24. Furacão

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     Assim que desceram do telhado, o sinal ecoou, indicando o fim do almoço. Os cinco jovens pararam de andar, encarando todos os pacientes que deixavam o refeitório e partiam em direção as suas próximas atividades.

     — Nós temos mais atividades – Liz comentou, com uma expressão de nojo.

     Tara não queria fazer mais atividades, na verdade, não queria estar ali. Seus olhos não desgrudavam da nuca de Lukas – que estava alguns passos à frente – e seus lábios não superavam os do rapaz. Não sabia o que estava sentindo e se irritava por isso.

     — Estou indo para o meu quarto – anunciou, direcionando o olhar para Liz.

     — É, acho que eu... Vou... Er... Dormir – Lukas coçou a cabeça, forçando um sorriso para as garotas. Segurou o braço de Nico, que parecia confuso, puxando-o para mais perto – Vem, Nico, eu te levo para seu quarto.

     O mais novo afastou-se, arqueando uma sobrancelha e tombando a cabeça para o lado como um cachorrinho, revezando o olhar entre o loiro e a indiana.

     — Vocês se beijaram, não é? – indagou – Por que estão se afastando? Você ama ela, certo, Lukas? Vocês não vão-

      Kim não deixou o garoto terminar, puxou-o para perto de si e esbanjou um sorriso um tanto quanto ameaçador.

    — Nico, amorzinho, vamos lá em cima com seus amigos? – falou, como se conversasse com uma criança. Nico anuiu devagar, mas partiu com a garota, que recebeu um agradecimento silencioso de ambas as partes.

     Uma tensão tomou o local por alguns segundos. Tara detestava aquilo, por que estava tão estranha? Com Bo fora mais fácil, mas com Lukas... Com ele era diferente. Não era algo que sentiria por estar chapada, por querer distrair sua mente. Ele não era a distração, era o que a atormentava. Em um bom sentido, talvez.

     Se conheciam há dois anos, quando Lukas entrou no Instituto. Desde então, desenvolveram uma amizade do tipo que Tara nunca imaginou que teria um dia. Antes de entrar no Novo Éden, a garota se envolvia com pessoas não muito boas que estavam ao seu lado apenas para comprarem drogas e vandalizarem casas; não estavam lá nas vezes em que ela fugiu do trailer, nem quando um velho passou a mão em seu corpo mal amadurecido em frente ao seu pai – que riu e entornou a garrafa de cerveja.

     E então havia Lukas, que sempre se preocupava demais com tudo e todos, sempre perguntava se a garota estava bem e lhe fazia companhia mesmo quando Tara dizia não querer. Ele sabia que ela sempre queria, que ela sempre buscava alguém que pudesse acolhê-la. E ela nunca precisara dizer isso a ele.

      As duas garotas viraram as costas, partindo em direção oposta ao rapaz. Não conversavam, mas o sorriso constante de Liz deixava Tagore nos nervos. Não estava pronta para aquela conversa, mas tinha certeza de que ela viria.

...

     Liz fechou a porta atrás de si, encostando-se de forma dramática. Seu sorriso aumentou e seus olhos brilharam, levou as mãos às bochechas e arqueou as sobrancelhas.

     — Você gosta dele! – exclamou, como uma garotinha de treze anos surtando por uma banda adolescente. A mais baixa revirou os olhos, jogando-se na própria cama e abraçando o travesseiro – Você não ficou tão envergonhada com o Bo, é oficial.

     — Cala a boca! – Tara afundou o rosto no travesseiro, apertando-o com mais força e ignorando as risadas de Liz.

     A colega de quarto caminhou até a cama, sentando-se ao lado da amiga e repousando a mão em suas costas.

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