3. Chapado

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     Lukas McKenzie havia mudado muito desde que entrara no Instituto New Eden, há dois anos. Ele se tornara menos sensível, era mais difícil ser atingido por ofensas e exclusão. Após um ano e meio sendo rejeitado pelos pais, porque já tinha tido alta há bastante tempo, ele simplesmente desistira de tentar e resolvera permanecer no lugar que chamava de "lar" agora.

      Ele fizera alguns amigos, pessoas como ele. Seus colegas de quarto, Khalil e Vincenzo eram tão pacíficos quanto ele, sempre procurando ajudar os outros e tratar todos os funcionários e pacientes com educação e gentileza.

      — Como são os novatos? – Khalil perguntou, puxando seu tapete (Jai Namaz em sua língua, como ele havia ensinado aos garotos já) de cima da cômoda para realizar uma de suas orações.

      — Tranquilos num sentido geral. Não parecem o tipo rebelde, que vão dar trabalho. – deu de ombros.

      Vincenzo assentiu algumas vezes enquanto desamarrava os cadarços dos sapatos para andar mais confortavelmente pelo quarto e não atrapalhar Khalil. Era difícil não se distrair com a hiperatividade do italiano, que andava de um lado para o outro o tempo todo, mas eles já estavam acostumados.

— Ei. – Vincenzo chamou após alguns minutos.

Lukas se desligava do mundo às vezes, perdia totalmente a noção de quanto tempo havia se passado. Aparentemente, bastante, pois Khalil havia calçado seus sapatos e ambos o encaravam com expectativa.

— O que foi? – perguntou.

O italiano sorriu e tirou um pacote de trás das costas. Bastou um furo na sacola plástica para Lukas saber o que era o conteúdo ali dentro.

Maconha.

Ele estava "limpo" desde que entrara no Instituto. Havia se dedicado a ser o que os pais queriam que ele fosse por muito tempo. Não que agora fizesse diferença mais, ele não voltaria para casa antes de completar quatro anos ali e ainda faltavam dois.

Um baseado não faria mal, certo? Ele sabia que podia parar quando quisesse, não era dependente.

Levantou-se da cama e secou as mãos suadas por causa da ansiedade no macacão. Trocou olhares com os colegas e assentiu, tentando não pensar nas consequências de sua decisão.

~

Consequências? Nada importava mais.

O dia inteiro Lukas se esforçava para tirar os pensamentos sobre sua família de sua cabeça, para parar de se culpar por tudo e gastava toda sua energia nisso. Pela primeira vez, não estava fazendo esforço nenhum, seus problemas simplesmente param de fazer sentido em sua mente alta e o abandonaram.

Era libertador não ter que se obrigar a se distrair.

— Eu quero um violão. – Khalil falou de repente.

     — Para que? – Vincenzo franziu a testa.

      O outro jovem encarou o italiano por alguns segundos, sua expressão neutra.

      — Para dar com ele na sua cara. – falou finalmente. – O que você acha?

      — Grosso.

      Lukas riu, cutucando o biquinho que o amigo havia formado nos lábios até desmanchar e os três estarem rindo juntos, sem saberem exatamente a razão.

      — Onde você arranjou? – ele lembrou de perguntar.

      — Você sabe. – Vincenzo deu de ombros.

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