6. Eco

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     O sinal não acordou Kim, mas sim os sacolejos de Camile, uma de suas colegas de quarto, que parecia impaciente com o sono profundo da novata.

     — É segunda-feira, dorminhoca – falou, tirando as cobertas da asiática com cautela – Não vai querer se atrasar para sua primeira atividade, vai?

     — Vai? – Diane ecoou ao fundo, sentada em sua cama, já vestida com o macacão branco.

     Kim não sabia ao certo o motivo de Camile estar ali, percebera – nessas suas primeiras horas no Instituto – apenas seu T.O.C e tiques nervosos que aconteciam às vezes. Talvez já estivesse se recuperando, contara-lhe que já estava no Instituto há quatro anos. Enquanto isso, o motivo de Diane era claro: algum trauma a tornara incapaz de montar sentenças, tudo o que fazia era repetir o que lhe era dito em entonações diferentes. Camile conseguia manter uma conversa comum com a garota, enquanto para a asiática aquilo não passava de uma verdadeira loucura.

      Não lhe perguntaram sua razão e não era como se soubesse, Young-Woo não deveria estar ali. Talvez bebesse muito para alguém de dezesseis anos e fosse impulsiva e instável demais, mas isso não é comum em adolescentes? Tudo o que Kim queria era voltar para casa e pedir uma explicação para seus pais. Em um dia, tinha as malas prontas para visitar seus avós em outro continente; no outro, fora deixada por seus pais em um hospital psiquiátrico.

     — Qual é a agenda? – Kim murmurou, esfregando os olhos. Camile apanhou um papel amassado que repousava sobre o criado mudo da asiática, alisando-o com suas mãos e ajeitando os óculos para ler.

     — Terapia em grupo com outros novatos – a garota informou – Depois, pintura. Nós só vamos nos encontrar no almoço, mas podemos te levar até a sala da terapia se quiser.

     — Não vamos tomar café? – a garota resmungou, ainda sonolenta. A mais velha arqueou uma sobrancelha.

     — Se a senhorita se arrumar, teremos tempo para fazer isso – retrucou, como uma mãe irritada.

    — Tempo para fazer isso! – Diane repetiu, em uma entonação de pressa, com as mãos na barriga, como se estivesse com fome.

     Kim sorriu e se levantou, soltando um suspiro e esticando seu corpo. Seria um dia longo.

...

     Era impossível existir silêncio em um local repleto de jovens com problemas psicológicos. Todos os novatos formavam um círculo de cadeiras brancas em uma sala também branca, alguns falavam sozinhos, outros não paravam de se mover – Kim não se encaixava ali. Não tremia, não sussurrava, não tinha uma expressão furiosa e tampouco amedrontada. Apenas estava ali, deslocada, desejando estar em seu quarto de paredes irritantemente rosas.

     Nunca pensou que sentiria tanta falta daquelas malditas paredes.

     Uma mulher entrou na sala, beirava a meia-idade, mas isso não afetava seu porte atlético. Seu jaleco branco indicava ser uma médica. Sentou-se na cadeira restante do círculo, com uma prancheta em sua mão. Ela sorriu gentilmente, fazendo todos ficarem em silêncio.

     — Sejam bem vindos ao Instituto! – falou – Sou a Dra. Elle e espero que se sintam à vontade aqui. Bom, que tal as apresentações?

     Kim revirou os olhos enquanto os jovens diziam – um por um –, seus nomes, idades e diagnósticos. Quando sua vez chegou, hesitou por alguns segundos, até que Dra. Elle assentisse com a cabeça; quanto mais rápido fizesse aquilo, mais rápido acabaria.

     — Meu nome é Kim Young-Woo e tenho dezesseis anos – foi tudo o que disse. O que mais diria? Que gostava de beber? Que era impaciente? Não tinha um diagnóstico; não deveria estar ali.

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