38. Porre

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Já acabara com restos de cinco garrafas diferentes e ninguém havia chego. Kim já estava cansada de esperar e não podia negar a leve preocupação que sentia – especialmente depois de ver Bo correr tão desesperado atrás de Ronan.

Suspirou profundamente enquanto soltava mais uma garrafa vazia sobre os lençóis emaranhados de Bo. Saiu do quarto sem estar bêbada o suficiente, caminhando pelos corredores em busca de qualquer um que pudesse lhe explicar qualquer coisa.

A verdade era que Kim sempre se sentia excluída ali. Antes de ser internada, a garota tinha amigos e festas o tempo todo, era só mandar uma mensagem de texto para qualquer um e logo estaria bêbada e cercada de pessoas. Talvez não fossem amigos de verdade – já que nunca perguntavam como ela estava ou se tudo estava bem –, mas ao menos incluíam-na em tudo.

O único que parecia gostar da asiática era Nico, que não era nada como seus antigos amigos – e isso não era ruim. O garoto poderia ser irritante em vários momentos, mas Young-Woo sabia que não era sua culpa e, por isso, não conseguia ficar brava de verdade –. Além disso, era provável que tivesse estragado tudo com o beijo que lhe dera.

Não estava apaixonada por Nico, mas sabia que não poderia simplesmente largá-lo como estava acostumada a fazer. Ele era inocente e doce, e agora Kim temia arruinar tudo. Não queria deixá-lo triste, mas não queria nada além da amizade que mantinham.

E, como se o mundo lesse sua mente, viu o cacheado virar o corredor logo atrás do pequeno ruivo. Ambos pareciam exasperados, trêmulos e exaustos, o que fez com que a garota apenas se preparasse para o monstro que estivesse os seguindo.

— Ronan, Ronan, Ronan, Ronan, Ronan, Ronan... – era tudo que Noah repetia para Kim, que pensava apenas nas piores hipóteses possíveis.

Levantou o olhar para Nico, esperando uma explicação comprida e detalhada sobre o que quer que estivesse acontecendo. Ele a fitava, mas seus olhos atravessavam-na, as lágrimas escorriam sem que soluçasse, enquanto sussurrava palavras inaudíveis.

Kim não sabia lidar com aquilo, lidar com surtos psicóticos. Agora, era ela quem estava surtando, silenciosa e secretamente.

— Ok, onde está Lukas? É ele quem lida com essas merdas que ninguém sabe lidar – ela disse, tirando seu walkie-talkie do bolso. Nico segurou seu pulso, fazendo que não com a cabeça, um soluço escapando de sua garganta.

— Lukas está morto, Kim. Ele morreu, morreu na nossa frente. Tinha um monstro. Eles mataram. Mas o Lukas morreu, morreu mesmo. E o Ronan surtou, ele quebrou tudo, tudo, tudo, tudo. Eu fiquei com medo, eu estou com medo, muito, muito medo. Levaram o Ronnie, levaram ele. Nós não sabemos para onde, todos estão tristes pelo Lukas. Eu estou triste também, eu não sei se quero achar o Ronnie. Eu estou com medo, Kim. Muito, muito, muito medo mesmo, Kim. Eu quero o Lukas de volta, eu quero, eu quero...

Ele levou as mãos ao rosto, chorando como uma criança. Noah o abraçou, ainda murmurando o nome do terceiro. Kim sempre se sentia atordoada depois de conversar com Nico, mas aquela conversa em especial lhe dera vontade de vomitar – muitas informações, rápido demais.

— Tudo bem, vamos encontrar Ronan – anunciou – Mas eu não faço a menor ideia de onde ele possa estar. Precisamos de alguém que não seja um novato...

Lukas. Ele era a pessoa perfeita. Mas estava morto. A garota revirou os olhos diante do próprio pensamento inútil, até outro invadir sua mente.

— Bo! – exclamou – É o único vivo e não afetado. Ele saiu atrás do Ronan há um tempo, deve saber onde ele está.

— Não, não, não, não, não – Nico retrucou – Eu não gosto do Bo, não gosto mesmo. Ele é muito chato, eu briguei com ele. Ele não... Espera, ele foi atrás do Ronan?! – segurou o garoto menor e olhou-o nos olhos – Noah, Noah, Noah, Noah! O Ronan está em perigo, Noah!

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