35. Guerra

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     Lukas nunca fora muito rápido. Se ele precisasse correr para salvar sua vida (como no momento), a probabilidade de ele ficar para trás era muito grande. Então obviamente, Liz e Tara estavam vários metros a sua frente, enquanto os três corriam de um monstro que aparecera pouco antes de chegarem ao quarto do Bo, obrigando-os a mudar a rota.

     As duas meninas continuaram até entrarem em uma sala, uma das poucas que possuía portas automáticas de vidro. 

     Antes que o australiano as alcançasse, as portas se fecharam e o deixaram para fora. Ele parou ali na frente, esperando que o sensor o reconhecesse, porém nada aconteceu. Encostou no vidro gelado, tentando provocar qualquer reação dos sensores, mas nada acontecia.

    — Lukas! – Tara gritou do outro lado.

     — Não está funcionando! – ele respondeu ainda mais desesperado que ela.

     — Tenta se afastar e voltar. – Liz aconselhou.

     — Nós não temos tempo, continuem fugindo, eu vou ficar bem. – falou olhando para trás, para o monstro se aproximando em suas quatro patas.

     Era parecido com o que atacara eles no quarto de Ronan, Nico e Noah da outra vez, mas não exatamente igual, nenhum deles era exatamente igual.

     — Eu não vou te deixar para trás! – Tara rebateu, como se a ideia fosse completamente absurda.

     — Tara, não temos opção. – disse e se virou de costas para a sala, procurando algo que pudesse ajudá-lo a se defender.

     Sequer teve um minuto para pensar, foi logo lançado contra uma das paredes brancas, caindo de lado no chão, sobre o braço direito. 

     Levantou-se com certa dificuldade e se atirou na montanha de pelos enorme que tentava arrombar a porta onde as meninas estavam, batendo seu corpo no vidro que não quebrava de jeito nenhum.

     Lukas e a besta rolaram pelo chão, até esbarrarem na parede contrária. Ele aplicava os golpes que conseguia com a movimentação limitada, porém nenhum parecia incapacitar a criatura ao menos um pouco. Estava difícil, o monstro era pesado e estava em cima dele, Lukas não tinha força o suficiente para inverter as posições ou no mínimo sair de baixo.

     Enquanto lutava, pode ver alguém se aproximando devagar, o macacão largo nas pernas e os sapatos rasgados e sujos entregaram que se tratava de Ronan.

     Ele sabia o que Ronan ia fazer, mas não achava voz para gritar para ele se afastar.

     — Ei! – o mais novo falou alto, chamando a atenção da criatura.

     — Ronan, não! – agora já era tarde demais.

     O monstro desviou-se para Ronan, andando devagar em direção ao garoto, bufando e rosnando. Lukas aproveitou para erguer-se do chão e atacar a besta novamente, antes que chegasse em "seu menino protegido".

     Mais uma vez estava no chão com o ser, rolando e se debatendo. Lukas sentia que não tinha instinto de sobrevivência, pois sabia que se fosse qualquer outra pessoa ali já teria conseguido se livrar da situação, mas ele estava sempre no mesmo lugar.

     Como se não bastasse, ouviu a voz de Nico soando pelo corredor.

     — Isso é muito, muito, muito errado, eu acho que o Bo está muito errado. Ele não pode tratar as pessoas assim, ele faz as pessoas se sentirem mal e eu não gosto nem um pouco disso, nem um pouco mesmo, nem um pouco de verdade. O que você acha, Noah? Ele me deixa muito triste, eu tento gostar de todo mundo, mas eu não gosto do Bo, não gosto mesmo, mesmo de verdade. Ele é uma pessoa muito ruim, eu não gosto dele, você gosta dele, Noah? Acho que você também não gosta dele, acho que ninguém gosta dele. Pensando bem, eu tenho um pouco de dó dele, porque ninguém gosta dele, mas ele é muito chato, ele não é nem um pouco legal, não mesmo, mesmo de verdade, eu não consigo gostar dele. O que você acha, Noah? 

     — Ronan, Ronan, Ronan, Ronan, Ronan, Ronan... – era tudo que escutava o ruivo murmurando em vários tons, mas nunca deixando o desespero desaparecer da voz.

     — Você acredita nele, Noah? Você acha que ele não forçou o Ronan? Você acha que o Ronan quis? Eu acho que não, eu não acredito nele, Noah, eu não acredito mesmo, o Bo é muito mentiroso. Você também acha? O que você acha? Ei, aquilo é um monstro? Noah, aquilo é um monstro, você também está vendo? Noah, é um monstro, Noah, Noah, o que a gente faz?

     Do que raios Nico estava falando? O que Ronan e Bo tinham a ver? 

     — Foco, Lukas. – sussurrou para si mesmo. 

     De novo, a criatura saiu de cima dele para atacar os recém-chegados. Lukas respirou fundo, tentando recuperar o fôlego perdido durante a briga. 

     — Saiam daqui! – gritou correndo para o terceiro round com o monstro.

     — Vem me atacar, seu filho da puta! – Ronan disse ao mesmo tempo, atraindo a atenção do bicho novamente.

     Dessa vez, o monstro não poupou esforços para correr para Ronan, mas o instinto protetor de Lukas foi mais rápido, atirando-se entre os dois.

     A besta apoiou-se nas patas traseiras, ficando em pé e ainda mais alto, e arrastou o corpo do australiano pelo chão até a parede.

     Sentia seus ossos praticamente quebrando a cada golpe que o monstro dava, esmurrando-o contra o concreto.

     Escutou um barulho alto de vidro quebrando e viu rapidamente Tara correndo para fora da sala onde ela e Liz estavam presas.

     — Lukas! – sua noiva gritou aflita.

     — Tara... – falou sem forças.

     O ser deixou que ele caísse no chão, mas ainda tentava machucá-lo, as garras rasgando seu uniforme. Sua cabeça tombou para o lado, no tempo exato para ver Tara tirando a arma da cintura de Liz e mirando no monstro.

     Lukas fechou os olhos, apenas ouvindo o barulho dos tiros que nunca acabavam. Sabia que estava deitado numa poça de seu próprio sangue e que provavelmente não sairia dali vivo. Não queria que sua futura esposa e seus meninos vissem aquela cena, mas quem sabe os desse raiva para continuar e se salvarem.

     Era egoísta, mas Lukas preferia ir primeiro e não ter que ver as pessoas que amava perder uma guerra impossível de ser vencida.

     Ele só queria que soubessem o quanto ele os amava e se importava.

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