23. Forte

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     Era como se o tempo tivesse parado.

     Todos congelados, as mãos de Liz empurrando a porta para cima, seu rosto demonstrando uma raiva que Noah não entendia, Tara e Lukas um ao lado do outro, as mãos pressionadas contra a lateral da mesa que empurravam, ambos fitando a porta destruída em cima dos amigos. Kim agachada ao lado da porta, com os olhos arregalados. Ao lado de Noah, Nico apertava seus dedos com força, encarando o corpo desacordado de Ronan no chão.

     De repente, a cena deu continuidade. Liz empurrou as pernas de Ronan, até seu corpo estar totalmente liberto e do lado seguro da porta quebrada. Com uma força assustadora, ela levantou a tábua de madeira e atirou contra o monstro parado na entrada, empurrando-o uns bons metros pelo corredor.

     Lukas e Tara correram, ele puxando o braço de Kim, para que levantasse do chão, e ela colocando a asiática atrás de si, para protegê-la.

     — Corram! – Liz gritou numa voz aterrorizante.

     Noah não conseguia se mover, estava completamente congelado, como se seus pés estivessem parafusados ao piso e todos os seus membros grudados ao seu tronco. Sentia Nico puxando seu braço, mas não era capaz de se obrigar a mover um músculo.

     Subitamente, tudo havia virado de ponta cabeça. Só conseguia ver pernas compridas cobertas pelo macacão branco do Instituto. 

     Nico o jogara por cima de seu ombro, como se Noah não fosse nada. Não era como se o pequeno irlandês pesasse muito, de qualquer jeito. 

     — Liz! O que está fazendo? – ouviu Tara gritando. 

     Podia ver os pés de Tara, que parecia estar arrastando Kim junto a ela. Lukas passara correndo, para guiar o grupo pela biblioteca, provavelmente para fora do local.

     O corpo de Ronan foi erguido do chão por braços negros musculosos, Liz. E então, um som alto de coisas caindo no chão foi ouvido. Noah teve apenas um vislumbre dos livros espalhados pelo piso e a estante tombada.

     Todos corriam o mais rápido que conseguiam, visto que todos estavam carregando alguém, fosse nos ombros ou apenas levando pela mão, como Tara fazia. Os rugidos do monstro eram abafados pelo som das estantes e cadeiras que Liz derrubava propositalmente enquanto corria.

     — Ronan, se você estiver morto, eu te ressuscito para te matar de novo. – ouviu ela murmurando.

     Um nó subiu por sua garganta, acompanhado de um aperto no peito. Ronan não podia morrer! Quem cantaria para ele e Nico a noite? Quem pensaria nos dois em momentos de emergência como esse? Lukas era ótimo, mas Ronan era diferente.

     E Noah sabia o porquê.

     Lukas não segurava sua mão embaixo da mesa. Lukas não acariciava seus cabelos quando ele tinha insônia. Lukas não arrastava os dedos timidamente pelas sardas claras que ninguém reparava que Noah tinha.

     Lukas não o beijava.

     — Tem uma saída por aqui! – ouviu o sotaque australiano de Lukas soar ofegante.

     Noah tinha que ser forte agora. Forte por Nico, forte por Ronan. 

     Não podia ser um peso morto no grupo.

     Tinha que ser forte por ele mesmo.

     — Nico. – chamou baixinho.

     Obviamente, o mais velho não o escutou.

     — Nico! – falou mais alto. – Eu estou bem.

     — T-tem c-certeza? – ele gaguejou, estava claramente cansado.

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