32. Família

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     Tara observou o nascer do sol, sem sequer pestanejar durante toda a madrugada, mesmo depois de Dra. Alice – a senhora de cabelos ruivos, chefe da enfermaria – garantir que Bo sobreviveria.

     Aquilo tudo fora a gota d'água, o pouco que faltava para que a garota explodisse. Havia tanta coisa acontecendo em tão pouco tempo e a (quase) morte de Skoog apenas provara quão grande era tudo aquilo. Poderia ter sido qualquer um. Poderá ser qualquer um. E ter seus amigos machucados era tudo o que menos desejava.

     Era certo que não tinha proximidade com a maioria do grupo, mas não podia negar a preocupação e o afeto que já sentia por todos. Já perdera Georgia no ano anterior, não queria perder os únicos amigos que possuía.

     Duas batidas na porta fizeram-na sentar abruptamente, secando lágrimas que sequer havia notado que escorriam. Liz apenas murmurou algo enquanto dormia, ajeitando-se debaixo das cobertas.

A garota girou a maçaneta com cautela, colocando seu corpo atrás da porta, de modo que estivesse quase escondida. Relaxou completamente quando viu Lukas parado, com um sorriso forçado, sem conseguir esconder sua preocupação.

— Eu não consigo dormir – ele sussurrou – Faltam duas horas para o café da manhã, quer dar uma volta enquanto está tudo vazio?

Tagore apanhou seu uniforme e o vestiu de forma apressada, dobrando as mangas até os cotovelos e as barras da calça do macacão até os joelhos. Sequer amarrou seus tênis, não estava preocupada com isso.

...

Estava tão acostumada a escapar durante a noite que o silêncio durante a manhã se diferenciava do silêncio noturno; com a claridade do sol, era muito mais pacificador do que tenebroso.

     O casal permanecia sentado sobre a grama, sem dizer nada. Tara não sentia muita vontade de conversar e, aparentemente, Lukas também não. Ela apenas observava enquanto o rapaz arrancava as folhas do chão, distraído demais.

     A garota sorriu sozinha, apoiando a cabeça no ombro do loiro. Não estava feliz, estava exausta, e tudo aquilo parecia uma grande piada.

     — Acho que é a primeira vez em minha vida que eu queria estar em casa – comentou.

     Lukas passou o braço em volta de seus ombros, puxando seu corpo para que Tagore deitasse em seu colo. Agora, a única visão que a indiana tinha era a das mão bronzeadas de McKenzie, que continuava brincando com gravetos e folhas.

     — Vai ficar tudo bem – ele disse, sério demais.

     — Talvez não – retrucou, com certa tristeza na voz – Ele poderia ter morrido de verdade. Qualquer um poderia. Nico e Liz estavam tão perto...

     Tara viu de soslaio Lukas balançar a cabeça, seu cenho estava franzido com todo o foco que mantinha em suas mãos.

     — Nós vamos descobrir o que está acontecendo e tudo vai ficar bem – o loiro falou, mais como se tentasse se convencer daquilo.

     — Eu queria ter um pouco da sua positividade, acho que só enxergo a parte ruim de tudo.

     McKenzie abaixou sua cabeça, lascando um beijo leve na testa da mais nova, antes de se deitar, o corpo esticado. Tara levantou de sua pernas e arrastou seu corpo para cima, de modo que seus rostos ficassem na mesma direção. Ela sorriu de forma cansada, ele retribuiu o gesto.

     O sol nascente pintava tudo com tons de rosa, os cabelos loiros do rapaz ganhavam um tom pêssego, que combinava com sua pele dourada. Lukas levantou os braços, esticando-os em frente ao corpo, Tara precisou estreitar os olhos para enxergar suas mãos com a luz do sol tão forte.

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