abrindo-o e pegando uma delas. Colocou-a dentro da garrafa de vodca, observando enquanto o ecstasy tornava-se um pó diluído no álcool. Quando a pílula já havia desaparecido, entornou todo o líquido de uma vez.
A porta se abriu com brutalidade, chamando sua atenção para a garota asiática que mantinha uma sobrancelha arqueada enquanto olhava em volta. Kim apontou por cima do ombro com o polegar, estreitando os olhos.
— O que deu no Ronan? – indagou – E onde estão os outros? – ela colocou as mãos na cintura, aproximando-se do loiro e apanhando a garrafa de seus dedos, revirando os olhos ao vê-la vazia – Por que eu nunca sei de nada?
— O que houve com Ronan? – Bo passou pela garota, partindo em direção à porta.
— Não sei, foi o que eu perguntei – Kim deu de ombros.
O loiro encarou a asiática por alguns segundos antes de sair do quarto e partir atrás do pequeno vulto escuro que virava o corredor, sozinho. Noah não o seguia, ninguém corria atrás dele, mas Bo sabia que aquele era o caminho para o telhado. Ele sabia o que Ronan ia fazer e sequer hesitou em correr atrás.
As tendências suicidas de Simmons não eram segredo para ninguém do Instituto, todos comentavam sobre o garoto que sempre tentava se matar e nunca conseguia. Skoog conhecia suas cicatrizes de perto, as renomadas e as secretas – e Ronan conhecia as suas.
Ao contrário do moreno, nunca havia tentado se matar, mas mantinha uma coleção de marcas em seus pulsos e costelas. Muitas pessoas já as vira, mas nenhuma havia questionado, exceto Simmons.
Uma pontada de dor forçou sua parada, colocando-o contra a parede enquanto respirava de forma ofegante. Estava se curando rápido, mas não o suficiente para tanto exercício. Podia ver os calcanhares de Ronan subindo a escada do telhado no fim do corredor, enquanto sua cabeça pulsava e sua boca secava. Parte disso eram efeitos da droga, sabia.
Correu até os degraus e subiu, as pernas trêmulas. Estava se esforçando demais para alcançá-lo, mas sequer sabia se realmente queria salvar sua vida. Não saberia como o fazer, de qualquer forma.
Quando finalmente chegou do lado de cima, apoiou-se em seus joelhos, tentando recuperar a respiração. O vento forte zunia em seus ouvidos e jogava seus cachos em seu rosto, impedindo-o de ter uma visão limpa do garoto que se aproximava à beira do telhado.
— Ronan! – chamou, meio ofegante.
Esticou o braço para segurar a mão do mais novo e ouviu um estalo, seguido de uma dor intensa que percorreu seu ombro e se esvaiu rapidamente. Puxou Simmons para mais perto, em um movimento que seria impossível para alguém com a clavícula quebrada, mas talvez ele estivesse mesmo melhorando.
— Ronan, caralho! – repetiu, irritado.
O moreno balançou a cabeça, piscando algumas vezes, como se voltasse de um transe. O que deveria dizer agora? Por que estava ali? Tudo o que queria era recuperar o domínio que tinha sobre o mais novo, não era como se sentisse preocupação ou qualquer outro sentimento... Era?
Ecstasy era a pior droga que poderia ter escolhido. Seu corpo agora se aquecia e seu coração palpitava e o que mais desejava era beijar qualquer pessoa. Mas o único que estava ali era Ronan, que o encarava com os olhos arregalados e em silêncio. Aqueles malditos olhos que sabiam de seus segredos.
Apenas o fez, pressionou seus lábios secos contra os de Ronan, o calor de seu corpo aumentando. Seus dedos passaram do braço do rapaz aos botões de seu macacão, abrindo-os com certa dificuldade por usar uma mão só e não conseguiu segurar o riso chapado entre o beijo por sua própria falta de coordenação.
Ronan se afastou devagar, parecia chocado e confuso, como se não entendesse o que estava havendo. O sorriso do mais velho se desfez devagar, conforme a surpresa de Simmons tornava-se raiva.
— Eu esperei você esse tempo todo e agora você vem? – esbravejou – Chapado e achando que vou transar com você do nada? Que merda você tem na cabeça, Bo? Será que realmente não vê que você enxerga?
— Eu estou aqui agora – o loiro se defendeu, a fala arrastada – Ah, você não achou que eu estava apaixonado por você, não é? Só porque durou mais que uma noite não significa que tenha sido amor.
— Agora eu não te quero mais, assim como você não me queria mais meses atrás. Não me importa mais se era amor ou se não era – respirou fundo – Desde que saí do buraco que você me jogou e me largou, eu sei que você nunca me amou. Você é incapaz de sentir qualquer coisa por alguém que não seja você mesmo – sua voz tornou-se embargada, as lágrimas brotando em seus olhos – Eu não sou idiota, eu sei que você nunca se importou comigo. Inclusive, por que você está aqui? Que diferença vai fazer para você se eu morrer?
Bo não tinha uma resposta. Ele não sabia o motivo de estar ali, não sabia como se sentiria se Ronan estivesse morto e a droga em sua mente apenas atiçava sua libido. Só conseguia desejar Simmons e mais nada, o que aconteceria depois não era sua preocupação.
— Por que você está aqui? – sua voz era ríspida e afiada, mantinha uma sobrancelha arqueada enquanto analisava as lágrimas de Ronan que apenas mostravam o quão sensível era – Noah te deu um pé na bunda?
— Lukas está morto – o outro retrucou, enxugando as lágrimas e levantando a cabeça, como se tentasse tomar superioridade como o loiro o fazia – Mas você não se importa, de qualquer maneira. Nunca se importou.
Quando o mais novo virou as costas, Bo sentiu o impulso de segurá-lo novamente. Tensionou o maxilar e revirou os olhos, rindo com indignação de si mesmo. Era idiota, estava sendo estúpido sem motivo algum. Ronan estava certo, ele não se importava. Era arrogante, egoísta, manipulador e frio, como sua família o ensinara a ser. Era um "psicopata de merda", não era?
Então, por que tudo parecia tão confuso e complicado quando deveria ser tão simples? Se não sentia nada, por que parecia estar se afogando o tempo todo?
Beijou-o novamente. Era tudo que conseguia pensar em fazer, sua resposta para qualquer situação. O moreno o empurrou com força, o desprezo em seu rosto enquanto limpava os lábios com as costas da mão.
— Eu queria que você tivesse se despedido, Bo – falou, os dentes cerrados – E queria que tivesse sido de verdade. E para sempre.
Desta vez, Skoog apenas deixou Ronan partir.
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Éden
Science FictionO Instituto Psiquiátrico New Eden é um local acolhedor que preza pelo conforto e pela restauração mental de seus jovens pacientes. No entanto, quando monstros se infiltram no local, oito residentes passam a se perguntar se o que vêem é real ou se é...