Capitulo 3

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Estou sendo levada até a enfermaria. Todos os corredores são compridos e bem iluminados. Passo por alguns espelhos e percebo o quanto sou pálida. O espelho da minha casa foi achado no lixão, ele é sujo e quebrado. Nunca pude me ver totalmente.

Tenho o queixo fino, sou extremamente magra. Meus cabelos negros como a noite e lisos (como o bolso da Mamãe) até que são bonitos. Combinam com a minha pele pálida porque eu nunca peguei sol. Meu rosto é triangular. Eu não sou feia, disso eu sei. Apenas não me arrumo muito, até porque Mamãe não tinha condições para isso.

Entro na enfermaria, e rapidamente uma jovem vem me atender. Olho em seu uniforme e está escrito "Tess Niet".

— Nossa... Como você está pálida! Estava vomitando?

— Sim – Então ela começa a anotar minha resposta. – Fiquei com ânsia na hora do Jantar e acabei colocando tudo para fora.

— Deve ser porque você passou muitos dias à base de soro e no veículo... – Ela pega um pequeno copo com um líquido rosa, põem em minhas mãos e diz. – Beba isto, vai sentir-se melhor.

— Você é Filha de quem? – Pergunto logo após engolir o remédio amargo.

— Alice e Frederic, espionagem.

— Mas você não deveria estar lá fora?

— Eu gosto mais de trabalhar aqui na enfermaria mesmo. Acho que você já deve ir para o seu quarto, o dia amanhã será longo...

— Estou cansada mesmo, eu nem me apresentei, desculpe – Levo as mãos em direção a Tess e digo – Meu nome é Vale. Vale Leão.

Então ela imita um leão rugindo e fazendo garrinhas com as mãos. Leva-me até a porta. Quando estou longe ela faz um gesto de tchau com as mãos e grita.

— Nos vemos amanhã!

Dou um sorriso singelo, e prossigo ao lado dos rapazes de cinza. Eles iniciam.

— Uma Capturada conseguiu fugir hoje cara.

— De que forma?

— Ela desmaiou na Recepção e foi levada até a enfermaria. Quando chegou lá, esperou a farmacêutica distrair-se, foi até a sala de arquivos abriu a janela e fugiu.

— Como ela conseguiu descer? A enfermaria é no andar 78, essa é ninja!

Eles riem, o elevador se abre e eu vejo os outros jovens saindo com a maior cara de satisfação do mundo do auditório.

Vou até eles, e pergunto o nome de um rapaz com cabelo encaracolado.

— Meu nome é Jonathan, mas podes me chamar de Nathan, e o seu?

— Vale – Respondo timidamente. – Nathan, para onde iremos agora?

— Vale? Que nome estranho... — Ele brinca. — Bem aquela mulher da Telectela nos pregou alguns números, o meu é 29. Cada número representa o quarto em que ficaremos.

— Mas eu não estava lá, como eu saberei meu quarto?

— Eu guardei para você, fui com a sua cara fantasminha. – Me surpreende uma menina com o cabelo curto e cheia de piercings. Pela voz reconheço que ela foi quem gritou aquelas coisas engraçadas na Bolhax. – Meu nome é Vivian, e nosso número é 36, cara você é minha colega de quarto, agora, beleza? Ah, e vou logo avisando... Eu gosto de ouvir música em volume alto.

— Obrigado, meu nome é Vale. Tudo bem, a minha irmã mais velha escutava também. Até me acostumei.

Então ela me puxa para o canto, longe das conversas e sussurra.

— Irmã mais velha? Eu também tenho uma irmã mais nova. Ela é especial. Então vim no lugar dela, fiz de tudo para os Agentes me verem e não ela. Esse é o nosso segredo, ok?

— Ok. – Respondo. Se essas pessoas descobrem isso, com certeza Vivian será penalizada.

Érika Godsvill sobe em uma cima de uma mesa e bate palmas para ganhar atenções e espalhafatosamente diz:

— Sejam vindos queridinhos, por favor. Entrem nos elevadores com a respectiva cor da sua etiqueta. Vocês serão guiados até os vossos quartos. Durmam bem, sonhem com os anjinhos!

— Queridinha é a Mãe. – Responde Vivian em voz baixa e com tom de irritação. Vivian pega o número 36 e cola em minha blusa verde, nossa etiqueta é preta.

Entramos no terceiro elevador com algumas outras pessoas. Vivian cruza seus braços com os meus e presta atenção atentamente nas palavras robóticas ditas pelo monitor com uma poltrona negra.

— Siga diretamente para o seu quarto. Lá encontrão uma muda de roupas e um relógio. No relógio vocês serão avisados de cada atividade obrigatória de um Capturado. As atividades mudam de acordo com a cor da etiqueta. O café da manhã é servido ás sete e meia da manhã. Então nada de dormir até tarde. Desejo seriamente que todos se tornem Agentes da Comissão de Planejamento, caso não consigam, temos outras funções no campo de concentração. Boa noite e durmam bem, Capturados.

A porta do elevador se abre, e Vivian procura logo o quarto. A porta já está aberta, entramos e eu vejo o quão diferente este quarto é do meu antigo sótão sujo e fedorento.

No fundo eu vejo uma janela muito grande, eu chego mais próximo ao vidro e posso enxergar a floresta que cerca a Entidade.

— Onde será que estamos?

— Sete dias de viagem, estamos bastante longe de casa. Se nós temos uma floresta próximo, provavelmente estamos no norte. Eu vim do Bairro Centríco, e você?

— Moro no Bairro de Lúcion.

— Nossa... Bem próximo. Eu tenho quinze anos, e toda madrugada eu fugia de casa sem a Mamãe saber. Até que conheci um rapaz. Ele disse que tinha irmãos e eu acabei acreditando, levei-o até a minha casa. Apresentei minha família, foi quando algumas horas depois os Agentes chegaram para me pegar.

— Qual o nome dele? Por acaso é Theo?

— Sim, como você sabe? Não me diz que és vidente.

— Não, só que esse mesmo rapaz é o responsável por eu estar aqui, presa e longe da minha família. Enganou minha irmã.

— Provavelmente ele é Filho dos Luotto, é um espião. Espionagem... É isso ai, eu já sei para onde eu vou. Ele não vai fugir tão fácil de mim.

— Nem de mim, eu vou com você.

FILHOS - [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora